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Bem-estar corporativo é estratégia para prevenir doenças e sustentar resultados

Saúde física e mental no trabalho fortalece a produtividade, cumpre a legislação e promove a felicidade organizacional

de Redação em 3 de setembro de 2025

O bem-estar corporativo já não pode ser tratado como um benefício acessório dentro das empresas. Ele se consolidou como pilar estratégico para prevenir doenças, reter talentos e sustentar a produtividade.

O tema ganhou força com a escalada de problemas como ansiedade, insônia, dores crônicas e, principalmente, o burnout. Segundo relatório global do BCG, 48% dos trabalhadores em oito países lidam hoje com sintomas de esgotamento.

O estudo mostra ainda que o sentimento de inclusão reduz pela metade esse risco, evidenciando o papel central de culturas corporativas baseadas em escuta e pertencimento.

Doenças silenciosas e o corpo que fala

Ana Cristina Campos, gerente de Saúde na Accenture

Para Ana Cristina Campos, gerente de Saúde na Accenture, médica do trabalho há duas décadas, o crescimento dos transtornos mentais é um reflexo direto das transformações sociais e da pressão sobre as organizações. “Nosso corpo fala e isso é uma forma de nós estarmos falando”, afirma. Ela observa que, depois da pandemia, houve um aumento expressivo nos casos, tanto em frequência quanto em gravidade.

Segundo a especialista, “o mundo corporativo não é diferente da sociedade. Vivemos nesse espaço como em um espelho, e os transtornos mentais também se manifestam ali”.

O desafio, explica, está na natureza menos palpável dessas doenças: não se trata de fraturas ou cortes, mas de condições muito mais sutis, como irritação persistente, distúrbios do sono ou crises de ansiedade.

Impactos econômicos e sociais

Sergio Amad, CEO da fiter

O problema já se traduz em números alarmantes no Brasil. De acordo com Sergio Amad, CEO da Fiter, em 2024 foram registrados 470 mil afastamentos por questões de saúde mental. O dado representa crescimento de 68% em relação ao ano anterior. “Isso gera um impacto direto de 15% no PIB”, calcula Amad. “Fora o impacto na vida das famílias. Hoje, saúde mental é uma pauta de saúde pública, de segurança pública e de economia.”

O executivo lembra que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking global de ansiedade e estresse, atrás apenas do Japão. “Na América Latina, os fatores de estresse se somam: corrupção, violência, desemprego e excesso de trabalho. Essa combinação aumenta a pressão sobre as empresas, que precisam investir em prevenção.”

A nova exigência da NR-1

A pressão regulatória também cresceu. A aprovação da Norma Regulamentadora nº 1, que entrou em vigor em maio deste ano, tornou obrigatória a gestão de riscos psicossociais, incluindo estresse, assédio e burnout.

Rochelli Kaminski, diretora de Recursos Humanos na Lotisa Construtora

Para Rochelli Kaminski, diretora de Recursos Humanos na Lotisa Construtora, trata-se de um marco. “O burnout foi reconhecido como doença do trabalho em 2022. É uma doença contemporânea, resultado direto de pressões de alta performance e de ambientes tóxicos.”

Ela lembra que a pandemia acentuou esse cenário. “A lógica de produtividade cobra disponibilidade permanente. As pessoas sentem culpa por não alcançar metas e vergonha de admitir que têm depressão ou outra doença mental. Isso corrói a segurança psicológica necessária para trabalhar bem.”

Segundo Rochelli, “ambientes tóxicos, assédio moral e falta de escuta acabam somatizando no corpo. Irritação, insônia e doenças psicossomáticas são sinais de alerta que precisam ser levados a sério.”

A banalização do sofrimento

Ana Cristina, da Accenture reforça que o burnout não surge de forma repentina. Ele é resultado da exposição prolongada a estresse não gerenciado. “Um ambiente psicologicamente saudável é aquele em que o funcionário pode levantar a mão, dizer que algo não está bom, sem medo de represálias.”

A médica alerta para a banalização do sofrimento. “Dificuldade para dormir, cansaço constante, perda de paciência: esses são sinais claros. Mas como não há cortes ou fraturas, tendemos a não levar a sério. E isso agrava o problema.”

Felicidade medida em números

Se antes falar em felicidade no trabalho soava como discurso abstrato, hoje o conceito é traduzido em métricas concretas. Pesquisas mostram que empresas que priorizam saúde mental podem ser até 25% mais produtivas e reduzir o turnover em 65%.

Marisa dos Santos, gerente de Gente e Gestão na ESPM

Se antes falar em felicidade no trabalho soava como discurso abstrato, hoje o conceito é traduzido em métricas concretas. Pesquisas mostram que empresas que priorizam saúde mental podem ser até 25% mais produtivas e reduzir o turnover em 65%.

Na ESPM, a gerente de Gente e Gestão, Marisa dos Santos, explica como transformar o tema em indicador estratégico. “Elaboramos um questionário chamado mapeamento de saúde, analisado por uma equipe médica. Ele abrange carreira, saúde, endividamento e bem-estar. A escuta ativa é essencial para entender se os programas atendem às expectativas.”

Segundo ela, “é preciso comprovar via indicadores a estratégia de felicidade. Não pode ser discurso vazio, mas uma política clara de cuidado e de segurança emocional.”

Felicidade e resultados de mãos dadas

Rafael Jaworski, diretor de Gente e Gestão no Grupo Romitex

No Grupo Romitex, a visão é semelhante. O diretor de Gente e Gestão, Rafael Jaworski, afirma que não é possível sustentar resultados sem cuidar da felicidade no trabalho. “Não adianta ter felicidade sem resultados, nem resultados sem felicidade”, diz. “Segmentamos a pesquisa de clima por área e setor para criar planos de ação específicos. Só assim conseguimos atacar as questões reais de cada grupo”, completa.

Jaworski lembra que, em alguns casos, o básico é mais urgente do que programas sofisticados. “Não adianta implantar um grande projeto de felicidade se o banheiro dos funcionários tem mau cheiro. É preciso resolver as necessidades mais elementares”, exemplifica.

O papel do RH como guardião

Maurício Chiesa Carvalho, gerente de RH e Responsabilidade Social na Tamarana Tecnologia Ambiental

Para Maurício Chiesa Carvalho, gerente de RH e Responsabilidade Social na Tamarana Tecnologia Ambiental, a missão do RH é dupla: cuidar dos colaboradores e engajar a alta direção. “O desafio é conseguir o apoio dos líderes e stakeholders. Precisamos fazer o letramento da felicidade para que o tema seja compreendido e tratado com seriedade”, afirma.

Carvalho cita pesquisas de Harvard que relacionam felicidade ao alinhamento de valores. “Quando recrutamos de acordo com o fit cultural, a percepção de felicidade é muito maior. Valores compatíveis são fundamentais para sustentar bem-estar.”

Ele conclui com uma metáfora forte: “Quer conhecer uma empresa? Comece pelo banheiro. Assim como cuidamos do cliente externo, precisamos cuidar do interno. Felicidade é uma jornada, não um destino.”

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