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Liderança sensível impulsiona felicidade corporativa

Inclusão, liderança sensível e micro-hábitos sustentam o bem-estar corporativo

de Redação em 9 de setembro de 2025
Fernanda Dabori, CEO da Advice Comunicação Corporativa

A sobrecarga feminina deixou de ser uma questão restrita ao âmbito pessoal e se consolidou como problema estrutural, afetando diretamente o ambiente corporativo. Segundo a pesquisa Tired, Stressed and Overwhelmed, da Deloitte, 51% das mulheres relatam estar mais estressadas neste ano em comparação ao anterior. Fernanda Dabori, CEO da Advice Comunicação Corporativa, reforça esse cenário: “As doenças mentais têm crescido em todo o mundo, e em especial no Brasil, onde a mulher tem uma sobrecarga com tarefas domésticas. Isso tem reflexo direto nas companhias, que precisam apoiar essas profissionais”. 

Renato Rovina, diretor de RH do BNP Paribas

Embora brindes, salas de café e mesas de jogos ainda tenham espaço, especialistas apontam que a felicidade no trabalho nasce de práticas simples e consistentes. Pausas conscientes, reconhecimento diário e autonomia para pequenas decisões estão entre as estratégias de maior impacto. Para Renato Rovina, diretor de Recursos Humanos no BNP Paribas, “ser feliz no trabalho é encontrar atividades que proporcionam prazer, de realização. Ter bons colegas, bons gestores e sentir-se reconhecido são fatores que fazem diferença”.

Sobrecarga e desigualdade estrutural

Leandro Schulz, CEO da Líder com Alma

O papel masculino no equilíbrio de gênero também precisa ser ampliado. Leandro José Soares, fundador e CEO da Líder com Alma, ressalta: “Vivemos ainda numa sociedade muito machista e muitas organizações são masculinizadas. Nós, como homens, temos um papel fundamental, principalmente quem atua em liderança, de mudar essa realidade”. Para ele, reconhecer a segunda jornada feminina é essencial. “Estudos mostram que a mulher se dedica 20 horas semanais em dupla jornada, enquanto o homem dedica 10. Qual gestor realmente pergunta como suas colaboradoras estão se sentindo?”, questiona.

A necessidade de treinar lideranças para lidar com desigualdades e fatores de risco psicossociais é cada vez mais evidente. Segundo Soares, gestores devem ser preparados para identificar sinais de sobrecarga, burnout e preconceitos ainda presentes na cultura organizacional. “As lideranças precisam intervir de forma eficaz, criando uma cultura de segurança emocional. O ambiente de trabalho deve ser pautado na escuta ativa e no respeito às diferenças, para que homens e mulheres possam prosperar”, complementa o executivo. 

Beatriz Imenes, vice-presidente da Planin

O caminho para as mulheres que desejam cargos de liderança é marcado por obstáculos adicionais. Beatriz Imenes, vice-presidente da Planin, explica “que as mulheres precisam ultrapassar desafios muito maiores que os homens, enfrentando estereótipos de TPM, cansaço ou desvalorização. Muitas vezes não somos levadas a sério, e isso gera riscos claros de burnout e ansiedade”. Ela alerta ainda para as consequências de ambientes sem acolhimento. “Nossa carreira pode ser interrompida se não houver apoio”, adverte.  

A falta de flexibilidade nas empresas ainda resulta em perda de talentos. “Vejo muitos talentos femininos sendo perdidos porque não conseguem equilibrar esse desafio de ser profissional, mãe e mulher”, critica Beatriz. Na Planin predominam sócias mulheres e práticas de acolhimento foram estruturadas. “O ambiente sustentável é a melhor prática. Além disso, programas de saúde física e mental contribuem para manter a equipe engajada e produtiva”, acrescenta.

Micro-hábitos e felicidade cotidiana

Geraldo S. Netto, diretor de Capital Humano da Arcor do Brasil

Para Rovina, a felicidade no trabalho deve ser integrada ao bem-estar pessoal. “Não adianta ser feliz no trabalho e infeliz na família ou na saúde. É preciso ter senso de realização, propósito e prazer em contar o que se faz. Trabalhar não pode ser sinônimo de sofrimento”, reflete. O executivo defende que cada colaborador busque autoconhecimento para identificar o tipo de gestão com que melhor se relaciona e que líderes ofereçam reconhecimento contínuo. “Um simples tapinha nas costas já faz diferença”. 

