Comunicação interna

Cultura da inovação: como a comunicação interna fomenta a mudança nas empresas

Inovação requer boa comunicação e uma cultura guiada pela aprendizagem para estimular a experimentação e o diálogo entre os colaboradores

de Priscila Perez em 8 de setembro de 2023
A inovação na comunicação interna Foto: Reprodução/vecstock/Freepik

A comunicação interna é o ponto de partida da inovação. A partir do diálogo, cria-se um ambiente de confiança onde as pessoas se sentem encorajadas a experimentar novos caminhos, dando espaço às boas ideias. Quando a comunicação flui, impulsionando as trocas entre colaboradores e lideranças, qualquer empresa pode se transformar em um terreno fértil para processos cada vez mais inovadores – que vão desde a implementação de recursos tecnológicos até a reorganização das relações de trabalho. Da ideia ao produto final, a novidade pode acontecer das mais variadas formas: é tecnologia tanto quanto atitude.

Mas que fique claro: como já dizia Albert Einstein, “uma pessoa que nunca cometeu um erro nunca experimentou nada novo”. Em outras palavras, o erro também faz parte desse processo de evolução, que é pautado por tropeços e muito aprendizado.

Quem nunca errou que atire a primeira pedra

Carolina Prado é head de Comunicação da Intel
Carolina Prado é head de Comunicação da Intel

Segundo Carolina Prado, diretora de comunicação da Intel na América Latina, o desafio nesse cenário de evolução contínua reside em promover uma cultura aberta ao erro que valorize o processo de experimentação. “Se não tiver falha, não tem inovação. Para inovar, você precisa testar coisas diferentes e nem sempre vai acertar. Por isso, cabe à comunicação interna, junto com o RH, a missão de criar um ambiente que não só permita os erros, mas que também possibilite às pessoas conversar sobre eles de uma maneira transparente”, reflete a executiva.

Em empresas que têm como propósito a inovação, as falhas são encaradas como oportunidades e não somente como fracassos. Na Intel, por exemplo, os colaboradores são incentivados a compartilhar não apenas seus acertos, mas também os erros cometidos ao longo da jornada. Para impulsionar essa mentalidade, o time de comunicação interna criou até um prêmio chamado “Fracasso do Trimestre“. “É inusitado dizer que compartilhamos os fracassos. É algo diferente, mas que serve de exemplo. E acredite, é uma premiação super concorrida porque as pessoas querem mostrar que realmente estão aprendendo”, conta.

A relação entre cultura, inovação e comunicação interna

Especialista em inovação e comunicação interna
Fabio Josgrilberg, professor da FGV

Nesse contexto de inovação, a comunicação interna desempenha um papel crucial não apenas na divulgação desses processos criativos, mas também na construção do que conhecemos como “cultura de inovação”. É o que aponta o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fabio Josgrilberg, doutor em inovação social, criatividade e inteligência empresarial. “Ao estimular os processos criativos, a comunicação cria espaços onde as pessoas podem testar ideias, aprender, melhorar e seguir adiante”, explica.

O professor da FGV enfatiza que a área de comunicação desempenha um papel duplo: ela promove e, também, dá sustentação ao fluxo de ideias – que também não deixa de ser um ciclo de comunicação, como ele próprio exemplifica. “Quando uma ideia surge, é natural compartilhá-la com alguém. Posteriormente, outra pessoa colabora na avaliação. Existe todo um fluxo de comunicação até, de fato, chegar a um processo, serviço ou produto inovador.”

Todos na mesma direção

No papel de alicerce da inovação, a comunicação interna é o que impulsiona a colaboração entre equipes, conectando-as aos valores, estratégias e objetivos da empresa. Porém, esse senso de unidade não existe de fato sem o protagonismo das lideranças. São elas os agentes responsáveis por orientar e alinhar os colaboradores em torno de metas comuns, facilitando a troca de ideias e o acesso às informações.

