O primeiro dia do 4º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação mostrou que a cooperação é o caminho para transformar discurso em prática, conectando propósito, bem-estar e governança em uma mesma agenda estratégica. Ao longo de seis painéis, líderes de grandes empresas brasileiras compartilharam experiências concretas que mostram como o ESG se consolida como cultura viva nas organizações — uma jornada sustentada por métricas, empatia e ações colaborativas.
Cooperar pelo futuro

Charmoniks Heuer, gerente de RH da Rede Condor, destacou que a integração dos valores ESG à cultura corporativa exige diálogo e coerência entre discurso e prática. Segundo ela, empresas familiares enfrentam o desafio adicional de alinhar propósito e tradição com novas demandas sociais. A líder ressaltou a importância de treinamentos e programas de voluntariado como meios de internalizar a sustentabilidade, ampliando a consciência coletiva. Charmoniks reforçou que mudar a cultura organizacional requer tempo, clareza e comunicação empática, sobretudo em estruturas descentralizadas e com equipes diversas, quando o ESG precisa permear decisões cotidianas.
Andrea Oliveira de Souza, gerente global de T&D da Votorantim Cimentos, explicou como a companhia tornou o ESG transversal à sua gestão. A área de diversidade e desenvolvimento organizacional está integrada à estratégia global de sustentabilidade, com metas para 2030 e foco na descarbonização. Ela citou as trilhas de desenvolvimento inclusivas e a disseminação de valores por meio de capacitações regionais. Dada a presença internacional da Votorantim, Andrea ressaltou a necessidade de adaptar práticas às realidades locais sem perder coerência estratégica. “O ESG deixou de ser uma área, tornando-se um valor que guia nossas decisões diárias”, afirmou.
Almiro dos Reis Neto, presidente da Franquality, lembrou que o fator humano é determinante para o sucesso da transformação cultural. Engenheiro de formação, ele observou que a cultura organizacional precisa ser trabalhada com sensibilidade, respeitando as especificidades de cada negócio. Para Almiro, o maior desafio está em evitar a simples “cópia” de modelos externos, privilegiando soluções adequadas ao contexto brasileiro. “Cada empresa tem sua identidade, e o papel da liderança é traduzir o ESG em comportamentos reais”, concluiu, reforçando o papel do RH como mediador de mudança.
Discurso posto em prática

Daniel Forastieri, vice-presidente de Recursos Humanos na Novelis, afirmou que o RH deve reduzir o abismo entre o discurso corporativo e a percepção dos colaboradores. Segundo ele, a coerência cultural é o maior indicador de credibilidade. O executivo defendeu que o ESG precisa ser sustentado por métricas objetivas, capazes de chegar ao conselho e orientar decisões. “Não basta comunicar bem-estar, é preciso medi-lo e levá-lo à mesa do CEO”, disse. Ele destacou a importância de líderes humanizados e consistentes, capazes de representar os valores organizacionais também fora das vitrines corporativas.
Danila Cardoso, diretora de Pessoas na Motiva, relatou que a empresa aposta em reskilling e democratização da educação como práticas centrais de sustentabilidade social. O programa Acelerando Competências requalificou mais de 120 colaboradores e promoveu 60% deles para novas funções. A executiva ressaltou o papel da liderança empática no enfrentamento de desafios tecnológicos e destacou que o aprendizado contínuo é o verdadeiro elo entre propósito e prática. Para ela, colocar o ser humano no centro da transformação garante legitimidade ao discurso de inovação e amplia o engajamento nas mudanças.
Adriana Cohen, líder de Total Rewards para a América Latina na Alstom, apresentou o programa Moove, que conecta saúde, vida e propósito. A iniciativa, nascida na América Latina, expandiu-se para a América do Norte e já recebeu prêmios de inovação em bem-estar corporativo. Ela destacou que equilíbrio emocional e engajamento social são pilares estratégicos da empresa. “Cuidar do colaborador é cuidar do negócio”, afirmou, ressaltando a importância de programas integrados que relacionam desempenho, pertencimento e sustentabilidade.
Quem é o dono?

Ana Paula Maniá da Matta, gerente de Sustentabilidade no Grupo HDI, contou como estruturou do zero a área de ESG da seguradora. O desafio começou com a necessidade de atender 293 indicadores regulatórios europeus. A partir daí, a companhia mapeou cada área responsável e criou um sistema de governança compartilhada. “O ESG é responsabilidade de todos. Cada colaborador é dono de parte dos indicadores”, explicou. Ana reforçou que a sustentabilidade corporativa só ganha credibilidade quando há transparência de dados e corresponsabilidade entre áreas.
Dani Plesnik, executiva de RH, complementou defendendo o conceito de accountability como base da cultura ESG. Para ela, o engajamento real nasce da autorresponsabilidade e do letramento de dados, para que todos compreendam o impacto de suas ações. “Relatório bom nasce de dado bom”, disse. Dani criticou a fragmentação entre departamentos e defendeu uma visão integrada de sustentabilidade. Segundo ela, as empresas precisam transformar informação em consciência — e consciência em prática — para que a agenda ESG seja vivida, e não apenas reportada.
Sergio Amad, CEO da fiter, provocou a plateia com a pergunta que batizou o painel: Quem é o dono do ESG? O executivo destacou que, assim como os relatórios financeiros, os dados de sustentabilidade precisam de governança, rastreabilidade e verdade. Ele defendeu que o ESG só gera valor quando está ligado à perenidade dos negócios e à confiança dos stakeholders. “ESG é economia, é ética e é futuro”, resumiu. Para Sérgio, o desafio das empresas está em construir sistemas de gestão que unam propósito e performance, garantindo credibilidade perante investidores e sociedade.
O desafio de mudar

