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Automatizar ou libertar-se. Eis a questão

A inovação pode estar ligada ao simples fato de pensarmos de uma maneira mais simples - e pensar simples não é tão simples quando parece

de Vinicius Debian em 23 de julho de 2021

Tenho participado de muitas conversas sobre inovação. Muitos acreditam que a ela está sempre correlacionada à automatização, que se tornaram sinônimos. Será mesmo?

Eu, que defendo tanto o conceito do minimalismo, seja no âmbito pessoal ou nos negócios, me sinto na obrigação de promover aqui um breve debate: a inovação pode estar ligada ao simples fato de pensarmos de uma maneira mais simples.

Simplicidade e Foco. Essas duas palavras, na minha concepção, são sinônimos da inovação no mundo moderno em que vivemos hoje. E que fique claro: pensar simples não é tão simples quando parece.  E esse não é um desafio percebido unicamente por mim, mas por figuras emblemáticas do nosso tempo atual, como Ray Dalio e Steve Jobs.

Poucas coisas, coisas melhores

O primeiro, criador do fundo de investimentos dos mais lucrativos do mundo, defende que “qualquer tolo pode fazer algo de modo complexo. Mas é preciso um gênio para simplificar”.  Já o segundo – fundador de uma das empresas mais icônicas dos últimos tempos, a Apple, manteve-se fiel ao mantra de sua empresa até os seus últimos dias, que se resumia a quatro palavras: “poucas coisas, coisas melhores”.

Aliás, o falecido magnata da Apple estava definitivamente no campo minimalista. Os produtos que ele ajudou a criar na empresa costumam ser alguns dos designs mais simples e elegantes já lançados em todo o mundo.

Quando Jobs voltou para a Apple no final dos anos 1990, fez com a empresa parasse de trabalhar em muitos produtos de sua linha. Em seu lugar, ele criou uma versão reduzida de produtos, com foco na alta qualidade. Ele supostamente adorava dizer “não” às ideias para manter o foco, uma característica que seu sucessor, Tim Cook, continuou a seguir.

Pensar simples dá trabalho

E assim, seguindo referências tão fortes, retorno à minha provocação inicial: pensar simples dá muito mais trabalho do que automatizar as coisas. Nem sempre automatizamos coisas que fazem bem para as nossas vidas ou para os nossos negócios.

Muitas vezes, o caminho da inovação esta associado a fato de nos libertarmos. Ou seja, renunciar àquilo que não faz mais sentido para você ou para o seu negócio. Libertar-se muitas vezes pode lhe dar mais condições para que você possa focar, se especializar e verdadeiramente inovar naquilo que realmente fará a diferença.

A liberdade para tomar as suas decisões, por mais simples que elas pareçam, escancaram as portas para um cenário mais profícuo para a inovação. Hoje, existem várias ferramentas, além de um ecossistema riquíssimo pronto para ser utilizado por meio da tecnologia, e que muitas vezes não passa pelo caminho habitual e corriqueiro da automatização, mas sim da liberdade.

Liberdade sim

Da liberdade da decisão de não fazer mais aquele trabalho ou aquela atividade internamente, ou decisão de que aquele processo não será feito mais ali, dentro das quatro paredes da sua organização.

Liberdade para dizer não, ou simplesmente pra dizer sim. Para aceitar que um ecossistema forte e dinâmico pode assumir parte do trabalho que você fazia, ou que você não quer fazer mais.

Liberdade para aceitar que existem ferramentas prontas, que não automatizam, mas sim, transformam a maneira como você entrega o seu produto ou serviço.

Entendeu agora que a inovação está muito mais associada com o ato de libertar-se do que com o auto de automatizar?

Assunto da moda

A automatização tornou-se o assunto da moda, presente nas rodas de conversa nos finais de semana entre amigos e, principalmente, em reuniões demoradas de empresas. Para muitos profissionais, é necessário automatizar sempre, e a qualquer custo: uma atividade, um processo, uma área. O sonho destas pessoas é automatizar qualquer coisa.

Acontece que a automatização, muitas vezes, nos prende, tomando conta de nossas ideias e de nossos centros de custo. O automatizar muitas vezes nos faz perpetuar um erro, e nos elimina a chance de real de ressignificar.

Jobs também gostava de dar conselhos sobre “poucas coisas bem-feitas” a outros empresários de que gostava. Diz a lenda que quando o CEO da Nike, Mark Parker, ligou para Jobs em busca de conselhos em 2006, o fundador da Apple disse a ele: “A Nike fabrica alguns dos melhores produtos do mundo. Produtos que realmente desejamos. Mas você também fabrica muita merda. Basta se livrar das coisas ruins e se concentrar nas coisas boas.”

Simples? Pois é, este é o nosso desafio.

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Vinicius Debian

Empreendedor, mentor e podcaster do “Faça Parte do Futuro”