O conhecimento científico sobre obesidade demora a chegar até a população e um exemplo disso é a orientação para comer a cada três horas, desenvolvido em 1996 no Núcleo de Estudos sobre Obesidade e Exercícios Físicos da Universidade de São Paulo (Neobe-USP), dirigido, na época, por mim, e apresentado em 1998, em Paris, no 8th International Congress of Obesity. No entanto, a orientação só foi conhecida mundialmente em 2006, 10 anos depois.
Para piorar, ela foi divulgada isoladamente e, por isso, caiu em descrédito, pois comer a cada três horas sem identificar volume, qualidade e necessidade de nutrientes, individualmente, não funciona mesmo – o que ressalta a importância da informação completa nesse processo. Por isso, é necessário que os profissionais da área de recursos humanos se apropriem desse conhecimento de forma fidedigna e confiável por três motivos específicos: (1) eles multiplicam informações e, dessa forma, são referência na empresa; (2) saúde é a base do desenvolvimento dos colaboradores; e (3) combater a obesidade de forma inadequada pode ser tanto discriminador quanto traumatizante.
A busca pelo tratamento da obesidade é pessoal e nem de longe significa fazer dieta hipocalórica ou morrer fazendo exercícios físicos, ao contrário. Mas a pessoa obesa é quem precisa se mobilizar e, no máximo, os profissionais de RH podem estimulá-la para isso – evitando a estratégia terrorista do “Você vai morrer”. Afinal, a obesidade não tem como causa um único fator, muito menos metabolismo lento. As causas são endógenas (que vêm de dentro do organismo, como genética, metabólica e endócrina) e exógenas (externas ao organismo, como sedentarismo, alimentação, aspectos culturais e emocionais).
Porém, as causas endógenas são responsáveis por até 3% dos casos mundiais de obesidade. Ou seja, mais de 97% dos casos são de origem exógena e, como os estudos estão apontando, os fatores culturais e emocionais são os que mais interferem. Por isso, a famosa fórmula matemática “coma menos e gaste mais” não tem surtido o efeito esperado e a obesidade cresce em nível mundial em todas as faixas etárias. Esse paradigma precisa ser substituído pela compreensão de que a obesidade é um “alerta do corpo” para que a pessoa cuide mais de si mesma, porque é um fenômeno psicossomático. Aliás, esse “cuidar” varia individualmente porque não existe uma fórmula única de tratamento, que é pessoal e intransferível.
Quanto à produtividade profissional, tem se percebido que as pessoas obesas não estão aquém das pessoas não obesas nem pioram com o aumento da gravidade da obesidade (que vai do nível 1 ao 3 e, por fim, alcança a morbidade). O problema vai aparecer na qualidade de vida delas, na disposição diária para a vida fora do ambiente corporativo pois, por se dedicarem ao trabalho com maior esforço físico do que as não obesas têm, por consequência, menor vitalidade para viver além daquelas horas investidas na profissão.
Cláudia Cezar é doutora em Nutrição Humana Aplicada (USP) e diretora do Instituto Perfil Esportivo