Simone Beier, executiva de RH, mediou o painel lembrando que a mudança organizacional começa na postura individual. Ela destacou que coerência entre discurso e comportamento é a base de qualquer transformação cultural. “Não existe ESG sem exemplo”, afirmou. Para Simone, a liderança precisa inspirar pela ação, e não apenas pela narrativa. O autoconhecimento e a empatia são, em sua visão, motores de uma liderança mais humana e sustentável, capaz de transformar o ambiente de trabalho em espaço de aprendizado e propósito.
Antonio Linhares, executivo de RH e conselheiro, defendeu que a coerência pode ser mensurada. Ele sugeriu atrelar metas de ESG a indicadores variáveis e programas de reconhecimento, como forma de incentivar comportamentos sustentáveis. Linhares mencionou que as empresas precisam criar “gates de coerência” em promoções e bônus, para garantir autenticidade. “Cultura se traduz em microcomportamentos diários”, disse. Ele defende o uso de people analytics para medir o alinhamento entre valores e práticas, fortalecendo o compromisso coletivo com a mudança.
Rodrigo Dib, superintendente institucional do CIEE, reforçou que o líder de hoje precisa ser mais humano, próximo e autêntico. Para ele, o fim da separação entre o “eu pessoal” e o “eu profissional” exige coerência em todos os contextos. “O colaborador precisa sentir que trabalha com alguém verdadeiro”, explicou. Rodrigo ressaltou que a personalização da liderança e o olhar individualizado são essenciais para engajar novas gerações e acelerar transformações culturais.
Saúde mental como risco

Emilio Poffo Neto, gerente de RH na Eldorado Brasil Celulose, apresentou o programa Cuidadosamente, voltado à prevenção e tratamento de transtornos mentais. A iniciativa reduziu em 60% os afastamentos por questões psicológicas em apenas um ano e meio. Segundo o executivo, o segredo está em capacitar líderes para identificar sinais de sofrimento e acolher colaboradores de forma humanizada. “A saúde mental é um ativo estratégico, não um custo”, destacou, apontando o impacto positivo sobre produtividade e engajamento.
Carolina Pires, líder de Relações Trabalhistas na Alstom, explicou como a empresa estruturou o programa Hello, que oferece atendimento psicológico, jurídico e financeiro 24 horas. Ela destacou a parceria com a Zenklub e o foco em reduzir absenteísmo e presenteísmo. Carolina defendeu que o cuidado com o colaborador começa antes mesmo da contratação, com avaliações admissionais mais humanas e acompanhamento contínuo. “Burnout não acontece de um dia para o outro. É preciso olhar o colaborador de forma integral”, alertou.
Beatriz Imenes, CEO da Planin, mediou o debate enfatizando que a comunicação é ferramenta essencial na saúde corporativa. Para ela, falar sobre sofrimento psicológico com transparência reduz o estigma e fortalece a confiança. Beatriz destacou que a saúde mental é uma dimensão estratégica do ESG, pois envolve bem-estar, produtividade e governança ética. “Cuidar de pessoas é também cuidar da reputação e da sustentabilidade da empresa”, concluiu.
Cooperação da porta pra fora

Rafael Jaworski, diretor de Gente e Gestão do Grupo Romitex, ressaltou que não existe responsabilidade social autêntica sem coerência interna. Para ele, o colaborador é o primeiro público a sentir os valores da empresa. “Se o bem-estar não acontece dentro, não há credibilidade fora”, disse. Jaworski destacou a importância do voluntariado corporativo, relatando ações em lares de idosos e instituições sociais que fortalecem vínculos comunitários e senso de propósito coletivo.
Jéssica Trevisam, gerente do Instituto Motiva, mostrou o impacto da atuação social estruturada. A empresa, que administra rodovias e aeroportos, investiu R$ 450 milhões em projetos sociais, beneficiando 500 cidades e lançando uma nova estratégia com investimento de R$ 1 bilhão até 2035. Jéssica explicou que o Instituto Motiva realiza diagnósticos territoriais, escuta comunidades e mobiliza 3 mil voluntários entre os 16 mil colaboradores. “As empresas precisam pertencer ao território, não apenas habitá-lo”, afirmou.
Cristina Iglecio, sócia da Kubix Estratégia e Comunicação, encerrou o painel destacando o papel da comunicação corporativa como ponte entre propósito e impacto. Ela observou que a narrativa ESG só é legítima quando sustentada por ações concretas. “O colaborador é quem conta a verdadeira história da marca”, disse. Para Cristina, o futuro da comunicação está em engajar, escutar e devolver valor à sociedade, tornando a cooperação o eixo central da reputação empresarial.
O vídeo dos painéis do primeiro dia do 4º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação já está disponível no canal da Plataforma Melhor RH no YouTube.
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