
A sustentabilidade das empresas só é verdadeira quando nasce das pessoas que constroem seus resultados. Para Antonio Linhares, executivo de RH e conselheiro, não existe transformação ambiental, social ou de governança sem líderes conscientes do impacto humano de cada decisão. Ele observa que o primeiro passo para consolidar uma cultura sustentável é compreender que propósito e desempenho caminham juntos. “A liderança sustentável é, acima de tudo, uma forma de cuidar das relações e de desenvolver potencialidades”.
Segundo Linhares, a base dessa nova liderança está na coerência entre o que se fala e o que se pratica. “As pessoas observam muito mais o que o líder faz do que o que ele diz”, reforça. O comportamento ético, portanto, é o verdadeiro alicerce das organizações que desejam perenidade. A liderança, afirma, precisa ser um exemplo vivo de integridade, empatia e compromisso coletivo. “Esses atributos definem a confiança que mantém as equipes unidas e engajadas, mesmo em tempos de incerteza”, completa.
A liderança como espelho da cultura corporativa

Na Eldorado Brasil, Elcio Trajano Jr., CHRO da companhia, destaca que a liderança sustentável é um reflexo direto da cultura organizacional. Segundo ele, tudo começa pelo alinhamento de valores, o chamado fit cultural. “Se o profissional não compartilha o nosso jeito de pensar, o resultado não se sustenta”, afirma. Na opinião do executivo, alinhamento cultural é o ponto de partida para formar líderes que entendam o negócio, respeitem as pessoas e estejam preparados para gerir diferenças.
De acordo com Trajano, o que sustenta essa coerência de valores são programas estruturados, feedbacks contínuos e momentos de escuta ativa. Ele destaca que a empresa cria fóruns e encontros abertos para ouvir ideias, construir soluções e fortalecer o sentimento de pertencimento. “Precisamos de espaços para falar de pessoas, não apenas de resultados. É assim que formamos líderes de verdade. Essa prática mantém a cultura viva, faz evoluir o diálogo e transforma aprendizado em comportamento visível”, reforça.
Competências sustentáveis: empatia, coerência e visão de longo prazo
A liderança sustentável não se limita a resultados imediatos. Ela envolve visão de longo prazo, empatia e responsabilidade coletiva. Para Linhares, a liderança do futuro combina técnica com sensibilidade, dados com humanidade. “O líder sustentável é aquele que entende o impacto das próprias decisões e age com consciência de legado”, afirma. Ele lembra que não basta desenvolver competências técnicas. “É preciso cultivar virtudes humanas que garantam relações saudáveis e produtivas”, complementa.
Essas competências sustentáveis, segundo ele, são o novo capital da liderança moderna. “Escuta ativa, respeito às diferenças e capacidade de criar conexões genuínas tornam-se essenciais. A força de um líder não está na autoridade, mas na confiança que desperta. Essa transformação cultural exige tempo, consistência e coragem para revisar práticas antigas”. E começa, como reforça Linhares, “pelo reconhecimento de que nenhuma estratégia é maior que as pessoas que a executam.”
Diversidade geracional: o novo campo de aprendizado

Na Itaúsa, a convivência entre diferentes gerações tornou-se um laboratório vivo para o desenvolvimento de novas competências de liderança. Claudia Meirelles, head de Pessoas & Cultura, afirma que o diálogo intergeracional é hoje uma vantagem competitiva. “Temos profissionais de 18 a 80 anos e aprendemos todos os dias com essa diversidade”, comenta. Essa amplitude de idades exige líderes capazes de compreender contextos, adaptar linguagens e equilibrar perspectivas.
Claudia explica que o papel da liderança é criar pontes entre mundos distintos. Os profissionais mais jovens trazem velocidade e curiosidade, enquanto os mais experientes carregam profundidade e história. “Precisamos unir entusiasmo e sabedoria. Esse é o desafio da liderança contemporânea”, afirma. A Itaúsa promove encontros entre gerações, revisa práticas e incentiva o diálogo aberto. A troca constante se torna combustível para inovação, engajamento e construção de propósito coletivo.
Ética e coerência: fundamentos de uma cultura sólida
Os três executivos concordam que ética e coerência são as âncoras invisíveis da liderança sustentável. Claudia ressalta que o compliance, quando entendido apenas como norma, perde força. “Na Itaúsa, tratamos compliance como comportamento cotidiano, não como burocracia”, explica. “O código de conduta, nesse contexto, deixa de ser um manual para se tornar um guia vivo de atitude e exemplo”, afirma.
Essa coerência também está presente nas práticas da Eldorado Brasil. Trajano relata que a companhia nasceu com princípios sólidos e que o código de conduta é uma ferramenta estruturante para o crescimento responsável. “Ele orienta como contratamos, nos relacionamos e entregamos resultados. É o nosso norte ético”, afirma. Segundo o CHRO, essa estrutura se complementa com canais de escuta, programas de integridade e lideranças treinadas para agir com transparência. “O objetivo é simples: criar ambientes nos quais respeito e confiança sejam inegociáveis”.
