O mundo está em constante evolução e com mudanças ocorrendo em ritmo acelerado. Além das diversas categorizações geracionais, como Baby Boomers, X, Y, Z ou Alpha, estamos vivenciando uma geração comum: a geração T de Transição. Seguimos imersos em um contexto de transformações em diferentes aspectos ao mesmo tempo, como as mudanças climáticas, culturais, sociais, tecnológicas, econômicas, políticas e até mesmo fisiológicas, considerando o aumento significativo da expectativa de vida, impulsionadas pelos avanços da medicina e biotecnologia.
Contudo, a tecnologia é um fator comum, que se faz cada vez mais presente na transformação e adaptação de todos estes contextos, tanto na sociedade quanto nas organizações. Assim, seja você um empreendedor, líder ou não dentro de uma organização, é provável que, em algum momento já tenha ouvido falar do Festival SXSW (South by Southwest) e isso, independe de sua área de atuação, seja Tecnologia, Inovação, Recursos Humanos ou qualquer outra área de negócio ou transacional, se não, logo mais vai se deparar com alguma informação a respeito.
O SXSW é um evento anual que acontece desde 1987, no mês de março, em Austin, Texas. Inicialmente centrado na indústria musical e evoluiu ao longo dos anos, incorporando as indústrias do audiovisual, tecnológica e de mídias interativas e nos últimos anos, ampliou ainda mais seu escopo e ganhou notoriedade global. Atualmente, o SXSW é conhecido como o Festival da Inovação, onde as tecnológicas emergentes e as mudanças em diversas camadas da sociedade, empresas e ecossistemas de negócios são apresentadas e mais, o festival hoje tem uma capacidade ímpar de antecipar as tendências de um “futuro” próximo e tangível.
Neste ano, um dos pontos altos foi o painel da futurista e CEO do Future Today Institute (FTI), Amy Webb, que apresentou o relatório “Emerging Tech Trend Report 2024” (acessível em www.futuretodayinstitute.com/trends). O documento de quase 1.000 páginas descreve cerca de 700 tendências tecnológicas, agrupadas em 16 grandes categorias, abrangendo boa parte das atividades econômicas e sociais. Amy destaca que estamos diante de um super ciclo tecnológico, impulsionado por três grandes áreas: 1) inteligência artificial; 2) ecossistemas conectados às coisas; e 3) biotecnologia.
Um super ciclo, é um conceito emprestado da economia e define um período prolongado no tempo, com potencial disruptivo sobre os níveis de demanda, preços e oferta, podendo acarretar mudanças substanciais nos fluxos econômicos. Essa convergência das áreas primárias da tecnologia, pode ser aplicada de forma combinada ou isolada, ampliando significativamente o seu potencial de disrupção aos padrões conhecidos.
Isso muda tudo, em especial a escala e a velocidade. Anteriormente, já testemunhamos outros ciclos de evolução tecnológica, mas impulsionados por tecnologias únicas e também de propósitos gerais, como o motor a vapor, os computadores e a internet. No entanto, agora estamos vivenciando uma convergência de três áreas primárias sustentadas pelas tecnologias computacionais, escaláveis e com alto potencial de desenvolvimento e adaptação, incluindo programações por linguagem natural e também, com todo o potencial de aplicação em propósitos gerais.
Esse contexto, altera de forma significativa nossas percepções sobre o presente e o futuro. As mudanças não são mais vistas como algo distante ou possíveis; elas estão acontecendo a todo momento, unificando-nos na chamada geração da Transição. O principal desafio não é mais o “quando”, mas sim em que estágio as mudanças já ocorrem e como seguirão evoluindo. Se anteriormente falávamos em um mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity, Ambiguity) ou BANI (Brittle, Anxious, Non-Linear), agora nos deparamos coma evolução deste contexto, que Amy Webb, com base em suas interações globais com CEOs e líderes empresariais, denominou de FUD (Fear, Uncertainty, Doubt).
Assim, o principal desafio, especialmente para os profissionais de RH que buscam atuar dentro de um escopo mais estratégico, é compreender o atual contexto de negócios e a influência das mudanças presentes e futuras. Em um cenário marcado por medo, incertezas e dúvidas intensas, precisamos estabelecer uma conexão direta com as lideranças e as pessoas, apoiando-as em seus processos de desenvolvimento, e adaptação às mudanças. Diante da complexidade atual, os desafios organizacionais serão inúmeros e possivelmente, afetarão mais os processos decisórios. O que por sua vez, tendem a afetar a capacidade de gestão da mudança, resiliência e adaptação organizacional.
Ainda sobre os processos decisórios, a insegurança decorrente da falta de compreensão do todo, pode nos levar a três extremos prejudiciais: inação; repetição do passado – por falta de referências e desconhecimento do futuro nos levando a buscar a zona de “segurança” -; ou uma mentalidade de “paranoia” da sobrevivência – resultando em decisões conflituosas de curto prazo, que podem corroer valor do negócio e minar o clima organizacional. Qualquer destas situações tem o potencial de comprometer “silenciosamente” o futuro das organizações, por restringir sua capacidade de adaptação e resiliência.
Não surpreende que o tema da governança tenha se intensificado com a agenda ESG. Essa demanda vai além do cumprimento de diretrizes ambientais e sociais; ela também se destina a proteção das organizações contra as fragilidades humanas e a promoção de um desenvolvimento amplo e intenso das pessoas, envolvidas na gestão mais estratégica do negócio, onde as empresas, no seu contexto institucional, certamente, têm perspectivas duradouras de geração de valor e propósitos maiores, superando as pessoas que as dirigem.
Da mesma forma, ao considerarmos o potencial tecnológico emergente, podemos concluir que o maior desafio já não é mais o tecnológico, mas sim humano. Os seres humanos devem definir as diretrizes para os rumos desejados do desenvolvimento tecnológico e determinar a ética que guiará esse caminho, em suas diversas dimensões e aplicações.
Por fim, quanto mais tecnológicas forem as tendências, mais relevantes serão os profissionais que compreendem as múltiplas camadas dos fatores humanos nas organizações, para entender, orquestrar e apoiar todas as adaptações e evoluções necessárias, diante do atual momento de transição que estamos vivenciando neste super ciclo tecnológico.