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Além da Quadra. Quais são as regras do jogo?

Por Braulio Lalau de Carvalho

de Redação em 26 de julho de 2018

Por Braulio Lalau de Carvalho

Braulio Lalau de Carvalho, CEO da Orbitall, empresa do Grupo Stefanini / Foto: Divulgação

Se você tem filhos irá concordar comigo que educar não é tarefa fácil. Ainda mais nessa nossa realidade de informações instantâneas, hiperconectividade, pais e mães sobrecarregados com o trabalho, o que torna nossa missão cada dia mais complexa.

Mas independente de qual linha de educação você decide adotar – uma mais firme e rígida, uma mais permissiva, ou um equilíbrio entre as duas –, uma coisa é clara: antes de começar a pensar em educar, primeiro, é preciso considerar que o nosso filho ou filha vai viver em sociedade e que todos temos de seguir regras.

Nesse sentido, quero compartilhar com vocês uma experiência que vivi com meus filhos e que me deixou preocupado, pois percebi que muitos pais estão esquecendo deste princípio básico. Em nome do amor aos filhos, focam em satisfazer todos os desejos das crianças, criando para os pequenos uma realidade muito diferente da que vão enfrentar quando se tornarem adultos.

Tenho dois filhos, Cauã, de 9 anos, e Bella, de 7. Recentemente, em um feriado, fui com eles a um clube próximo à minha casa para curtirmos uma piscina. Na quadra de futebol de salão, um grupo de pais e filhos iniciava uma partida de queimada. Você se lembra da queimada? Com certeza, deve ter lembranças de infância do jogo. Sou da época em que brincávamos no meio da rua usando uma bola feita de meias!

As regras da queimada são simples. Os participantes se dividem em dois times e cada jogador deve atirar a bola para tentar acertar o adversário. Se atingido, ou “queimado”, você deve se dirigir para o final da quadra do lado adversário, onde pode até ter a chance de pegar a bola e ajudar o seu time, porém, fica fora do jogo principal.

Ao verem a diversão do grupo, meus filhos logo perguntaram se podíamos brincar também. Claro, vamos lá! O ambiente era agradável, os pais deixavam as crianças arremessar a bola para ir “queimando” os coleguinhas e todos se divertiam, respeitando as regras do jogo.

Até que, em certo momento, uma das crianças já “queimada” e, portanto, fora do jogo, voltou para a quadra. Para a minha surpresa, outras começaram a fazer o mesmo, como se a regra do jogo para os “queimados” simplesmente não existisse. Algumas crianças questionaram a atitude, obviamente. A justificativa que nos deram foi que estavam “trocando de lugar” com o pai ou a mãe. A partir daí, valia chamar a irmã, a avó, a babá para “trocar por vidas” e se manter no jogo mesmo já tendo sido acertado pela bola.

Incomodado com a situação, decidi chamar os pais e propor que obedecessem a regra do jogo. Afinal, por que quebrá-la se ela existe? “Mas é meu filho e dou a vida por ele”, respondeu a mãe que inicialmente propôs a troca. Sim, também sou capaz de dar a vida pelos meus filhos. Mas aqui, nesse jogo, assim como em sociedade, somos um grupo de pessoas submetido a normas que devem ser respeitadas. Não podemos dispensar as nossas crianças dessa responsabilidade e dar a elas um tratamento diferenciado. Foi o que tentei argumentar.

No entanto, preferi deixar a quadra e voltar para a piscina com os meus filhos. Quero que o Cauã e a Bella aprendam que no jogo da vida existem regras a serem seguidas que nos ajudam a conviver. E que nem sempre é possível ganhar. Especialmente neste momento de formação do caráter das crianças, ensinar a respeitar regras e impor limites são alguns dos instrumentos que nós, pais, dispomos para prepará-las a enfrentar o mundo e a lidar com as frustrações ao longo da vida.

Além do mais, reclamamos tanto da realidade do nosso país e do famoso “jeitinho brasileiro” que legitima a cultura daqueles que burlam as regras para levar a melhor. Se queremos uma nova geração capaz de mudar essa cultura, entendo que a única solução é educá-la de forma que não perpetue as mesmas práticas. Como diz o filósofo e educador Mario Sergio Cortella, “o mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende muito dos filhos que vamos deixar para esse mundo”.

Trazendo a discussão para o ambiente corporativo, crianças que crescem sem conhecer limites e respeitar regras podem ter sérios transtornos na sua vida profissional, que podem envolver problemas no relacionamento com os colegas, dificuldades em receber feedbacks, em ser liderados ou até mesmo em liderar. Só para citar alguns.

“Quem ama, educa.” E educar não é fácil, como eu disse no início, podendo até ser doloroso às vezes. Mas uma boa educação, com limites claros e estabelecidos, pode ajudar os filhos a adaptarem-se às regras mais tarde na vida e é a maior prova de amor que nós podemos dar a eles.

Se você é pai ou mãe, compartilhe a sua opinião nos comentários. Ficarei feliz em ouvi-los.

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