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A produtividade pós-pandemia e os ecos que ficaram

Crise sanitária fez com que organizações priorizassem indivíduos e valorizassem a colaboração

Nos últimos meses, a capacidade de adaptabilidade, assim como a reinvenção de modos de trabalho e de relacionamento ficaram em evidência em todos os nossos sistemas sociais, seja em casa, seja nas escolas ou no ambiente de trabalho. Isso fortalece o humano e o traz, mais uma vez, para o centro oferecendo a oportunidade para que todos se reconectem com suas fortalezas, medos, inseguranças, potencialidades, capacidade de superação e resiliência.

Geralmente, o pós-crise gera indivíduos mais fortes e conectados com sua essência, com consciência de suas capacidades e vulnerabilidades, o que favorece relações de colaboração e busca de objetivos comuns para superar limites. Essa reflexão é importante, pois temos profissionais com novas motivações, consciência da flexibilidade e alta adaptabilidade, buscando caminhos que levem o impacto no trabalho para esferas maiores de desempenho para a organização e para a sociedade. A certeza da interdependência entre indivíduos, times e sociedade foi descaradamente vivenciada por todos.

A primeira reflexão nos leva a algumas perguntas: o que estamos fazendo com esse novo cenário? Como estamos nos preparando para aproveitar ao máximo a capacidade dos nossos times em impactar os negócios e, ao mesmo tempo, cuidar e engajar nesse novo cenário?

Como recursos humanos, nos empoderamos nesses últimos meses e tivemos uma oportunidade única de crescer ainda mais o nosso espaço: toda a liderança esteve muito inclinada ao nosso comando, orientação e direcionamento para que o engajamento, o cuidado e a produtividade se mantivessem em equilíbrio, mesmo em um momento imprevisível e adverso. Temos seguido a cartilha de Maslow, priorizando os cuidados básicos e o acesso à saúde, assim como revendo contratos, formas de atendimento e trazendo a tão discutida telemedicina como solução bem utilizada por todos.

Para os serviços essenciais, como fábricas, as empresas reforçaram ainda mais as práticas de segurança com a higiene pessoal. Ergonomia em casa também entrou na pauta: muitas empresas enviaram cadeiras e outros itens para residência dos funcionários. O social foi substituído por reuniões remotas e se estendeu para happy hours virtuais, aulas de ginástica, ioga, meditação.

O RH também se preocupou em treinar os funcionários com novas formas de trabalho. Na Sanofi Consumer Healthcare, para cuidar do cansaço, substituímos práticas como Short Friday por dias sem reuniões remotas para evitar fadiga digital. Ao mesmo tempo, temos discutido exaustivamente planos minuciosos de retorno ao trabalho para preservar a segurança de todos, mas ao mesmo tempo sendo desafiados à revisão das políticas de trabalho nesse retorno.

É nesse desafio de revisão de políticas de trabalho que precisamos parar para entender a evolução que tivemos em modelos de gestão que já estavam sob questionamento há alguns anos e que foram colocados à prova.

Comando e controle já não têm mais espaço em organizações que querem continuar trazendo indivíduos para ir além nos processos de inovação; o famoso “filtrar” para os times foi automaticamente substituído pelo “compartilhar”, já que equipes e indivíduos reagem melhor quando entendem o contexto.

Nesse processo de aprendizagem constante, a liderança situacional, com muito de empatia e capacidade de leitura de cenários para modular comunicação e engajar seus times em algo comum, tem uma tendência ao sucesso.

Os “encontros” presenciais não serão mais para reuniões de performance por horas a fio. Eles potencializarão a capacidade criativa, a promoção de trocas, o estímulo à realização de novos acordos, assim como serão espaços para celebrar conquistas individuais e coletivas e reconectar com o propósito comum.

Na revisão de políticas de trabalho, as empresas que trouxeram o humano para o centro como agente de transformação, mais autônomo, responsável pelo seu impacto, com consciência de autogestão e ciente de que relações empresa-funcionário mais conectadas por um propósito comum tendem a ter performances superiores.

Um olhar mais apurado para o indivíduo

Um ponto que ainda merece muita discussão e que não parece ser tão fácil respondermos é a visibilidade. Como fazer as pessoas serem vistas por quem gostariam que fossem? Visibilidade e engajamento de pessoas-chave na evolução das carreiras, assim como entregas relevantes, são essenciais para direcionar caminhos. Eles motivam, trazem reconhecimento e diferenciação, além de serem um termômetro na evolução dos times.

Lideranças e recursos humanos podem trazer práticas para estimularem isso, mas há uma tendência de o próprio indivíduo buscar essa visibilidade no seu dia a dia, propor alternativas e, também, compartilhar com outras áreas e times seus desafios. Toda essa mudança que traz autonomia e formas flexíveis de trabalho vem também com uma carga de “auto”: autodesenvolvimento, autocuidado e autogestão de carreira, que coloca a pessoa no centro.

Empresas e lideranças têm um papel fundamental e coletivo de se adaptarem a esse novo cenário, mas a reinvenção de cada indivíduo também requer uma reflexão a respeito do que ele próprio precisa de reinventar para pertencer a esse novo modelo.

A tríade empresa-liderança-funcionário conectada e com propósito comum, ideais sintonizados de crescimento e uma relação madura e equilibrada entre dar e receber contribuem para que todos entendam o seu papel e que não requerem ambiente físico para terem sucesso, além de reforçar a responsabilidade igual a cada uma das partes.

Esse novo modelo busca pessoas autênticas, com brilho nos olhos, que se conectem facilmente com seu propósito, que gostem de impactar pessoas e adicionar valor com ideias, relações e inovação. Ele busca pessoas que consigam olhar o “copo cheio” das situações, tenham adaptabilidade para mudanças e que consigam entender que ambiguidade faz parte e que o conceito de certo ou errado fica cada vez mais antigo.

Que trabalhem de forma colaborativa, colocando os interesses do grupo e dos objetivos acima dos individuais. Requer indivíduos comprometidos com autoconhecimento, que conhecem seus pontos fortes, visualizam oportunidades e conseguem criar mecanismos para se respeitar em um dia ruim sem impactar os outros; que escolham causas para defender, busquem o diferente e acolham essas diferenças.

Por isso, faço um convite genuino a cada um que ler esse texto: como tem sido seu papel como gestor e/ou individuo? Onde tem colocado energia para buscar resultados superiores para si mesmo e para o coletivo, protagonizando essa transformação? Ou você está aguardando as direções da organização?

Pessoas fazem organizações, assim como propósito com performance superior dos times constroem legados em comum. Pense nisso.

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Sueli Thome

Diretora de RH Latam da área de negócios de Consumer Healthcare da Sanofi