Alexandre Pellaes é pesquisador e especialista em novos modelos de gestão e futuro do trabalho
Alexandre Pellaes, professor da PUC-RS

A criação de um ambiente inovador depende muito dessa interação, como aponta Alexandre Pellaes, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), pesquisador e especialista em novos modelos de gestão e futuro do trabalho. “As lideranças desempenham um papel central na criação de uma cultura que valoriza a inovação. Uma liderança autêntica não apenas inspira, mas também ouve e apoia, e isso só existe de fato quando há também suporte emocional, empatia e, claro, foco no desenvolvimento de pessoas e negócios”, explica o mestre em psicologia do trabalho.

Novas ideias surgem quando as pessoas se sentem ouvidas e valorizadas, e isso, segundo ele, é fundamental para impulsionar a inovação dentro das empresas. “A força de uma equipe reside na diversidade de pensamento e experiência de seus membros. Portanto, o diálogo com as lideranças é fundamental para criar um ambiente onde todos se sintam encorajados a contribuir”, crava. Do contrário, sem o envolvimento ativo das lideranças nesse processo de comunicação, torna-se inviável realizar qualquer ação dentro das organizações.

Processos de inovação e comunicação interna

Mesmo depois de estabelecida a inovação, a comunicação continua presente, estimulando o ambiente criativo e garantindo o compartilhamento de informações entre todas as áreas. Por meio dessa conexão intersetorial, os colaboradores passam a olhar diferente para a empresa e pensar “fora da caixa”, sem restringir a reflexão à área da qual fazem parte. É uma questão cultural, da nossa própria dinâmica social. É o que aponta Fabio Josgrilberg, da FGV.  “Você precisa abrir processos de comunicação com outras áreas e, também, para fora da empresa para estimular insights novos. Não adianta ficar chamando, por exemplo, sempre as mesmas pessoas para terem ideias novas, pois elas terão ideias parecidas”, reflete o professor.

Foto: Reprodução/creativeart/Freepik

Desse modo, se não há investimento em comunicação interna, muito provavelmente a falta de diálogo com os colaboradores vai comprometer a capacidade da empresa de se manter competitiva. É essa interação que garante a adaptação da empresa ao mercado e suas tendências. “Sem um diálogo efetivo, provavelmente não vai existir inovação na empresa. Sem repertório, variedade de ideias e perspectivas, você vai repetir o que sempre faz”, explica o especialista. Por isso, é fundamental abrir o processo de comunicação para que a inovação seja impulsionada por diferentes visões de mundo, inclusive de fora da empresa.

Inovando em todo lugar

Pode até parecer clichê, mas a inovação está em todo lugar. Em ambientes organizacionais saudáveis, as boas ideias não estão limitadas a cargos ou segmentos específicos. Embora as empresas concentrem sua atenção em desenvolver produtos inovadores ao cliente final, a realidade é que a inovação pode prosperar em todos os cantos de uma organização.

Nas palavras de Nêmora Reche, diretora de Comunicação Corporativa da Syngenta Brasil, empresa líder em desenvolvimento de tecnologias para o mercado agrícola global, a comunicação interna, ao compartilhar conteúdos relevantes, demonstra aos colaboradores que a inovação não é somente um valor emoldurado na parede. Ele está, de fato, muito presente na vida da organização. Estamos sempre buscando novas e melhores formas de fazer o que fazemos”, aponta a executiva. São processos internos que englobam produtos, tecnologias e dinâmicas, inclusive de comunicação com colaboradores.

Nêmora Reche, responsável pela comunicação interna da Syngenta
Nêmora Reche, da Syngenta

Na Syngenta, a inovação não se limita apenas à pesquisa; também existe espaço para novas abordagens que agregam ainda mais valor à empresa, transformando a experiência dos agricultores em diferentes frentes. Um exemplo disso é a “Syde”, fintech que atua como um hub digital para conectar produtores ao mercado de crédito e soluções financeiras. Nesse caso, a inovação é o fator que fundamenta o projeto, uma vez que as fintechs já nascem com o propósito intrínseco de oferecer soluções inovadoras.

