O alto índice de desemprego tem dominado o país nos últimos anos. De acordo com dados do IBGE, o Brasil fechou 2018 com 12,1 milhões de pessoas sem trabalho.
E como esse obstáculo pode afetar a vida profissional de muitos brasileiros – mesmo aqueles que possuem uma formação, já que ensino superior não garante sucesso atualmente – surgem sentimentos de insegurança e medo na hora de uma entrevista de emprego. Porém, qual a melhor forma de se preparar para não cair na armadilha do nervosismo, além das famosas “pegadinhas” dos recrutadores na hora “H”?
A resposta, muitas vezes, depende da maneira com que o entrevistador desenvolve a conversa com o entrevistado e, para isso, a humanização ajuda a desconstruir o conceito do “script” engessado de perguntas e respostas “clichê”.
“No modelo tradicional de entrevista, o candidato deve usar roupas sociais, levar o currículo impresso, ficar horas e horas estudando sobre a empresa, além de preparar respostas para perguntas clássicas como: “Cite três dos seus maiores defeitos”, por exemplo. Claro que nem sempre essas questões são erradas, mas perguntas “padrão” de entrevistadores, que exigem respostas prontas de um profissional, não devem ser mais um fator determinante de seleção”, avalia Susanne Anjos Andrade, especialista em desenvolvimento humano.
Para Susanne, dizer que é perfeccionista ou que sabe trabalhar em equipe não define se um profissional está preparado ou não para aquela determinada vaga. “A humanização surge como forma de desconstruir esses padrões e auxilia os recrutadores a encontrar a pessoa certa para aquele cargo, bem como ajudar o candidato na busca de sua satisfação profissional – mesmo com a alta concorrência. Existirão casos em que aquela vaga não se encaixará no perfil da pessoa, mas a empresa pode direcionar o candidato para outro setor”, exemplifica.
A especialista aponta quatro medidas para humanizar as entrevistas de emprego:
Sinergia de propósitos
É essencial que o entrevistador entenda sobre o propósito da empresa para buscar profissionais que se identifiquem com esse mesmo propósito, pois o cuidado deve ir além da contratação. “É um momento de selecionar pessoas que estarão engajadas com a cultura da empresa para que desejem continuar na organização por muito tempo, com brilho no olhar em fazer parte”, analisa Susanne.
Ser estratégico
Um entrevistador deve ter experiência o suficiente para saber identificar se as habilidades do entrevistado se encaixam com os pré-requisitos da vaga, antes mesmo da entrevista. “Além disso, é necessário entender que o bate-papo é uma troca. Assim como aquela pessoa precisa muito do emprego, a empresa também precisa contratar aquele colaborador – que terá sempre algo para agregar”, comenta a especialista.
Criar clima descontraído
Em alguns casos, entrar em um ambiente corporativo, em que haverá outros funcionários trabalhando, pode ser um motivo de pressão para aquele que será entrevistado, principalmente se já estiver muito tempo sem emprego. “Por isso, é interessante que o entrevistador realize o processo seletivo em um café, por exemplo, para que o bate-papo flua de uma forma mais natural e deixe ambos os lados mais confortáveis”, diz Susanne.
Dar retorno para os candidatos
Nem todos os recrutadores sabem disso, mas passar um feedback para os candidatos, mesmo que o retorno seja negativo, é fundamental para o crescimento profissional. “Isso porque, muitas vezes, os entrevistados ficam se questionando no que erraram e o que poderiam ter feito de diferente para conseguir.
Por isso, uma medida muito humanizada é avisá-lo, seja por telefone ou e-mail, e de preferência dar uma feedback sobre as razões que levaram a empresa optar por outro candidato, indicando as habilidades que o entrevistado deve procurar desenvolver”, sugere.
Para Susanne, enxergar o candidato como um ser humano é uma atitude fundamental para criar proximidade e um vínculo inicial que serão importantes em uma possível contratação futura.
No entanto, mesmo que a humanização traga muitas vantagens para os dois lados, é importante ressaltar que deve-se manter um equilíbrio e não se esquecer que o momento é uma entrevista de emprego, e que haverá vários concorrentes disputando a mesma vaga. “Por isso, manter a calma, agir com naturalidade e ter autoconfiança é o segredo. E o mais importante: o desemprego não deve fazer com que o candidato sinta-se inseguro, e nem pode ser um problema para o recrutador. Todos merecem uma nova oportunidade”, finaliza.