Uma rápida busca no Google sobre “felicidade” traz inúmeros resultados, desde livros – de autoria do Dalai Lama e Eduardo Giannetti a Lair Ribeiro -, seminários, workshops, palestras a reportagens jornalísticas sobre o tema. A questão ganhou tanta relevância que a ONU mantém, desde 1972, o indicador de Felicidade Interna Bruta (FIB), e há até uma companhia multinacional que possui seu próprio índice, que mede bimestralmente o nível de felicidade dos seus funcionários. Ou seja, querem quantificar o nível da “qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento e bem-estar” deles, de acordo com a definição do Grande Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa para o vocábulo.
Atualmente, o tema é uma das bolas da vez no mundo corporativo e uma das prioridades das áreas de recursos humanos. Muitas pesquisas têm sido feitas por diversas instituições exatamente para lançar algum entendimento sobre o assunto que, por ser uma novidade, é bastante abstrato e até cercado de muito romantismo. Isso ocorre porque esse conceito é de grande complexidade e invariavelmente é incluído entre as melhores práticas de RH, como clima organizacional, engajamento e política de retenção de talentos profissionais. Para tentar desvendar o significado de felicidade no trabalho, o Ateliê de Pesquisa Organizacional divulgou um estudo sobre o tema. Com abordagens qualitativas (quatro grupos de discussão) e quantitativas (200 entrevistas), gestores e não gestores de companhias estabelecidas em São Paulo e no Rio de Janeiro responderam e indicaram o entendimento e a experiência que possuem da própria felicidade no trabalho. O propósito central do estudo foi conhecer e abordar, de forma dinâmica e profunda, como esses profissionais percebem e caracterizam a condição de felicidade nas empresas em que trabalham.
E o que a pesquisa revela sobre felicidade no trabalho para os profissionais ouvidos? Eles mesmos apontam: é ganhar dinheiro; relacionar-se com pessoas; ter desafios; trabalhar em equipe. É contar com relações seguras e confiáveis entre colegas, ser reconhecido, sentir-se motivado, satisfeito, competente e alegre na empresa, entre outros sentimentos. “Hoje, ninguém tem mais vergonha de dizer ´Eu trabalho por dinheiro´ ou ´Eu não estou satisfeito com o que eu ganho´. O que mais chamou a atenção na pesquisa foi o resultado tão positivo de felicidade: 79% das pessoas disseram ser felizes no trabalho. O grande desafio das empresas agora será descobrir o que fazer para trazer satisfação aos outros 21% que se dizem infelizes”, comenta Suzy Cortoni, sócia-diretora do Ateliê de Pesquisa Organizacional e também da ComSenso Agência de Estudos do Comportamento. Outro tema pesquisado, e também relevante, diz respeito à infelicidade no trabalho. Os participantes da pesquisa apontaram vários motivos: ter disputas internas; sofrer pressões; ambiente tenso; colegas fingidos; adoecimentos; pouco tempo para coisas pessoais; ausência de reconhecimento; e líderes inadequados, entre outros fatores.
O estudo produziu algumas conclusões. Uma delas indica os fatores individuais bastantes presentes na determinação do estado de (in)felicidade dos profissionais e também a influência dos fatores externos e coletivos, com ênfase, porém, um pouco menor do que se costuma considerar. Outra conclusão provoca uma reflexão sobre a novidade (ou não) do conceito de felicidade no trabalho, uma vez que os próprios profissionais, quando a definem, usam conceitos como motivação, realização no trabalho, clima e ambiente, que são velhos conhecidos da área de RH.
Percepção dos entrevistados
Os profissionais entrevistados na etapa qualitativa expressaram sua percepção a respeito do tema felicidade e infelicidade, por meio de 80 fotos. Cada participante elegeu entre duas e três imagens que melhor representavam o sentimento de felicidade no trabalho. Depois, cada um explicava suas escolhas e associações. As imagens de dinheiro e sucesso foram selecionadas em todos os grupos. Houve total consenso de que as imagens traziam símbolos de felicidade.
Sobre a pesquisa
Foram entrevistados, por gênero, 40% de mulheres e 60% de homens com faixa etária entre 28 e 45 anos. A média de tempo de trabalho na empresa do grupo foi de 8 a 25 anos. Todos os participantes possuem formação superior, atuando nos seguintes segmentos: indústria (51%), comércio (31%) e serviços (18%). Em termos de remuneração, 84% recebem entre 50 mil reais e 150 mil reais por ano, e 16% recebem mais de 150 mil reais.
Quem manda na felicidade
Confira alguns dos principais resultados da pesquisa
Para 78% dos entrevistados, o dinheiro é um fator que se sobrepõe a todos os outros.
79% estão felizes ou muito felizes em relação ao trabalho; apenas 7% consideram-se infelizes ou muito infelizes.
46% sentem-se responsáveis (e não a empresa) pela própria felicidade no trabalho.
Mulheres versus homens
Entre elas, 84% consideram-se felizes ou muito felizes em relação ao trabalho.
Entre os homens, 75% consideram-se felizes ou muito felizes em relação ao trabalho.
Paulistas versus cariocas
Os cariocas (85%) consideram-se felizes ou muito felizes em relação ao trabalho.
Os paulistas (71%) consideram-se felizes ou muito felizes em relação ao trabalho.
O dinheiro tem muito mais peso para os cariocas (84%) do que para os paulistas (73%).
Excesso de trabalho
Trabalhar é importante para o crescimento pessoal e profissional, disseram 45% dos entrevistados; 44% disseram que trabalham para sentir-se realizados.
Para 57%, trabalhar mais de 8 horas por dia é motivo de satisfação. Apenas 17% responderam que trabalhar além do horário é motivo de insatisfação.
O que deixa feliz no trabalho
Para 49%, relacionar-se com pessoas é uma das situações que deixa feliz no trabalho.
Para 41%, trabalhar em equipe é a principal situação. Para 68%, quando estão felizes no trabalho, sentem-se motivados.
Para 36% (60% deles do Rio de Janeiro), nada os deixa infelizes no trabalho.
Para 48%, a infelicidade no trabalho traz o sentimento de desmotivação.
Saúde
A maioria dos entrevistados (63%) não teve qualquer problema de saúde nos últimos meses. Mas 37% deles apontaram estar sofrendo de dor de cabeça (43%), cansaço exagerado (25%) e dor de estômago (18%), entre outros adoecimentos.