As ferramentas da inovação

Mas nem toda inovação envolve recursos altamente tecnológicos ou disruptivos. A novidade é tudo aquilo que nos ajuda a superar os desafios diários. Pode ser algo simples, mas com impacto. E na comunicação interna, isso pode significar, por exemplo, a criação de um perfil público nas principais redes sociais voltado aos próprios colaboradores, como fez a Intel com o @weareintel. A diretora de comunicação da empresa, Carolina Prado, explica que o perfil dá visibilidade às histórias dos funcionários, cerca de 130 mil em todo o mundo, ao mesmo tempo em que reforça a Intel como marca empregadora. “É uma maneira inovadora de falar com as pessoas e comunicar nossas coisas, sem exigir uma supertecnologia”, pondera.

Nesse sentido, a diretora de Comunicação Corporativa da Syngenta, Nêmora Reche, complementa: inovar também é repensar as próprias ferramentas de comunicação. Na empresa, a inovação se deu por meio de um podcast, que surgiu como uma solução para garantir o compartilhamento de conteúdo com as equipes mais distantes. “A inovação é olhar para as nossas próprias práticas e dizer o que podemos fazer de diferente pelo nosso público. E isso também envolve conhecer e ouvir o colaborador, que é uma das funções da comunicação interna.”

Inovação e comunicação interna: uma sinergia que impulsiona as empresas
Foto: Reprodução/Freepik

Porém, como ela própria destaca, nem toda inovação vai funcionar 100%. São muitas variáveis envolvidas nesse processo, isso sem falar nas preferências dos colaboradores. De qualquer forma, Nêmora acredita numa cultura de consenso, em que as ideias são desenvolvidas em conjunto com a combinação de diferentes perspectivas e a presença de uma governança clara. Essa somatória faz com que as idéias amadureçam bem, de forma consistente. “Na Syngenta, quando chegamos a uma conclusão, é algo tão forte porque foi construído com a contribuição de todos. E a comunicação impulsiona essa ideia através dos aplicativos e das redes sociais.”

Conexão a partir da inovação

Em resumo, a inovação requer a compreensão de que a comunicação com colaboradores, independentemente do formato, é essencialmente uma ferramenta para construir relacionamentos. A explicação é de Alexandre Pellaes, pesquisador e especialista em novos modelos de gestão e futuro do trabalho.

Sejam essas melhorias de natureza técnica ou tecnológica, elas têm o poder de promover conexões psicológicas, acelerar a construção de uma base de confiança e criar narrativas que geram identificação e engajamento com o público-alvo. “Em outras palavras, a inovação na comunicação interna é uma combinação de intenção e ação, capacitando as organizações a construir laços mais fortes com seus colaboradores”, conclui Alexandre.

Conheça a sua audiência

Pensar de forma inovadora é embarcar em uma aventura fora da zona de conforto, sem ter a menor certeza do resultado que será alcançado. No entanto, para não ser um voo às cegas, a diretora de comunicação da Intel, Carolina Prado, destaca ser imprescindível conhecer muito bem a sua audiência.

Pesquisas de clima e métricas de avaliação de desempenho, segundo ela, fornecem dados valiosos que podem transformar insights em planos verdadeiramente inovadores. E aqui vale uma brincadeira: quanto mais rápido você erra e identifica o erro, mais rápido pode ajustar sua ideia. Carolina explica a lógica: “são informações que ajudam a impulsionar as estratégias e a entender se você está no caminho certo”. Portanto, quando há dados, torna-se possível recalcular a rota, se necessário.