O papel do líder diante da diversidade humana
Liderar, segundo Trajano, significa lidar com complexidades humanas. A diversidade de gerações, formações e origens torna o papel do líder ainda mais estratégico. “Lidar com pessoas é desafiador porque não existe fórmula pronta. Cada indivíduo carrega uma história única. Essa multiplicidade exige sensibilidade, capacidade de adaptação e aprendizado constante”, destaca.
O executivo acredita que o RH moderno precisa atuar como ponte entre gerações. Adaptar ferramentas, ajustar processos e personalizar a comunicação são atitudes fundamentais. “Um líder preparado é aquele que entende que diversidade não é obstáculo, é força coletiva”, afirma. “A liderança sustentável, portanto, nasce da compreensão de que o respeito é a base da inovação e que pessoas diferentes geram resultados mais consistentes”, reflete.
Tecnologia e a reinvenção do papel da liderança
A transformação digital trouxe um novo teste de maturidade para as lideranças. Claudia Meirelles vê a inteligência artificial como a revolução mais veloz e desafiadora já enfrentada pelas organizações. “A IA não é projeto de tecnologia, é projeto de comportamento. Exige mudança cultural”, afirma. Segundo ela, essa mudança envolve preparar pessoas, atualizar mentalidades e estabelecer parâmetros éticos para o uso responsável das ferramentas.
Na opinião da head de Pessoas da Itaúsa, a inteligência artificial acelera aprendizados e amplia a colaboração. “O entusiasmo que surge quando alguém aprende algo novo é contagiante”, diz. A Itaúsa aposta em jornadas colaborativas de aprendizado, nas quais os profissionais exploram a tecnologia juntos e compartilham descobertas. Essa prática fortalece a curiosidade, desperta a criatividade e torna o uso da IA mais consciente e produtivo.
Inteligência artificial com propósito humano
Na Eldorado Brasil, a inteligência artificial já apoia o RH em análises preditivas e processos seletivos. Elcio Trajano afirma que a tecnologia libera tempo para que os líderes dediquem mais atenção às pessoas. “A IA gera eficiência, mas precisa de responsabilidade e vigilância constante”, alerta. Ele reforça que a ferramenta deve apoiar a tomada de decisão, nunca substituí-la. “O desafio é garantir que os algoritmos não reproduzam vieses e que as escolhas continuem humanas e justas”, comenta.
O uso ético da IA é um divisor de águas, na opinião dos três executivos. Empresas que adotam essa tecnologia com consciência ampliam a confiança interna e fortalecem sua reputação. “A liderança do futuro é aquela que combina empatia com inteligência digital”, resume Linhares. “A tecnologia deve amplificar a sensibilidade humana, não substituí-la. O líder sustentável é aquele que entende que dados só têm valor quando servem ao bem-estar coletivo”, completa.
A formação contínua como pilar de sustentabilidade
O desenvolvimento de líderes requer investimento contínuo em capacitação e aprendizagem. Na Eldorado, programas de formação combinam competências técnicas e comportamentais, estimulando o protagonismo dos gestores. Trajano explica que a empresa aposta em academias internas e fóruns de troca para renovar o conhecimento. “O aprendizado é constante. As lideranças precisam de espaço para escutar, refletir e compartilhar experiências”, afirma.
Na Itaúsa, a estratégia é semelhante. Claudia ressalta que preparar líderes é um processo dinâmico, que precisa considerar as diferentes fases de carreira. “Trabalhamos com líderes de A a Z, dos mais jovens aos mais experientes. Cada um tem uma jornada única”, pontua. Segundo ela, essa atenção personalizada reforça a sensação de pertencimento e estimula o crescimento conjunto. “Liderança sustentável é, portanto, também um exercício de desenvolvimento humano”, conceitua.
Liderar é preparar o futuro
Ao olhar para o futuro, os executivos concordam que liderar com sustentabilidade é um ato de responsabilidade. Antonio Linhares resume: “Liderar é cuidar do que vem depois. É pensar no legado das decisões diárias”. Essa visão traduz a essência das competências sustentáveis: unir propósito e performance, empatia e estratégia, pessoas e resultados.
A liderança do futuro será mais colaborativa, menos hierárquica e profundamente humana. Ela exigirá equilíbrio entre razão e emoção, entre eficiência e cuidado. Como destaca Claudia Meirelles, “nenhum líder evolui sozinho. É na troca que aprendemos e é na escuta que o futuro se constrói”. Sustentabilidade, nesse contexto, deixa de ser uma meta externa e se torna uma prática viva, capaz de transformar empresas, comunidades e o próprio conceito de sucesso.
Assista aos debates do 4º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação
Os temas discutidos nesta reportagem também fizeram parte dos debates do 4º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação, que reuniu executivos e especialistas para aprofundar a relação entre cultura organizacional, liderança e sustentabilidade. Durante o evento, reflexões sobre ética, diversidade, tecnologia e comportamento reforçaram que o futuro das empresas depende diretamente da capacidade das lideranças em equilibrar propósito, performance e impacto humano.
Os painéis do primeiro dia podem ser assistidos aqui.
Os painéis do segundo dia podem ser assistidos aqui.
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