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As emoções e o medo de sair de casa pós-pandemia

de Patrícia Santos em 8 de setembro de 2020
Crédito: Freepik

Fazer compras em lojas, ir ao cinema, ao trabalho ou a lugares públicos eram atividades que adorávamos desfrutar antes da pandemia. Mas, após tanto tempo em distanciamento, isolamento social e quarentena, para muitos esses eventos se tornaram um verdadeiro pesadelo.

Usar o transporte público com muita gente, participar de reuniões presenciais de trabalho, atividades que sempre foram tão comuns, agora deixam as pessoas preocupadas ou estressadas, antes mesmo de se considerar o risco de infecção.

Tudo isso pode ser resumido à ansiedade pós-confinamento, ou seja, aquele medo ou preocupação de retomar o que antes era considerada uma vida normal ou o chamado FOGO – Fear Of the Going Out – o medo de sair. O resultado é uma nova onda de medo e ansiedade, ocasionada pela simples possibilidade de ter que sair de casa. E é mais comum do que imaginamos.

Após tantos dias vivendo uma nova realidade, ganhamos a terrível sensação de que o único lugar seguro no mundo é o nosso lar e pode realmente parecer muito estranho sair. O perigo mora na perda da confiança das coisas que não fazemos há muito tempo.

Uma pesquisa realizada na Inglaterra mostrou que, após a flexibilização da quarentena e a diminuição das restrições diante da Covid-19, mais de 60% dos britânicos se sentem desconfortáveis ​​com a perspectiva de voltar a frequentar bares e restaurantes, usar transporte público ou ir a um grande encontro, como um evento esportivo. A pesquisa apontou inclusive, o medo até de enviar seus filhos para a escola. Ainda segundo o estudo, mais de 30% dos entrevistados disseram que estão preocupados em ter que voltar ao trabalho ou encontrar amigos.

O mundo já presenciou outras pandemias e, aquelas que tiveram a necessidade de confinamento registraram picos quase universais de ansiedade, depressão e raiva. As pessoas apresentaram dificuldades para regular suas emoções e pesquisadores descobriram que os traumas mais profundos só surgiram após o término dessas crises. Observaram também que pode haver aumento da insônia e abuso de substâncias ilícitas e bebidas alcoólicas.

Por esse motivo, é essencial cuidar da sua saúde mental não somente durante, mas prepará-la também para o pós-pandemia, já que assim como as crises anteriores, essa também vai passar.

Algumas estratégias podem ser adotadas no dia a dia para isso. É preciso, principalmente, que as pessoas diminuam a tensão que está associada à situação ou ao local.

Algumas dicas:

>>  Focar em táticas positivas de enfrentamento como exercícios, meditação, caminhadas ao ar livre (respeitando as normas de segurança atuais e locais) e tomar ar fresco sempre que possível;

>>  Monitorar o seu diálogo interno e se questionar se os pensamentos são úteis ou se estão contribuindo para diminuir a ansiedade;

>>  Diminuir a quantidade de notícias absorvidas sobre a crise, a doença, a situação mundial;

>>  Ao dirigir, ouvir aquela música favorita e se permitir cantar junto;

>>  Enquanto estiver em uma fila ou aguardando para ser atendido, ter sempre a mão aquele seu livro favorito, de enredo leve e que traga uma sensação de calma e conforto;

>>  Se utilizar o transporte público for extremamente necessário, durante o trajeto, procure ver fotos arquivadas no seu celular para evocar boas lembranças da vida, principalmente de eventos antes da pandemia;

>>  Em reuniões de trabalho, lembre-se da importância de compartilhar ideias e manter a empregabilidade neste momento tão difícil que todos estão enfrentando;

>>  Se for necessário realizar uma viagem longa, aproveite para turbinar sua mente com jogos de lógica e atenção focada;

>>  Se conhecer alguém que está ansioso em ter que sair de casa, adicione humor ao dia dessa pessoa e fale sobre si mesmo pode acalmá-lo;

>>  Se sentir-se estressado, cansado ou ansioso, pare e respire calmamente por quatro segundos para inspirar e seis segundos para expirar. Preste atenção somente na sua respiração;

>>  O distanciamento físico não significa que você não tem a possibilidade de ajudar ou ser ajudado. Praticar boas ações durante a crise pode contribuir para nos sentirmos melhores e, de quebra, melhorarmos o mundo.

Muitas mudanças ocorrem pela forma como pensamos nos comportamos e nos relacionamos. Algumas serão temporárias, mas outras potencialmente permanentes, definindo nosso novo normal. Essa ansiedade persistirá por um longo tempo e mudará profundamente a maneira como as pessoas interagem. Mas, não podemos deixar que o nosso medo nos paralise. Somos incrivelmente capazes de nos adaptar a qualquer tipo de situação.

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Patrícia Santos

Patrícia Santos é consultora, escritora e palestrante, docente em cursos de pós-graduação. É especialista em Anger Management (Gerenciamento da Raiva), pela National Anger Management Association – NAMA de Nova Iorque, EUA, onde também é fellow.