O tema do reconhecimento também é apontado por Geraldo S. Netto, diretor de Capital Humano da Arcor do Brasil. Para ele, “construir uma empresa capaz de dar a melhor opção para as pessoas, e não a única, é papel central do RH”. Ele lembra práticas simbólicas, como homenagens a tempo de casa, que ajudam a reforçar vínculos. “Hoje, temos programas de reconhecimento para 1, 3 e 5 anos de empresa, pois os ciclos de carreira mudaram. Para as pessoas, mais importante do que a longevidade é ter marcos de valorização”, relata. 

Aline Brito, coordenadora de Comunicação e Cultura da Techware

Na visão de Netto, o salário emocional vai além de valores monetários. “Recompensa tem valor monetário, mas reconhecimento não. Pausas para cafés, momentos de descontração e integração das equipes são estratégias que reforçam o pertencimento”, afirma. “O que vale mais? Uma pessoa presente e improdutiva ou alguém que, após momentos de descontração, entrega acima da média?”, questiona. O executivo considera que os líderes devem observar esses detalhes e promover equilíbrio.  

Na Techware, o olhar também se volta para práticas cotidianas. Aline Brito, coordenadora de Comunicação e Cultura, destaca que ouvir os colaboradores foi essencial. “Tínhamos várias ações de reconhecimento que achávamos excelentes, mas os funcionários apontaram a necessidade de mudanças. Reformulamos, por exemplo, a valorização por tempo de casa, estendendo para quem tem menos tempo de empresa”, enfatiza. Para ela, sair de ações pontuais e construir micro-hábitos consistentes é o verdadeiro caminho.

Escuta ativa e liderança humanizada

Aline lembra que a escuta ativa foi fundamental para ajustar práticas internas. “Só com ouvidos e mente abertas conseguimos compreender o que precisava ser mudado. Essa postura evita desperdícios e aproxima a empresa das necessidades reais do time”. Ela também defende que a felicidade é uma busca individual, mas que cabe às empresas criar espaço para que cada um defina o que lhe traz realização.

Outro ponto levantado por Aline é a necessidade de atenção às lideranças. “Quem cuida de quem cuida? O gestor também precisa de apoio, engajamento e propósito”, afirma. Para ela, formar líderes capazes de inspirar e de construir bem-estar coletivo é o maior desafio. “Gestores atuam em níveis estratégicos e operacionais e têm responsabilidades diferentes. É preciso olhar para eles de forma diferenciada”, aponta.

As falas dos especialistas revelam que a cultura organizacional precisa de ajustes constantes. A sobrecarga feminina, a masculinização das empresas e a falta de reconhecimento não são apenas questões individuais, mas estruturais. Como reforça Fernanda Dabori, “os novos líderes buscam empatia e comunicação, favorecendo apoio às mulheres sobrecarregadas”. Essa mudança de mentalidade é o que sustenta transformações mais amplas.

A busca pela felicidade não pode ser isolada do contexto pessoal. Netto lembra que o equilíbrio precisa ser global. “Para ser feliz não basta só no trabalho ou só na vida pessoal. As empresas precisam reconhecer esse todo”. Essa perspectiva amplia o papel do RH, que deixa de ser apenas área de suporte e passa a ser guardião da experiência humana dentro das organizações.

Bem-estar como investimento estratégico

Elementos como transparência, confiança e consistência de hábitos cotidianos emergem como os grandes construtores da satisfação no trabalho. Reconhecimento diário, pausas conscientes e liberdade para pequenas decisões podem parecer simples, mas são estratégias que, repetidas, criam ambientes mais saudáveis e produtivos.

Empresas que desenvolvem lideranças empáticas tendem a se destacar no mercado. “A cultura de segurança emocional e o acolhimento são diferenciais competitivos”, afirma Beatriz Imenes. “Sem isso, talentos se perdem e trajetórias são interrompidas.” O impacto vai além do engajamento: influencia diretamente a reputação da marca empregadora.

Dados da McKinsey indicam que 33% das brasileiras apresentam sintomas de burnout, e muitas mulheres em cargos de liderança pedem demissão por exaustão, e não por ambição. Esse dado reforça a urgência de repensar estratégias. “Se não olharmos para esses sinais, continuaremos perdendo talentos valiosos”, adverte Fernanda.

As empresas que incorporam práticas de bem-estar não apenas aumentam a produtividade, mas também fortalecem sua sustentabilidade de longo prazo. “O ambiente sustentável é a melhor prática, porque une saúde, acolhimento e engajamento”, conclui Beatriz. Ao equilibrar vida pessoal e trabalho, organizações constroem não apenas resultados financeiros, mas também sociedades mais humanas e justas.

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