O ESG e a sustentabilidade só se consolidam quando deixam de ser pauta de campanhas e passam a integrar o cotidiano corporativo. A comunicação interna exerce papel estratégico nesse processo, traduzindo valores em atitudes e fortalecendo a coerência entre discurso e prática. A sustentabilidade precisa ser vivida, percebida e compreendida por todos os níveis da organização.
A comunicação é a ponte entre propósito e comportamento. É ela que garante que valores institucionais se transformem em ações concretas e consistentes. Quando o colaborador entende o impacto de suas escolhas diárias, o discurso de sustentabilidade ganha credibilidade e o engajamento se torna espontâneo.
Mais do que informar, comunicar é educar. As organizações que investem em canais internos eficazes conseguem criar uma linguagem comum de propósito. Essa linguagem, quando compartilhada por líderes e equipes, constrói pertencimento e transforma o ESG em prática cotidiana. Cada conversa, e-mail ou campanha se torna uma oportunidade de gerar consciência e inspirar atitudes sustentáveis.
Bem-estar e produtividade caminham juntos

Para Adriana Cohen, líder de Total Rewards para a América Latina na Alstom, qualidade de vida não pode existir apenas no discurso. “Questões de saúde exigem que o colaborador sinta os benefícios de forma objetiva”, explica. Ela cita estudo da Universidade de Oxford que comprovou: empresas com alto índice de bem-estar superam os resultados do mercado.
“Em contrapartida, apenas 22% dos trabalhadores se sentem realmente bem com sua rotina de trabalho”, afirma. Dados da World Happiness Foundation mostram que funcionários felizes são 14% mais produtivos e têm menor propensão a se desligar. “Na Alstom, tratamos o colaborador de forma holística, considerando saúde, relacionamentos e conexão com o mundo. Isso inclui ações sociais e práticas de sustentabilidade que reforçam nosso propósito.”
Adriana destaca que os benefícios de um ambiente saudável extrapolam a produtividade. “Um colaborador equilibrado toma decisões mais conscientes e constrói relações mais empáticas. Isso reverbera na liderança, no clima e na reputação da marca. As empresas precisam compreender que saúde e sustentabilidade são dimensões inseparáveis da performance.”
Cultura coerente e liderança humanizada

Daniel Forastieri, vice-presidente de RH da Novelis, destaca que muitas empresas falam sobre saúde e sustentabilidade, mas ainda existe um grande hiato entre discurso e percepção interna. “Há uma distância enorme entre o que a empresa diz e o que os colaboradores realmente sentem”, observa.
Ele defende que a comunicação interna precisa apoiar a liderança nesse processo. “Cultura coerente não se terceiriza. É construí-la todos os dias, nas conversas de bastidor e nas decisões cotidianas”. Daniel resume os pilares dessa coerência em três frentes: “Primeiro, cultura coerente; segundo, métricas claras e indicadores de bem-estar; e terceiro, liderança como espelho. Não é o que falamos, é o que fazemos.”
Segundo o executivo, líderes coerentes inspiram confiança e garantem credibilidade à cultura corporativa. “Quando alinha-se as atitudes ao discurso, o colaborador reconhece o valor da empresa e se engaja de forma genuína. Coerência cultural é o maior ativo de reputação que uma organização pode construir.”
Liderança movida por propósito

Na Motiva, o propósito também é o ponto de partida da cultura sustentável. Danila Cardoso, diretora de Pessoas, lembra que a empresa “não é feita apenas de asfalto, e sim de pessoas”. Segundo ela, o propósito organizacional precisa ser tangível. “Colocamos em prática campanhas internas de conscientização e capacitação, para garantir que nossos discursos se tornem hábitos.”
A executiva acredita que a liderança moderna precisa ser humana, tecnológica e sustentável. Ela cita uma pesquisa da revista Forbes, que revela: a liderança influencia a saúde mental dos colaboradores na mesma proporção que um parceiro ou cônjuge. “Cuidar das pessoas é o primeiro passo para construir organizações mais equilibradas e produtivas.”
Para Danila, propósito é ação, não retórica. “As pessoas observam o comportamento dos líderes mais do que suas falas. Quando o propósito orienta as decisões, o engajamento é natural. E quando se compartilha o propósito, ele se torna o DNA vivo da organização.”
Likes não garantem legado

