Desde o nosso nascimento, vivemos diversas adaptações no meio em que estamos inseridos. Nos primeiros meses de vida, o bebê possui muitos desafios fisiológicos, que variam desde aprender a sugar para se alimentar até entender tudo o que sente e, de alguma forma, comunicar o seu desejo ao seu cuidador. Estamos aprendendo, interpretando e nos ajustando ao meio em que vivemos desde sempre.
Inicialmente, os acontecimentos gerais em nossa vida podem nos parecer insolúveis ou até mesmo com um peso emocional maior do que podemos suportar, mas os dias nos mostram caminhos e formas de convivermos dentro da nova realidade, algo muito positivo e favorável na natureza humana.
Com o coronavírus, grande parcela da população mundial está sendo submetida a viver em isolamento social. Com isso, as pessoas estão sendo forçadas a revisitar lugares internos que estavam adormecidos há muito tempo, por causa da rotina corrida e, muitas vezes, por não dar prioridade a si mesmo. Fato é que podemos usar esse revés a nosso favor e, como sempre, nos adequar a este novo cenário da melhor maneira possível.
Muitas empresas estão se mobilizando e orientando seus colaboradores nesta fase de quarentena, com muitas atividades que possam agregar à vida de cada indivíduo – seja no âmbito pessoal ou profissional. Por mais que as instituições estejam oferecendo essas direções, cabe a cada um buscar a melhor forma de se adaptar ao momento que estamos vivendo.
Na empresa em que atuo como executiva de RH, estamos realizando atividades para preservar a saúde física, emocional e social dos nossos colaboradores. Durante este mês de quarentena, observamos que as iniciativas feitas para apoio emocional têm mais adesão que as outras. Muitas pessoas que nunca se permitiram sentir angústia ou ansiedade, pelo menos não tinham tempo de se perceber assim, estão com essas emoções e sensações afloradas devido ao distanciamento social. E já que aflorou, por que não olhar? Não é pecado ter dificuldade em lidar com a emoção, pelo contrário, é natural. Por isso, se eu pudesse deixar um roteiro, escreveria os passos abaixo como caminho:
1. Assumir e falar (tornar público)
Assumir o que estamos sentindo e falar sobre isso para alguém.
2. Buscar ajuda profissional
Entender que você pode pedir ajuda profissional para aprender a lidar com os sentimentos e emoções. Não há necessidade de resolvê-los sem suporte. Contar com um psicólogo para desenhar um caminho de autoconhecimento pode ser mágico.
3. Buscar o que lhe dá prazer
A partir do momento em que você buscou entender o que sente e pensa, fazer a manutenção de tudo isso, inserindo em sua rotina atividades que tragam prazer real e que possam se tornar uma dedicação sem peso, proporcionam leveza e te levam direto para o momento presente.
4. Observador de si mesmo
Estar disposto a ser um constante observador de si, entender seus mecanismos, seus limites, suas fortalezas e aprender a se respeitar dentro daquilo que “está” – afinal, ninguém é nada!
Incentivar a prática de autoconhecimento nos levará a uma sociedade livre de diversos problemas sociais que enfrentamos atualmente
Quando temos a musculatura do autoconhecimento bem desenvolvida, ou seja, conseguimos olhar para dentro de nós e perceber “do que somos feitos” (qual nosso repertório, quais as crenças), o que nos intimida, o que nos dá medo, o que aciona nossa raiva, o que aciona nossa ansiedade e tantas outras emoções, passamos por qualquer circunstância mais preparados e fortalecidos. Afinal, a “ferramenta” de autoconhecimento não é para mudar a si próprio, mas para entender quais são nossas limitações e, a partir delas, saber como lidar.
Incentivar a prática de autoconhecimento nos levará a uma sociedade livre de diversos problemas sociais que enfrentamos atualmente. Para as empresas, ter um colaborador com o olhar para dentro, certamente trará o sucesso para fora.
Gostaria de deixar, neste texto, uma receita de bolo, de como podemos construir uma vida plena e feliz ou até mesmo de como podemos passar por este momento de quarentena com tranquilidade. Porém, a maior contribuição que posso deixar é a lembrança de que a nossa realidade é construída por nós; sendo assim, pode ser reconstruída a cada momento e essa tarefa está apenas em nosso poder e de mais ninguém.
Não existe uma fórmula mágica, mas podemos nos tornar disponíveis emocionalmente para entender quanto é importante ser alguém melhor para nós mesmos e para os outros, e essa construção é individual e intransferível.