No dia 3 de dezembro foi celebrado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Contudo, a inclusão produtiva de pessoas com deficiência ainda enfrenta barreiras estruturais que limitam tanto o acesso quanto o crescimento profissional em diferentes setores brasileiros. Entretanto, algumas lideranças mostram que iniciativas intencionais conseguem impulsionar mudanças profundas que transformam culturas corporativas.
Elas defendem que a inclusão deixa de ser burocracia quando se converte em estratégia capaz de orientar decisões, práticas e investimentos organizacionais. Portanto, transformar discursos em ações efetivas exige vontade política das empresas, preparação das equipes e construção de caminhos reais para desenvolvimento profissional.
Quando a inclusão vira compromisso real

letramento coletivo e revisão de
vieses inconscientes”
Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir, reforça que o maior desafio atual envolve transformar inclusão produtiva em estratégia que ultrapassa contratações obrigatórias estabelecidas pela legislação. Apesar disso, muitas empresas ainda tratam esse tema como simples cumprimento de cotas, reduzindo oportunidades reais de crescimento profissional. Além disso, ela destaca dados que revelam estagnação preocupante nas carreiras de pessoas com deficiência.
Ela explica que inclusão genuína depende de quatro pilares estruturantes que orientam decisões corporativas de maneira contundente e contínua. “Primeiramente, estratégia define metas claras relacionadas a contratações e promoções, garantindo intencionalidade nas práticas inclusivas. Contudo, cultura exige letramento coletivo e revisão de vieses inconscientes que impactam diretamente trajetórias profissionais diversas”, detalha.
Carolina reforça que acessibilidade precisa incorporar dimensões arquitetônicas, digitais e atitudinais que influenciam vivências diárias dentro das organizações. “Ao mesmo tempo, carreira envolve mentoria, capacitação e acompanhamento emocional que sustentam desenvolvimento contínuo. Dessa forma, ela defende que impacto real só aparece quando empresas medem indicadores completos, indo muito além de números ligados às contratações.”
Redes que aproximam quem contrata e quem busca oportunidades

pessoas após contratação exige
ambiente acolhedor”
Cláudia Buzzette Calais, diretora-executiva da Fundação Bunge, afirma que iniciativas territoriais tornam inclusão mais efetiva devido à articulação colaborativa entre setores diversos. Embora o objetivo inicial fosse incentivar cumprimento de duas legislações essenciais, a iniciativa evoluiu rapidamente para criação de redes sociais robustas. Assim, o projeto passou a conectar candidatos preparados a vagas adequadas.
Ela explica que o trabalho envolve orientar jovens e pessoas com deficiência para processos seletivos que valorizem competências reais identificadas durante formações específicas. “Além disso, o projeto estimula diálogo transparente com empresas interessadas, mostrando que diversidade fortalece desempenho coletivo e amplia perspectivas profissionais”, reforça. Ademais, ela reforça que mudança cultural interna precisa acompanhar contratações para garantir pertencimento sustentável.
Cláudia destaca que inclusão significativa surge quando organizações compreendem que diversidade beneficia igualmente candidatos contratados e equipes já existentes. “Contudo, manter pessoas após contratação exige ambiente acolhedor com oportunidades reais de crescimento profissional”, pondera. Ela acrescenta que reconhecimento de competências torna processos mais justos, afastando interpretações equivocadas que focam limitações em vez de capacidades.
Formação que abre portas e desafia barreiras estruturais

Grupo OLX
Christiane Berlinck, CHRO do Grupo OLX, explica que programas educacionais intencionais ampliam acesso à tecnologia para pessoas com deficiência, principalmente devido às barreiras estruturais do setor. Contudo, o bootcamp criado pela empresa em parceria especializada ofereceu formação técnica avançada em período concentrado. Assim, os participantes tiveram oportunidade de desenvolver competências valorizadas pelo mercado.
Ela afirma que adaptações pedagógicas foram essenciais para garantir equidade entre alunos com diferentes tipos de deficiência, considerando necessidades individuais importantes. “Portanto, conteúdos acessíveis, linguagem simples e materiais adaptados permitiram autonomia durante toda a jornada de aprendizagem. Além disso, acompanhamento próximo reforçou confiança e ajudou estudantes a superar desafios em ritmo adequado”, relata.
Christiane destaca que resultados confirmam impacto estratégico do programa, indicando mudanças culturais profundas impulsionadas pela chegada desses profissionais. Entretanto, desafios iniciais relacionados ao recrutamento exigiram busca ativa e comunicação ampliada para formação das turmas completas. Apesar disso, ela defende que diversidade técnica fortalece inovação, melhora qualidade das soluções e amplia debates internos sobre acessibilidade.
Inclusão construída com liderança e cultura interna

estabeleceu processos cuidadosos
para definir necessidades específicas
de cada pessoa contratada”
Patrícia Karam, diretora de Pessoas, Operações e Experiência do Cliente na Infios, relata que crescimento acelerado demandou posicionamento estratégico relacionado à inclusão produtiva. Embora a empresa precisasse cumprir exigências legais, ela defendeu abordagem que transformasse obrigação em oportunidade concreta de desenvolvimento cultural. “Dessa forma, liderança apoiou a criação de programa estruturado que integrasse todas as áreas”, explica.
Ela ressalta que preparação interna envolveu treinamentos sobre vieses inconscientes, revisão de políticas, simulações de entrevistas e criação de comitê multissetorial. “Ademais, conversas individuais com gestores esclareceram dúvidas e reduziram receios, garantindo acolhimento adequado para novos colaboradores. Além disso, a empresa estabeleceu processos cuidadosos para definir necessidades específicas de cada pessoa contratada”, detalha.
Patrícia afirma que resultados alcançados demonstram sustentabilidade do programa, devido à retenção completa dos profissionais contratados durante período analisado. “Ainda assim, avaliações de desempenho reforçam que essas pessoas entregam resultados equivalentes aos demais colaboradores, sem necessidade de diferenciação injustificada”, esclarece. Ela conclui que inclusão funciona quando empresas confiam na capacidade profissional e promovem ambientes verdadeiramente equitativos.
