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Burnout: quando o cuidado com as pessoas se torna a melhor estratégia de negócios

É preciso reconhecer que pessoas saudáveis são a base de negócios sustentáveis

de Felipe Carnicelli Iotti em 7 de abril de 2025
Freepik.com

Imagine um profissional que, aos poucos, perde o entusiasmo, o brilho no olhar e a energia que um dia o destacou. Chega mais cedo, sai mais tarde, mas parece nunca alcançar os resultados de antes. O cansaço se torna um companheiro diário, o prazer pelo trabalho desaparece, e a sensação é a de correr em uma esteira que nunca desliga. Esse é o burnout, uma síndrome que não distingue cargo ou experiência: afeta tanto quem está há décadas na empresa quanto quem mal completou o primeiro mês de estágio.

A verdade é que nenhum colaborador se desgasta sozinho. O esgotamento é um sintoma de algo maior: um sistema organizacional que, mesmo sem intenção, ignora limites humanos. Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome. Por trás desse número, há histórias reais: mães que não conseguem desligar o notebook para brincar com os filhos, jovens que trocam horas de sono por metas inatingíveis e líderes que, pressionados por resultados, não enxergam a exaustão da própria equipe.

Para enfrentar o burnout, é preciso ir além de palestras motivacionais ou dias de massagem. O primeiro passo é ouvir — de verdade. Pesquisas de clima focadas em saúde mental, com perguntas diretas sobre carga de trabalho e reconhecimento, revelam padrões invisíveis a relatórios tradicionais. Canais anônimos de feedback permitem que colaboradores relatem pressões sem medo de julgamento. E conversas individuais entre líderes e equipes devem ir além de métricas, abordando desafios emocionais.

Redesenhar processos é igualmente importante. Ferramentas que analisam a distribuição de tarefas evitam sobrecargas crônicas, enquanto pausas obrigatórias — intervalos de 10 a 15 minutos a cada duas horas — interrompem a espiral de estresse. Políticas de desconexão, como a proibição de e-mails após o expediente, restauram a fronteira entre vida pessoal e profissional.

Líderes têm papel central nessa transformação. Treiná-los para identificar sinais precoces de burnout, como irritabilidade ou isolamento, e substituir cobranças por reconhecimento genuíno (“agradeço seu esforço”) muda dinâmicas tóxicas. Quando gestores tiram férias de verdade e respeitam horários, inspiram suas equipes a fazer o mesmo.

Flexibilidade real significa mais que home office: horários adaptáveis para cuidar de filhos ou pais idosos, jornadas de quatro dias (como na Microsoft Japão, que elevou a produtividade em 40%) e bancos de horas para “descanso mental” são exemplos práticos. Projetos que alinhem propósito pessoal e profissional — como voluntariado ou desenvolvimento de habilidades — também fortalecem o engajamento.

Apoio à saúde mental precisa ser tangível. Parcerias com plataformas de terapia oferecem acesso a psicólogos online, licenças garantem tempo para recuperação, e workshops ensinam técnicas como respiração diafragmática para gerenciar estresse.

Transparência é a chave: comunicar crises abertamente e revisar políticas regularmente evita metas irreais. Empresas que reconhecem erros e ajustam processos constroem confiança.

Em conclusão, o burnout não é um problema individual, mas organizacional. Empresas que investem em culturas de respeito aos limites humanos colhem resultados tangíveis: retenção de talentos, inovação e reputação sólida. Não se trata de “mimar” colaboradores, mas de reconhecer que pessoas saudáveis são a base de negócios sustentáveis.

Afinal, empresas não são feitas de planilhas, mas de pessoas. O futuro do trabalho é humano — ou não será. E cuidar das pessoas não é um custo, mas o melhor investimento que uma empresa pode fazer.

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Felipe Carnicelli Iotti

Diretor de Gente & Gestão da Gi Group Holding, multinacional italiana reconhecida como uma das líderes globais em soluções dedicadas ao desenvolvimento do mercado de trabalho