A busca pela sensação de bem-estar no ambiente de trabalho vai muito além de a empresa oferecer bons líderes, fazer a manutenção do clima, coibir qualquer tipo de assédio ou promover ações que mirem a qualidade de vida dos colaboradores. Cuidar para que um profissional esteja bem consigo mesmo, em alguns casos, extrapola a parte de saúde física e entra na seara da emocional, levando em consideração aspectos como autoestima e a percepção que o profissional tem de si mesmo. Nesse sentido, algumas companhias estão se abrindo para o mercado de produtos e serviços focados em tratamentos estéticos para seus colaboradores. O que pode ter tido como embrião o oferecimento de salões de beleza para as funcionárias, agora, estrutura-se como um benefício complementar à assistência médica disponibilizada, permitindo a realização de procedimentos estéticos, em geral barrados pelos planos de saúde tradicionais. Bom para o funcionário e bom para as operadoras que pensam em atuar ou já atuam nesse nicho, como é o caso da CarePlus.
Herald Landy, diretor executivo da empresa, confirma o aumento da demanda por tratamentos estéticos por parte de empresas e de profissionais. “Como estamos inseridos em um mercado altamente competitivo, manter um aspecto físico saudável, ter cuidado com seu corpo e sua pele, informalmente, hoje, faz parte do manual de etiqueta corporativa. Até porque o cuidado estético no mundo corporativo transcende a busca pela beleza”, ressalta.
Essa busca também pode ser sentida por meio de outro levantamento. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, houve um aumento de 30% na procura por procedimentos estéticos nos últimos anos. Esse crescimento é percebido, também, entre a população masculina, que a cada ano investe mais na imagem como reflexo do bem-estar.
De acordo com Erika Barcelos, diretora médica do Personal System, empresa de prevenção e promoção à saúde da CarePlus, a medicina estética e as áreas afins tiveram crescimento além do esperado nos últimos anos. “Acreditamos que os procedimentos se tornam cada dia mais acessíveis, despertando mais confiança nos resultados esperados, em função dos avanços tecnológicos, pela constante pesquisa de novos produtos e pela sólida experiência dos profissionais que se destacam nessa área”, comenta.
Problema de peso
Em alguns casos, a procura por tratamentos estéticos é motivada por questões que envolvem preconceito e saúde física. Um exemplo disso é a obesidade, problema que, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta mais de um bilhão de pessoas no mundo – número que pode chegar a 1,5 bilhão antes de 2015.
Além de outros impactos negativos que o excesso de peso pode causar à saúde, como diabetes, por exemplo, uma outra doença de fundo corporativo também pode prejudicar, e muito, a vida profissional e emocional de alguém nessas condições: o preconceito.
Uma pesquisa feita no ano passado pelo Catho Online junto a 16 mil pessoas dá uma ideia disso. Segundo o levantamento, 69% dos profissionais têm alguma rejeição contra pessoas obesas. E quanto mais alto o cargo, menos obesa espera-se que seja a pessoa. Os dados do estudo mostram que 15,8% dos entrevistados têm muita rejeição para presidentes e diretores obesos e 10,4% para gerentes e supervisores. E o preconceito também já começa nos processos de recrutamento e seleção. Recentemente, no estado de São Paulo, um grupo de professores que prestaram concurso para a rede de ensino público foram reprovados, fato foi amplamente divulgado pela imprensa, por serem obesos.
A justificativa é de ordem estética ou de saúde? Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), conta que alguns estudos mostram que colaboradores obesos e com baixa qualidade de vida representam um potencial custo com licenças médicas e queda de produtividade. Esse é um lado de saúde que não se pode negar. No entanto, Ogata entende que funcionários que têm contato direto com os clientes necessitam de um cuidado estético maior.
Mas ele levanta outra questão: a de que existe uma grande procura por mão de obra em algumas funções, o que significa afirmar que a aparência não conta muito quando a demanda existe. “Não acredito que uma empresa deixe de contratar um excelente profissional de TI somente por ele ser obeso. Hoje, o talento suplanta a estética, mesmo ela sendo importante. Generalizar isso como uma tendência do ambiente corporativo não é real”, ressalta. “Considerando-se o raciocínio proposto pelos recrutadores que não contratam obesos, eles não poderiam admitir também os hipertensos, diabéticos ou com colesterol elevado. As empresas deveriam selecionar os candidatos pelos seus conhecimentos e habilidades e oferecer suporte para que melhorem seu estilo de vida e vivam melhor.”
Nesse sentido, para o presidente da ABQV, além do desafio de vencer esse preconceito, as empresas devem suplantar outro obstáculo. Mais precisamente quando se fala em programas de qualidade de vida: sensibilizar a alta administração das empresas sobre a consistência dos resultados dessas ações e, ao mesmo tempo, respeitar a necessidade do indivíduo. Afinal, esses programas só farão sentido quando proporcionarem mais saúde e bem-estar às pessoas, de acordo com as suas necessidades.
Na DuPont do Brasil, por exemplo, a saúde e a qualidade de vida são encaradas de forma diferenciada, como conta Lorene Marciano, gerente do serviço de saúde integrada da empresa. O departamento médico não é dividido em saúde ocupacional e atendimento assistencial, mas, sim, possui uma abordagem holística e integral do indivíduo. A companhia acredita que a pessoa é apenas uma, seja dentro ou fora do trabalho, e que da mesma forma que ela influencia o ambiente de trabalho, este também influencia a vida privada dela. A missão do departamento é realizar a gestão das questões de saúde, estimulando um estilo de vida e um ambiente de trabalho saudáveis e com grande energia. Lorene enfatiza que após, o início de suas atividades, o funcionário é convidado a participar do Programa Wellness, que consiste em uma avaliação de risco de saúde. “As informações obtidas permitem que o médico e o funcionário possam determinar qual o status da saúde desse profissional. Por meio desse programa, o serviço de saúde integrada obtém um diagnóstico epidemiológico da localidade e, assim, os programas podem ser elaborados de forma consistente e sustentável”, diz.