Carreira e Educação

Curiosidade formando nômades na carreira

de Jussara Goyano em 30 de janeiro de 2020
Créditos: Shutterstock

Segundo pesquisa, o perfil que possui curiosidade tem, em média, 2,5 vezes mais chances de se tornarem nômades na carreira

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Certamente você já deve ter ouvido – e muito provavelmente dos pais – que, o ideal para uma carreira profissional de sucesso era entrar para uma empresa e nela permanecer por muitos e muitos anos, e que trocar de emprego em um curto espaço de tempo complicaria sua imagem profissional.

Diante do cenário atual, onde vivenciamos constantes mudanças nos perfis do profissionais, no mercado e nas relações de trabalho, preciso te dizer que esta história mudou. Este mesmo profissional, que anos atrás ganhou fama de “pula-pula” – por mudar constantemente de emprego -, hoje é visto de outra maneira, com destaque, respeito e atenção pelos gestores e recrutadores.

Segundo levantamento elaborado em 2019 pela Korn Ferry, pessoas com alta tolerância à ambiguidade têm, em média, 2,5 vezes mais chances de se tornarem nômades de carreira, isto é, indivíduos que alternam de emprego e empresas em um ritmo mais rápido que os outros. Já as pessoas altamente curiosas têm cerca de 2,2 vezes mais chances de aderir a este perfil profissional.

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Curiosidade no trabalho impulsiona inovação e crescimento

“O profissional nômade não tem sua motivação, pura e simplesmente, na busca de “um querer” consciente. Eles não buscam somente novas experiências em diferentes organizações, mas exercem, muitas vezes de modo inconsciente, algumas das principais competências da transformação digital, na condução de suas carreiras: resiliência e a velocidade para adaptar-se rapidamente às mudanças”, explica Eliane Leite, professora e coordenadora do MBA RH e da Formação em RH do IAG PUC-Rio.

Já para a diretora de Transição de Carreira & Gestão da Mudança – América Latina da LHH, Irene Azevedo, com o cenário de transformações nos negócios, onde conhecimento pode não ser o maior um valor maior, as empresas passam a valorizar as experiencias que estes profissionais tiveram e que comprovam algumas competências que são, segundo Irene, facilidade em aprender e desaprender, adaptação, coragem e resiliência. “E quando se tem a coragem de mudar de emprego e se comprova a facilidade de adaptação, quando se consegue mostrar realizações pelas passagens nas organizações, estas organizações começam a valorizar este tipo de profissional”, finaliza a diretora.

O influência da transformação digital no perfil do novo profissional

Parece mesmo que a palavra transformação é uma importante peça desse quebra-cabeça que busca entender a principal e melhor estratégia para a adaptação das organizações às mudanças desses profissionais e, claro, por onde começar para encontrá-los

Estamos falando aqui da transformação digital, responsável por redefinir conceitos, práticas, modelos e perfis em diversas situações, como no mercado de trabalho. A chamada 4a. Revolução Industrial é a base disso, que fomentou importantes mudanças no mercado, profissionais e meios de produção.

Eliane Leite faz uma importante comparação desse perfil nômade, na situação de mudança de carreira e empresas, com uma outra bastante conhecida a falada ultimamente: nômade digital. Segundo a professora, ambos partem da mesma origem: a transformação digital.

“Também, fala-se muito do nômade digital, como sendo aquele indivíduo que faz uso da tecnologia para trabalhar remotamente e, muitas vezes, em diferentes organizações, simultaneamente, ao redor do globo terrestre, sem sair do local onde vive, cotidianamente”, complementa Eliane.

Fica clara a necessidade de que este novo perfil de profissional, com curiosidade, agilidade e facilidade em adaptação aos meios e à produção, terá mais habilidades de lidar com o futuro do mercado de trabalho e das profissões do que qualquer outro, quando observamos que, segundo pesquisa realizada por acadêmicos da Universidade de Brasília (UnB), no Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações, sobre o impacto da automação no mercado de trabalho, revelou que 54% dos empregos formais no Brasil estão amaçados por máquinas.

Mas, não é um caminho de mão única. “Parem as maquinas!” Sim! Nem tudo é tecnologia, inteligência artificial, dados etc. A interpretação humana e a empatia ainda são qualidades intrínsecas do ser humano. Há limites quando falamos de robôs fazendo o trabalho que uma pessoa faz. Segundo os autores do estudo, “ocupações associadas a valores humanos como empatia (assistentes sociais), cuidado (babás) e interpretação subjetiva (críticos de artes) devem ser mantidas no curto/médio prazo, mesmo
com a ascensão de tecnologias de ponta”.

Diante deste cenário, que não é mais novidade, o mercado de trabalho e, principalmente os profissionais responsáveis pelo recrutamento, devem levar em consideração como um passo estratégico, avaliar o comportamento desse novo perfil. “O mercado parece, muitas vezes, “esquizofrênico: busca profissionais com competências digitais, portanto, pessoas que têm profunda estima por mudar e ao mesmo tempo querem um profissional estável”, comenta Eliane Leite, que completa: “O mercado, pensando na grande maioria das organizações no Brasil, ainda me parece conservador, valorizando atributos que muito brevemente emperrarão ou inviabilizarão o seu futuro próximo”.

Curiosos ou não, nômades profissionais ou não, o mundo está mudando e mexendo muito com o mercado de trabalho. É preciso que todos os atores envolvidos reconheçam estas transformações, que o modelo do passado serviu muito bem à sua época, mas que agora é necessário dar espaço ao futuro.

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