Time de líderes da 6D, conversas francas e objetivas são a chave do sucesso |
Unir-se em sociedade é como passar a fazer parte de um casamento, com a diferença de que uma composição societária não precisa, necessariamente, ter somente duas pessoas. A comparação tem fundamento se pensarmos que profissionais que se tornam sócios costumam estar juntos uma boa parte do tempo. Algumas vezes em meio aos problemas inerentes ao dia a dia da empresa, outras tantas sendo obrigados a encontrar consenso após uma divergência de ideias ou mesmo procurando soluções para temas complexos como estratégias e planejamento financeiro.
O cenário pode ser ainda mais desafiador quando pensamos nas sociedades compostas por mais de dois sócios e que quanto maior o número de pessoas, maior a probabilidade de alguém se desagradar com uma decisão.
É fato que o “clima” entre os líderes tem influência direta no desempenho da organização. Afinal, não deve ser nada saudável estar todos os dias em um lugar onde conflitos desestabilizam o ambiente de trabalho. Portanto, para manter a empresa e a convivência profissional em um caminho benéfico, o ideal é que haja um bom entrosamento entre os sócios. Mas como manter um bom relacionamento dentro e fora da empresa, em um grupo de seis sócios que antes de criarem um “CNPJ” já eram amigos?
A resposta da 6D, empresa carioca que se autodefine como uma casa de criatividade e inovação, foi a criação de uma reunião semanal na qual todos são incentivados a falar sobre tudo o que incomodou na semana anterior sem qualquer censura, com liberdade plena e o respeito de todos.
“Não é só um casamento, mas um casamento intenso”, compara Tola Faria, sócio responsável pela área de novos negócios.
Time de sucesso
Os resultados provam que a tática está sendo positiva. Há 10 anos no mercado, a 6D começou como um escritório de design que se ampliou para a empresa multidisciplinar que é hoje, cuidando da marca dos clientes, produzindo filmes, sites e toda a parte de planejamento da comunicação. O time recebeu o VMB da MTV, FWA (Favorite Website Awards) e já teve trabalhos publicados em livros como Latin American Graphic Design (Taschen), entre outros.
Tola conta que a “reunião da segunda-feira” acontece desde o início das atividades da 6D. “Um pouco do sucesso da convivência com seis sócios é esta reunião”, acredita. “Houve época em que os funcionários participavam também, mas decidimos reduzir para participar somente os sócios porque senão a duração da reunião parecia interminável. Claro, temos nossas sessões durante a reunião, dividimos os assuntos e mantemos sempre o mesmo roteiro, começando pelos assuntos internos, onde falamos o que nos incomoda, vamos para o comercial, daí para os temas do financeiro, passamos para o
marketing e fechamos definindo tudo o que deve ser feito de estrutura para as resoluções acordadas acontecerem”, explica Tola.
É possível que os sócios não saibam que tanto a quantidade de pessoas participantes da reunião quanto o dia em que ela acontece são considerados fatores positivos por quem tem conhecimento do assunto. Segundo Joyce Baena, palestrante e sócia-diretora da empresa La Gracia, especializada em apresentações corporativas, a reunião perfeita é marcada para segunda-feira porque começar a semana com reunião faz com que haja tempo para colocar em ação as resoluções tomadas.
Para ela, outro ponto a ser considerado é o tamanho do grupo. As reuniões realizadas somente com os líderes ou pessoas que irão, de fato, tomar decisões são mais eficazes. “Seis participantes é o máximo”, avalia a executiva.
Amigos empreendedores
Na 6D, após o encontro cada sócio compartilha com suas equipes as definições e, desta forma, a empresa ganhou mais dinamismo. De acordo com Tola, tornou-se mais efetivo tratar depois individualmente com as equipes.
Mais uma vez, a percepção mostrou-se certa. “Umas 30 pessoas trabalham na 6D, posso dizer que quem trabalha aqui adora, é quase unanimidade, temos esse bom astral, leveza no ar; por mais que os problemas apareçam, nosso saldo sempre foi ótimo neste ponto de as pessoas gostarem de onde estão”, afirma Lula Freitas, sócio que cuida da área comercial.
Lula foi o responsável pela união do grupo. Depois de muitos anos trabalhando na empresa da família, ele decidiu empreender. Nessa época, ele trabalhava com Emílio Rangel (que se tornou sócio responsável pelo design) e também com Tola. Então, propôs aos dois a criação de uma nova empresa. Juntos, perceberam que não tinham as expertises necessárias ao negócio que desejavam empreender e Lula começou a convidar os outros amigos, que acabaram formando o grupo societário atual da 6D.
“Naquele momento eu não tinha conhecimento na área digital, era começo dos anos 2000, no Brasil também era uma área nova, havia carência nessa área e também na parte de vídeo. Chamei essa turma toda porque eu era amigo de todos, chamei um por um e montamos este grupo de 6”, relembra Lula.
Formações Distintas
A multidisciplinaridade foi encontrada exatamente nessa formação diversa. A empresa conta com um sócio arquiteto que cuida da área digital, outro que é ilustrador, um designer gráfico, outro designer, mas que lidera a área financeira, um profissional da produção de filmes, e outro que gerencia a prospecção.
“Nosso entrosamento complementar contribui no atendimento que damos ao cliente. Um sempre tem algo a acrescentar, não fazemos só filmes, nem só design gráfico, conseguimos orientar e comunicar a marca do cliente, essa é a diferença”, opina Bruno Fraga, primo de Tola e sócio que se dedica à parte digital do atendimento da 6D.
Um ponto interessante dessa formação é que não há entre os sócios um profissional vindo de uma formação ligada aos recursos humanos ou mesmo que tivesse atuado nesse departamento. Por isso mesmo, apesar de haver uma divisão interna que estabelece para um dos sócios o cuidado com esse setor, os seis funcionam juntos tratando de todos os assuntos, inclusive da parte de recursos humanos, como uma espécie de “RH coletivo”. O que torna peculiares as reuniões em que se “lava a roupa suja”, uma vez que elas não são frutos da coordenação de um profissional de recursos humanos.
#L# “Não temos um mediador, se há vantagem em ter bastante sócio é poder enxergar o que está acontecendo tendo sempre um agente externo que traz uma visão mais neutra”, conta Tola.
O esforço em manter esse bom ambiente é perceptível na postura dos sócios. “Estamos bem há 10 anos e todo mundo continua amigo, nós nos relacionamos muito bem mesmo, não concordamos com tudo, mas discordando a gente se respeita, se entende e se gosta à beça. Agora temos a filharada na história, as crianças brincam juntas, nós jogamos bola, pegamos onda juntos, é preciso que a gente se goste para essa história ser boa”, compartilha Lula.
E ele complementa: “Nossa relação sempre foi importante e sempre prezamos porque a grande razão disso é que éramos amigos antes e desejamos continuar amigos dentro ou fora da 6D”. Um dos fatores para esse pensamento é que se a empresa não mais existir um dia, todos continuarão, amigos. Uma história corporativa na qual amigos continuam amigos sem deixar os negócios à parte.