Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor / Crédito: Divulgação |
Vamos aos fatos: a expectativa oficial de inflação para o ano já é de 9%. O PIB deve encolher 1,1%. A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE mostra um aumento da desocupação crescendo na casa de dois pontos percentuais quando se compara um mês deste ano com o mesmo de 2013. Quase meio milhão de pessoas perderam o emprego nos últimos 12 meses, deixando de irrigar a economia com mais de um bilhão de reais.
Recentemente, tive o privilegio de participar do Fórum Vagas, em que profissionais de RH se reuniram com a finalidade de jogar alguma luz sobre o papel do RH neste tempo de crise. Dados como os descritos acima não foram ignorados, afinal, ninguém pode fingir que está tudo bem, que a economia está crescendo, que não está havendo demissões, que as empresas não estão preocupadas. Entre palestras com especialistas e reflexões coletivas feitas por grupos de trabalho, conclusões importantes foram gestadas.
A principal é que crises se enfrentam, e se vencem, com trabalho, criatividade e otimismo. E isso inclui não negar a realidade, não transferir culpas nem delegar responsabilidades. Ora, estes são atributos humanos, excessivamente humanos. Portanto, o enfrentamento de crises só pode ser feito por pessoas, com pessoas, o que mostra que a importância da área de recursos humanos cresce significativamente em tempos difíceis.
Em uma incorporadora de porte médio encontrei a seguinte situação, assim descrita pelo principal executivo de RH: “Precisamos reduzir o tamanho da folha, aumentar a produtividade e manter alto o moral dos funcionários. Qual a mágica?”. A angústia do colega procede. Equilibrar essas três facas afiadas no ar sem deixar caí-las e sem cortar a mão requer habilidade e disposição para enfrentar o perigo.
Pelo menos três lições podem ajudar nesta hora. A primeira é que, em tempos difíceis, o RH cresce em importância, não pode omitir-se como player fundamental ao encaminhamento das questões, e deve ocupar sua cadeira na sala de gestão da crise.
A segunda: é necessário, nesta hora, equilibrar a balança em que dois pesos iguais são colocados nos pratos: a gestão estratégica de pessoas e a gestão cotidiana de pessoas. A visão estratégica tem a ver com as grandes medidas, o que pode incluir a diminuição do quadro, a negociação com os sindicatos e a realocação de pessoal. A cotidiana está relacionada com o trabalho das equipes, a motivação essencial, a capacitação suplementar, o papel dos líderes, a manutenção do otimismo.
E a terceira… bem, esta é uma condição essencial para toda empresa, apesar de começar, exatamente, pelas pessoas. Trata-se da constatação de que o que fazíamos até agora foi o que nos colocou na crise, ou, pelo menos, não foi capaz de evitá-la. Temos, então, de fazer diferente. Em outras palavras, é necessário inovar, criar alternativas, adaptar-se prepositivamente à nova situação. E quem faz isso são as pessoas.
Portanto, caro colega da incorporadora, não há mágica. O que há é profissionalismo, interpretação, análise, estratégia e ação. Muita ação. Por definição, crises têm começo, meio e fim. E o final feliz favorece os que não se omitiram em nenhuma das etapas. Isto também é fato.