Um cidadão de origem humilde, que se graduou na conceituada escola de Economia da Universidade Sorbonne – Paris e foi presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995. Essa é a trajetória, bem resumida, de Jacques Delors. E por que ele aparece aqui? Foi ele quem coordenou a produção do relatório Educação: um tesouro a descobrir para a Unesco, em 1999, onde estão os quatro “pilares” da educação”: aprender a conhecer; a fazer; a viver com os outros; e a ser. Todos parecem óbvios. E são. No entanto, Delors explora o fato de que o processo de ensino-aprendizagem debruçou-se demasiadamente e apenas no aprender a fazer. Nada de errado nisso, mas o ponto é que os pilares, como o nome diz, sustentam algo maior. A presença de apenas um deles, ou a falta de somente um, pode barrar o grande propósito no qual o processo busca existir: a possibilidade de transformar.
E por que tratar de Delors quando o tema em pauta é o intraempreendedorismo social? Os pilares delorianos são a base para que indivíduos possam estar aptos a transformar o mundo onde vivem. Isso significa também olhar para dentro de nossas organizações e não parar aí. Significa ir até o limite da própria empresa, seja ela local, regional ou global. Não importa. O que interessa aqui é a perfeita harmonia entre o conhecer, o fazer, o conviver e o ser para que a manifestação do transformar tenha espaço e possa ser percebida como de alto valor agregado para todos: organização, clientes, consumidores, sociedade e, claro, o próprio “empreendedor”, ou melhor, agente transformacional.
E quando falo de alto valor agregado, não me refiro somente a resultados ou impactos econômico-financeiros, mas sociais, refletidos no maior acesso a tecnologias e formas de fazer; na maior troca de conhecimentos e possibilidades; na oportunidade de conviver em maior harmonia; na manifestação máxima de ser e do ser ético, moral e espiritual. Tudo isso dá aos que buscam e trabalham no desenvolvimento desses pilares a possibilidade genuína e efetiva de transformar o seu contexto.
O interessante é que em nenhum momento falamos de transformar os outros. Por quê? Simples: essa transformação só ocorre em mim, em você… Não podemos mudar ninguém, mas podemos, ao desenvolver os pilares de nosso processo individual de aprendizagem, receber a dádiva de sermos agentes transformadores da sociedade em que vivemos por meio de melhores práticas organizacionais internas e externas.
Se você duvida, veja a matéria de capa desta edição e fique – como eu – positivamente surpreendido com os fortes exemplos que estão ali de transformações simples e impactantes na forma de viver e fazer – bons – negócios. E melhor: são bons para mim, para você, para nós e para eles. É como a avó de um amigo meu dizia, quando arguida do porquê de sempre varrer sua calçada enquanto os vizinhos não davam a mínima paras suas próprias: “É simples: vou continuar limpando a minha sempre! Quem sabe um dia a gente não tenha uma rua inteirinha limpa?”. Ou seja, façamos nossa parte. A contaminação será muito positiva!
Marcos Nascimento é partner na Manstrategy Consulting, expert em desenvolvimento e alinhamento de top teams