Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor / Crédito: Divulgação |
Pela via da etimologia, descobrimos que preocupar-se quer dizer pré-ocupar-se, ou seja, ocupar-se de algo que exige atenção, dedicação e energia, antes do tempo exato em que essas qualidades sejam, de fato, necessárias. Pela ótica da lógica primária, preocupar-se seria então, além de desnecessário, inútil.
Este é um lado da história. O outro é que não há como resolver questões intrincadas, atender a momentos graves e viver em tempos difíceis, sem dedicar tempo ao pensamento reflexivo necessário ao amadurecimento das ideias e à consulta ao arsenal de memórias que funcionam como munição de ataque às dificuldades. Por esse ângulo, preocupar-se, ou ocupar-se a tempo, é necessário e útil.
Procuremos lançar uma nova luz sobre essa equação. Em tempos difíceis, e no tempo que os antecede, talvez seja adequado não se preocupar, e sim ocupar-se, uma vez que não se previnem nem se enfrentam dificuldades apenas com intenções, muito menos com sentimentos aflitivos. A ação é necessária. O movimento que cria a força capaz de romper as barreiras da dificuldade. Este é o caminho do enfrentamento da crise, da sobrevivência aos tempos difíceis, bem como da recuperação e do reposicionamento.
Em tempos assim ocorre uma diminuição natural ao campo reservado ao erro. Quando uma crise nos assola, parece que perdemos o direito de usar o tempo para experimentações. Precisamos urgentemente de encaminhamentos mais precisos, decisões mais acertadas, providências mais lógicas. Toda decisão parece se transformar em um fato binário, representado por adequado e inadequado, urgente e não urgente, importante e não importante, certo e errado. E, simplesmente, não podemos errar. Esta é a fonte de toda a preocupação.
Pode parecer reducionista, mas lembremos que, quando o matemático inglês George Boole propôs, em Leis do pensamento, que a lógica iniciada pelos gregos da Academia alcançaria sua melhor performance se fosse binária, estava, sem saber, criando, com um século de antecedência, as bases para a revolução da informática, sem a qual hoje não teríamos a alta ciência, além da dificuldade que teríamos para realizar até nossas tarefas mais elementares.
Em síntese, toda decisão, escolha ou ação transforma-se na causa de um efeito que, por sua vez, será a causa de efeitos posteriores. Essa relação de causalidade que conduz nossos destinos torna-se ainda mais dramática quando as margens que acomodam o erro se tornam mais estreitas. É o que acontece em tempos difíceis.
Atualmente, empresários e trabalhadores, executivos e donas de casa, fabricantes e lojistas, políticos e eleitores estão preocupados. No fundo, pessoas, tentando entender e buscando agir de forma correta. Por isso, esta reflexão neste momento, em que a crise econômica surge, provocada por outras crises: a administrativa, a política e a moral. Estas são as que realmente merecem nossa preocupação.