Para Helena Prado, presidente executiva e sócia-fundadora da Pine PR, engajamento digital não é sinônimo de engajamento real. “O like não sustenta legado. O que realmente importa é o que as pessoas vivenciam no dia a dia”, afirma. Ela alerta que as métricas de vaidade — curtidas e visualizações — podem mascarar a percepção verdadeira do clima organizacional.
“É preciso garantir que o discurso de ESG não vire apenas storytelling, mas uma vivência autêntica dentro da empresa”, reforça. Helena acredita que marca empregadora se constrói com coerência e pertencimento. “A melhor marca é o ambiente em que as pessoas gostam de trabalhar juntas. E nisso, RH e Comunicação Interna têm papéis complementares e decisivos.”
Helena acrescenta que as empresas precisam olhar para o engajamento sob uma ótica mais humana. “Os algoritmos mudam todos os dias, mas o comportamento das pessoas é movido por significado. Quando o colaborador percebe que faz parte de algo verdadeiro, ele se torna embaixador natural da marca. A autenticidade é a métrica mais poderosa da comunicação.”
Transição energética e comunicação de propósito

Na Petrobras, a comunicação interna é essencial para traduzir a transição energética em uma narrativa de propósito. Bruno Borges Sciammarella, gerente de Campanhas e Programas de Relacionamento com o Público Interno, explica que a empresa vive o desafio de transformar uma gigante do petróleo em referência em energia sustentável.
“A transição energética envolve redução de emissões, promoção da acessibilidade à energia e fomento do desenvolvimento socioeconômico inclusivo”, afirma. “Nossa comunicação ajuda a explicar essa jornada de mudança, mostrando que sustentabilidade e segurança energética caminham juntas.” Ele reforça que o objetivo é garantir que colaboradores compreendam o papel de cada área nesse processo. “Precisamos comunicar com consciência e coerência, para que entender o futuro sustentável como uma construção coletiva.”
Segundo Sciammarella, comunicar a transição é também reconhecer o passado. “A Petrobras nasceu com o compromisso de garantir energia ao País. Agora, nosso papel é garantir energia limpa para o futuro. O que não muda é o senso de responsabilidade. A comunicação interna dá vida a esse compromisso e mostra que as pessoas fazem a transformação.”
Atitudes que sustentam a coerência

Elizeo Karkoski, diretor executivo da P3K Comunicação, reforça que “discursos bonitos não bastam; o que importa são as atitudes”. Para ele, engajamento genuíno nasce de ações consistentes, não de campanhas passageiras. “Existem ingredientes que conectam e engajam, mas o principal é a coerência. As pessoas precisam perceber que o que se fala é o que se pratica.”
Karkoski cita uma pesquisa recente: 65% dos jovens desejam trabalhar em empresas comprometidas com o meio ambiente, mas apenas 3% dos executivos dizem que sustentabilidade faz parte das estratégias. “Esse abismo mostra o tamanho do desafio. A comunicação interna pode — e deve — reduzir essa distância, ajudando a transformar discurso em ação estratégica.”
O executivo acredita que coerência é o que diferencia empresas admiradas de empresas apenas conhecidas. “As organizações que sustentam seus valores por meio de atitudes transparentes são as que constroem legados duradouros. O colaborador acredita no que vê e não no que lê em murais.”
ESG como espelho da cultura organizacional

Para José Luís Ovando, sócio-diretor de Estratégia e Atendimento na Supera Comunicação, o ESG é um reflexo direto da cultura corporativa. “Vivemos um momento de reflexão. É preciso observar se o ESG está realmente no DNA das empresas ou se virou apenas uma agenda pontual”, avalia.
Ele alerta que algumas organizações ainda tratam o tema de forma superficial. “Para evitar retrocessos, precisamos garantir três coisas: mudança cultural real, compromissos institucionais estratégicos e investimento contínuo”. Segundo Ovando, a cultura sustentável nasce quando todos compreendem o impacto das próprias decisões. “Sem envolvimento coletivo, o ESG corre o risco de se tornar uma narrativa vazia.”
Ovando enfatiza que o papel do RH e da Comunicação é fazer o ESG ser sentido, e não apenas entendido. “Quando os colaboradores percebem que as decisões refletem valores, eles passam a se engajar naturalmente. Cultura não se impõe, se vive. E o papel da comunicação é justamente dar voz a essa vivência.”
Os temas e reflexões abordados nesta reportagem também estiveram em destaque no 4º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação, que reuniu executivos e especialistas para discutir como a coerência entre discurso e prática se tornou o verdadeiro alicerce da cultura sustentável. O evento reforçou que a comunicação interna é o elo que transforma valores em atitudes, unindo propósito, engajamento e impacto real nas empresas brasileiras.
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