Num cenário corporativo de mudanças aceleradas, a educação executiva deixou de ser um privilégio para poucos e passou a ser uma necessidade estratégica. Empresas que antes viam o treinamento de líderes como um evento pontual hoje tratam o aprendizado como motor de cultura, inovação e longevidade. O resultado é visível em organizações que reposicionaram a formação executiva como ferramenta de conexão entre propósito, estratégia e desempenho sustentável.
Mais do que capacitar, o foco é formar líderes conscientes de seu papel como multiplicadores de cultura. São executivos que equilibram empatia e performance, traduzindo os valores corporativos em decisões diárias que impactam pessoas e resultados. Essa virada de chave mostra que o verdadeiro diferencial competitivo das empresas está em quem aprende continuamente e faz os outros aprenderem junto.
A liderança como espelho da cultura

Na Sodexo, o desenvolvimento executivo é parte de uma estratégia maior chamada Cultura para Performance, que conecta propósito e resultados. Segundo Alessandra Peixoto, diretora de Talentos & Desenvolvimento, o desafio é formar líderes capazes de traduzir estratégia em comportamento. A empresa adota um modelo de liderança humanizada, ancorado em cinco pilares: segurança, ética, transparência, performance e aprendizado contínuo.
Os programas de liderança são personalizados conforme o nível hierárquico e mesclam action learning, mentorias e projetos reais. A aprendizagem segue o modelo 70/20/10, estimulando o protagonismo e o autodesenvolvimento. Para Alessandra, o líder é o elo que conecta valores e resultados. “Quando esse equilíbrio é alcançado, o líder deixa de ser transmissor da estratégia e se torna tradutor da cultura Sodexo”, comprova.
A Sodexo mede o impacto com métricas de engajamento, NPS e indicadores de cultura (como a pesquisa VOICE). A meta é consolidar uma liderança empática e inovadora, preparada para equilibrar crescimento, diversidade e bem-estar — pilares de sua estratégia ESG.
Formação sob medida, da estratégia ao comportamento

O FGV In Company atua como um laboratório de inovação educacional, traduzindo desafios empresariais em trilhas de aprendizado personalizadas. Seu superintendente, Vinicius Farias, define o modelo como educação sob medida que conecta desenvolvimento humano à execução da estratégia corporativa. Os programas começam com um diagnóstico consultivo e evoluem em ciclos que unem teoria, autoconhecimento e aplicação prática.
Entre as demandas mais recorrentes estão liderança adaptativa, governança, inovação e transformação digital. As metodologias incluem action learning, design thinking e simulações de cenários. O destaque é o FGV Action, programa em que executivos resolvem desafios reais das empresas com apoio de professores e mentores.
Farias aponta três movimentos de futuro na formação executiva. “A personalização via inteligência artificial, a hibridização inteligente entre o físico e o digital e o fortalecimento das soft skills como diferencial competitivo”. Segundo ele, o objetivo é formar líderes capazes de tomar decisões éticas e rápidas em contextos complexos, mantendo o humano no centro da gestão.
Universidade corporativa que cuida de quem transforma

A Universidade Corporativa Piracanjuba (UCP) nasceu com o propósito de cuidar do que transforma vidas. Segundo Daiane Wolf, gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional, o diferencial está na conexão entre aprendizado e cultura, integrando educação à estratégia de negócios e à identidade do grupo.
O Programa de Desenvolvimento de Líderes (PDL) é dividido em quatro trilhas — de supervisores a diretores — com metodologias ativas, mentorias e jornadas híbridas. A UCP desenha cada trilha com base em diagnósticos internos e traduz o aprendizado em prática. “Não é sobre treinar, é sobre desenvolver para transformar”, afirma Daiane.
A UCP trabalha com parceiros como HSM e SENAI e forma multiplicadores internos para ampliar a capilaridade da aprendizagem. Em apenas um ano, a empresa já percebeu aumento de engajamento e produtividade, além de redução de turnover e reconhecimento GPTW. O próximo passo é incorporar IA para personalizar trilhas e descentralizar educadores, fortalecendo a autonomia das áreas.
Tecnologia e aprendizado que atravessam gerações

Na Nokia Brasil, a educação executiva está integrada à plataforma global Nokia Edu, que reúne cursos sobre tecnologia, liderança e soft skills. Segundo Sophia Ribeiro, diretora de RH, o foco está em manter a companhia competitiva ao longo das transformações tecnológicas. “Temos engenheiros com 45 anos de casa que se reinventaram várias vezes. A educação é o que mantém essa história viva.”
Ela destaca que, pelo fato da Nokia ter um corpo técnico bastante robusto, a empresa adota o modelo de carreira em Y, no qual um engenheiro pode ganhar até mais que um diretor, contudo, não gerencia equipes.
A empresa combina treinamentos técnicos e comportamentais dentro do programa Performance to Win, no qual cada colaborador define com o gestor, metas de desenvolvimento. Mentorias de executivos e o programa Strong Her fortalecem a inclusão feminina na liderança. Em 2021, a Nokia realizou um programa in company com a Harvard University, reunindo executivos da América Latina em um projeto de inovação inspirado no modelo do programa Shark Tank.
Sophia ressalta que embora o ROI formal ainda esteja em construção, os resultados se refletem na longevidade da equipe e na adaptação constante aos novos modelos de negócio, hoje centrados em IA e 5G.
