Desde os primórdios da mecanização dos setores produtivos, a relação entre tecnologia e trabalho vem gerando uma tensão constante: o medo da substituição versus a esperança de progresso. A cada nova revolução tecnológica, trabalhadores se veem diante de um dilema — adaptar-se ou ficar para trás. Com a chegada da inteligência artificial, esse debate ganha novos contornos e se torna ainda mais urgente.
A ascensão da inteligência artificial tem provocado inquietações legítimas sobre o futuro do trabalho. Dados do Fórum Econômico Mundial revelam que essa revolução tecnológica pode eliminar cerca de 87 milhões de empregos em todo o mundo. À primeira vista, esse número assusta — e com razão. Afinal, estamos falando de milhões de pessoas que poderão ver suas funções substituídas por algoritmos e máquinas inteligentes.
No entanto, o mesmo estudo aponta que a IA também deve criar aproximadamente 97 milhões de novas vagas. Entre as principais áreas que devem criar novos empregos estão desenvolvimento de sistemas inteligentes, análise de dados e design de produtos. Ou seja, o saldo pode ser positivo — mas apenas se estivermos preparados para essa transição.
Pesquisa da Organização Mundial do Trabalho aponta que cerca de 25% dos profissionais atuam em áreas com algum nível de exposição à substituição por inteligência artificial regenerativa. No entanto, o estudo também revela que apenas 3,3% dos empregos globais estão classificados no grau mais alto de vulnerabilidade. Isso indica que, embora a transformação seja real, ela não representa uma ameaça generalizada. Pelo contrário, trata-se de uma oportunidade estratégica para redirecionar talentos. Investir em capacitação e estimular o crescimento em setores que estão se expandindo justamente por causa da IA são algumas das estratégias a se adotar.
Em resumo, a verdade é que qualquer previsão é prematura. Ainda não é possível prever se a situação piorará antes de melhorar, se o saldo será positivo ou acentuará tensões sociais. Já surgem movimentos de demissões em massa em Big Techs, mesmo que pontuais, especialmente em países com impacto avançado da IA.
Gestão de Pessoas mais eficiente e otimizada pela tecnologia
A incorporação da inteligência artificial no setor de Recursos Humanos representa uma verdadeira virada de chave na forma como as empresas gerenciam pessoas. Ao automatizar triagem de currículos e atendimentos por chatbots, a IA libera o RH para focar em cultura, desenvolvimento organizacional e planejamento de talentos.
No recrutamento e seleção, a IA se mostra uma aliada poderosa. Com algoritmos capazes de analisar perfis com precisão, ela identifica competências e experiências que se alinham melhor às necessidades da empresa. Dessa forma, o processo se torna mais ágil, eficiente e assertivo. Isso não apenas reduz o tempo de contratação, como também aumenta a qualidade das escolhas. Na Schindler, já iniciamos a utilizar esses agentes em nossa rotina.
Na gestão de talentos, sistemas inteligentes ajudam a mapear riscos de rotatividade, identificar oportunidades de crescimento interno e personalizar estratégias de retenção. O resultado é uma abordagem mais proativa e eficaz na valorização das pessoas.
Na experiência do colaborador, chatbots tornam-se canais rápidos e acessíveis para esclarecer dúvidas, orientar políticas internas e oferecer suporte diário. Essa automação melhora a comunicação interna e contribui para um ambiente mais transparente e acolhedor.
Em suma, a inteligência artificial não substitui o fator humano — ela o potencializa. Ao assumir tarefas repetitivas e fornecer dados relevantes, a IA permite que o RH se concentre no que realmente importa: construir uma força de trabalho engajada, preparada e alinhada aos objetivos da organização.
Adaptar para avançar
A questão central não é se a inteligência artificial vai mudar o mercado de trabalho, mas como vamos nos adaptar a essa mudança. A criação de novos empregos não garante automaticamente que os trabalhadores afetados terão acesso a essas oportunidades.
É crucial que as empresas, governos e especialistas se debrucem sobre os possíveis desdobramentos futuros. A questão não é se a IA reduzirá postos de trabalho mas quando. Assim, refletir sobre como utilizar a IA como parceiro — e não como ferramenta — em atividades em que o ser humano detém a expertise para decisão e torná-las ainda mais poderosas.
Portanto, é preciso investir — literalmente agora — em letramento tecnológico, capacitação e políticas públicas que promovam uma transição justa.
Até lá, Recursos Humanos deve aprofundar-se no tema, definir linhas de atuação e acompanhar o avanço da tecnologia, evitando a ansiedade corporativa e social.
A inteligência artificial não precisa ser encarada como uma ameaça inevitável. Ela pode ser uma aliada poderosa na construção de um mercado mais eficiente, inovador e inclusivo. Mas isso exige ação — e como mencionado acima — exige agora.