O absenteísmo é um dos principais desafios da gestão de pessoas no Brasil. Por anos, a validação de atestados médicos foi a base da administração das ausências. Mas diante do aumento das fraudes e da pressão por produtividade, empresas buscam novas formas de agir, apostando em tecnologia, acolhimento e engajamento como pilares de transformação.
Contexto do absenteísmo no Brasil
Por muito tempo, a gestão da saúde corporativa se limitou à validação de atestados e afastamentos. Mas essa abordagem reativa já não é suficiente para sustentar a produtividade e o bem-estar dos colaboradores. Segundo a OIT e a FGV, a taxa média considerada aceitável gira em torno de 4%. No setor de serviços, o índice chega a 5%, enquanto no varejo pode atingir entre 7% e 10%.
A situação se agrava quando se considera o presenteísmo: pesquisas da Harvard Business Review indicam que os custos de colaboradores presentes, mas improdutivos, podem ser até três vezes maiores que os do absenteísmo. Outro indicador relevante é o tempo médio de retorno às funções, essencial para avaliar reintegração e prevenir reincidências. Esses dados mostram por que a saúde corporativa deve ser encarada como pilar estratégico, e não apenas como obrigação legal.
Tecnologia como aliada contra fraudes

A digitalização dos processos de saúde corporativa representa uma das respostas mais eficazes ao problema do absenteísmo e das fraudes médicas.
Michel Cabral, CEO da Vixting, afirma que “com sistemas digitais, o RH deixa de ser reativo e ganha protagonismo estratégico”.
Segundo o executivo, acompanhar reincidências, tempo de afastamento e indicadores emocionais permite agir de forma preventiva, reduzindo riscos e fortalecendo a confiança. “Se o RH ficar preso apenas a papéis, vira cartório”, alerta Cabral, reforçando a necessidade de gestão estratégica e integrada.
Acolhimento e programas de saúde mental

Na Eldorado Brasil, os programas de saúde e bem-estar mostraram que acolhimento e empatia podem gerar bons resultados na redução de afastamentos.
A médica da área de Saúde e Bem-Estar da produtora de celulose, Lara Trevisan, destaca que “validar atestados não resolve questões emocionais profundas; é preciso escuta ativa e humanização no cuidado”.
O programa Cuidadosamente, instituído na empresa, reduziu em 39% os dias de afastamento em um ano, evidenciando o impacto da escuta qualificada. “Quando o colaborador sente que está sendo realmente acolhido, não há espaço para desconfiança”, reforça Lara, destacando a importância da confiança.
O olhar financeiro sobre o absenteísmo

Outro ponto relevante está na integração da saúde com a gestão financeira das empresas, ampliando o olhar sobre o capital humano.
Eduardo Ricci, CFO da Biz, explica que “o absenteísmo gera custos diretos e prejudica a receita, impactando resultados de forma imediata”. O executivo financeiro ressalta que “não se deve olhar para os colaboradores como um custo, mas como ativos estratégicos”.
Benefícios flexíveis e maior personalização contribuem para reduzir ausências e fortalecer a satisfação e a permanência dos profissionais. “Combater a falsificação de atestados é essencial, pois representa um risco financeiro claro”, alerta Ricci, mencionando prejuízos diretos, perda de produtividade e potenciais custos jurídicos.
Absenteísmo em números • Taxa média aceitável de absenteísmo: 4%. • Setor de serviços: cerca de 5% de absenteísmo. • Setor de varejo: entre 7% e 10%. • Custos do presenteísmo: até três vezes maiores que os do absenteísmo |