Diagnóstico e análise

Kleiton é especialista em marketing digital e performance
Kleiton Reis, professor no Senac de SC

Dados e experiência são fatores fundamentais para a tomada de decisões, sobretudo no campo da inovação. Sendo assim, um plano de comunicação interna pautado deve necessariamente incluir o diagnóstico e a avaliação contínua das ações implementadas. Segundo Kleiton Reis, especialista em marketing digital e performance, além de professor no Senac de Santa Catarina, por meio de um diagnóstico bem executado, é possível identificar quais tecnologias são mais eficazes para atingir determinado público, por exemplo. Além disso, a análise de dados ajuda a esclarecer de forma nítida as necessidades dos colaboradores.

Porém, no caso da comunicação interna, também é fundamental realizar análises qualitativas que mensuram a experiência do colaborador. Kleiton enfatiza que os números são impessoais, enquanto a comunicação é essencialmente uma questão humana. “Isso requer proximidade e diálogo. A junção disso é chave para uma comunicação mais assertiva, que precisa ser tratada pelas empresas como estratégica e não apenas como operacional”, complementa.

A comunicação é o que impulsiona a inovação
A comunicação é o que impulsiona a inovação. Foto: Reprodução/rawpixel.com/Freepik

A dimensão da inovação na comunicação interna

Embora o aprendizado seja um dos pilares da inovação, é preciso dimensionar o projeto da melhor forma, seja na área de comunicação interna ou em qualquer outro setor, para que o processo criativo não seja retraído. Isso significa, na prática, “falhar barato” a partir de pequenas experiências que, à medida que provem seu valor, possam ser ampliadas.

Se o projeto é grande demais, a chance de falhar é igualmente alta, além de custosa. “Você pode errar, mas dentro de um ambiente controlado. O aprendizado vem a partir da compreensão do que está acontecendo. E quando o projeto já nasce ‘gigante’, dá muito trabalho para ajustar, o que acaba frustrando as pessoas envolvidas. Por outro lado, com o piloto em menor escala, você deixa aquele gostinho de quero mais”, complementa a diretora de comunicação da Intel, Carolina Prado

É testar, adaptar e aprimorar, evoluindo aos poucos até validar a ideia. É tudo muito rápido, segundo o professor da FGV, Fabio Josgrilberg. Até mesmo na comunicação interna, o princípio se assemelha à prototipagem rápida, que envolve a criação de protótipos de baixa qualidade, mas que evoluem rapidamente, sem demandar um alto investimento.

Mudanças velozes

Devido à velocidade com que a inovação acontece dentro e fora das empresas, é importante ter em mente que mudanças em excesso podem estressar os colaboradores. Por ser uma área tão fundamental, a comunicação interna tem como responsabilidade acompanhar as tendências e adaptá-las às necessidades dos funcionários.

Diálogo para compartilhar ideias
Foto: Reprodução/Freepik

Contudo, é igualmente crucial encontrar um equilíbrio entre a busca pela inovação e o bem-estar. Segundo Fabio Josgrilberg, um dos princípios básicos da chamada “gestão de mudança” é avaliar o impacto e a quantidade de mudanças em curso. “Se tiver excesso, vai estressar os colaboradores e atrapalhar todas as mudanças de uma vez só. Em vez de estimulá-los a inovar e trocar ideias, essas inovações acabam se tornando até incômodas”, explica o doutor em inovação social, criatividade e inteligência empresarial.

Inovar é errar e aprender, ouvir e dialogar, como um exercício que deve ser incorporado à cultura da empresa para se obter bons resultados. Para Fabio Josgrilberg, essa é a essência da inovação. “Você precisa garantir segurança psicológica para que as pessoas possam trocar ideias. É ter um espaço físico e simbólico, onde elas se sintam seguras para errar e testar coisas novas”, finaliza. Agora que você sabe o que é inovação, abra um espaço na sua agenda, reúna seus colegas, crie um ambiente que estimule a criatividade e deixe a comunicação fluir.


Diálogo na comunicação: informações relevantes

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