Remando pelos resultados / Crédito: Shutterstock |
No dia 2 de fevereiro de 2014, vivi uma das experiências mais inusitadas da minha vida. Por acaso, estava lá, nos Canyons do Xingó, localizados no município de Canindé de São Francisco-SE, com mais de 50 praticantes do stand up paddle (SUP), num cenário paradisíaco, para um evento de alto nível e alto astral.
Organizado pelo SupAmigos de Aracaju-SE, o evento teve a presença da tricampeã brasileira de SUP Race, Bárbara Brasil, que foi acompanhada por atletas e praticantes dos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, São Paulo e do Distrito Federal. Com todo o apoio logístico, o encontro foi uma festa de confraternização que teve a participação de famílias inteiras remando em suas pranchas os 18 km do percurso, descendo o Velho Chico até chegar ao cenário que inspirou diversos seriados e programas de TV.
E foi lá, no Velho Chico, que me apaixonei por essa descoberta do SUP como esporte e lazer! Após muitos anos sem ter uma prática esportiva definida, me reencontrei. O esporte é perfeitamente ajustável àqueles que sofrem problemas de coluna e joelhos, como é o meu caso. Mais uma superação. O SUP é adaptável a um novo estilo de vida, um novo estilo de perceber, sentir, intuir e viver de forma mais saudável, feliz e em família.
E no último fim de semana do mês de março de 2014, após duas horas de remada, 16 km rio Itacimirim adentro, com sol, vento, correnteza, manguezais cheios de vida e um belíssimo visual entre peixes, pássaros e caranguejos, realizando manobras, de olho no equilíbrio. Além das quedas, um acidente, mas nada grave, e muitas reflexões que agora compartilho com vocês. Como consultora organizacional, percebi que o SUP tem muitas conexões com o comportamento humano nas organizações. Vejamos alguns comportamentos e valores:
Planejamento – ao se preparar para uma remada é necessário autocuidado (protetor solar, alongamento, equipamentos adequados e seguros, além de água). Mas como nem sempre a memória nos favorece, o grupo esqueceu o kit de primeiros socorros. Só lembramos quando o acidente aconteceu. Portanto, é imprescindível ter no seu planejamento um “plano B”, sobretudo, quando as coisas não acontecem exatamente conforme o previsto. Estude o percurso, busque informações e respeite o conhecimento dos nativos. Também não se esqueça de fazer um check list antes da execução do seu planejamento, pois poderá faltar o kit de primeiros socorros e certamente um acidente de percurso o colocará fora da água, ou fora do seu trabalho;
Preparação, autodisciplina e autocuidado – superar limites é algo emocionante, sobretudo, quando isso representa uma superação física (tenho 12 pinos na coluna, espondiloartrose, condromalácia…quer mais?!)porém, se o seu corpo não está pronto para acompanhar o seu desejo, então esse desrespeito com você mesmo poderá ter um alto preço e, certamente, as “dores” virão. Conheça seus limites e potencialidades, assim as superações virão com gosto de sucesso e de quero mais;
Atenção, equilíbrio e foco – observar atentamente o seu percurso é “o grande barato”. Deslizar pelas águas, escutando (ouvir com atenção e foco) o ruído dos manguezais, o canto dos pássaros, o estalar das patas dos caranguejos no mangue, o ruído da pá (remo) invadindo o espaço da água, o sopro do vento e um barquinho que vem lá de longe. O mais bonito da viagem são as riquezas de detalhes do caminho. A chegada é consequência;
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Autoconfiança e vigilância – quando se está remando por mais de uma hora, por exemplo, vem certo relaxamento, seguido do aumento de autoconfiança, com isso, abrimos a guarda e somos surpreendidos: é uma marola, uma pedra no meio do caminho. Podemos trazer algumas dores com essa experiência, mas certamente mais aprendizados. O que me faz lembrar: “olhai, orai e vigiai”. Cuidado para que o excesso de autoconfiança não o deixe cego ou insensível a muitas belezas e experiências que a caminhada nos proporciona;
“Ensinagem” (aprender e ensinar) e amorosidade – cada um de nós, por mais iniciante ou inexperiente que seja (ou pareça ser), sempre pode ensinar algo a alguém. Ensinei um amigo a remar; mesmo ele sendo surfista, eu tinha conhecimentos e dicas que o ajudaram a subir numa prancha de SUP pela primeira vez e remar. Não se subestime. Acredite na sua sabedoria;
Compartilhe seus conhecimentos – faça-o com amor e o aprendizado se dará em via de mão dupla. A prática orientada sempre proporciona um aprendizado mais rápido e seguro;
Flexibilidade, equilíbrio e maturidade – com uma postura rígida sobre uma prancha certamente você levará muitos tombos. Leveza e flexibilidade são essenciais para a manutenção do equilíbrio. Lá vem a onda, surfe nela! Tem marola ao passar por uma embarcação, vire a prancha transversalmente para cruzar as ondas geradas. Se vai cair, ajoelhe-se ou se jogue na água. Tem correnteza e vento contra, reme em zigue-zague e próximo às margens. Isso ninguém me ensinou, mas a maturidade e as experiências de vida seguidas de observação da natureza me trazem sempre novos aprendizados. Nas empresas, da mesma forma, é preciso sentir o clima primeiro e depois agregar seu conhecimento e experiência. Impetuosidade excessiva pode levá-lo a muitos tombos e dar de cara na água. E se você se desequilibrou, jogue-se, não caia; aprenda a cair se protegendo.
Cooperação e solidariedade – O SUP é um esporte individual, certo? Errado! Remar sozinho ajuda no olhar interior, nas reflexões. Mas é na remada coletiva que você aprende a desacelerar para esperar seu(s) companheiro(s) de jornada; e depois acelerar junto com ele. Se um colega cai, você está ali ao lado para ajudá-lo, transmitindo-lhe segurança e confiança. Isso favorece o bem-estar de todos. Um colega passa por você e dá dicas de como segurar melhor o remo, posição dos pés, postura da coluna, profundidade da remada, curvas e movimentos para velocidade, posicionamento na prancha, enfim, sempre há algo a aprender com o colega ao nosso lado. Individualmente temos força, mas em conjunto somos mais fortes; nos superamos em coletividade.
O esporte, que tem sua origem anterior ao surf, foi reinventado há cerca de 16 anos. Os equipamentos para praticar o stand up paddle, ou SUP, são a prancha e o remo, e o esporte pode ser praticado em lagoas, açudes, mar ou corredeira.
O desafio é encontrar o ponto de equilíbrio em cima da prancha para conseguir se manter em pé e praticar o esporte. Além de ser uma atividade para relaxar, o stand up paddle tonifica a musculatura das coxas, abdômen, glúteos e lombar, além de fortalecer as articulações do tornozelo, joelho e quadris. O SUP não requer força, mas sim jeito. Você inicia a prática e a natureza se encarrega de harmonizar o homem e a prancha.
Aproveite e venha remar você também. Pá na água, amigos! Um brinde e minha gratidão aos SupAmigos!