As universidades corporativas deixaram de ser estruturas internas de capacitação para se tornarem ecossistemas de aprendizagem corporativa dinâmicos, abertos e colaborativos.
Hoje, empresas de diferentes setores entendem que conhecimento é ativo estratégico e precisa circular entre colaboradores, parceiros e comunidades. Esse movimento rompe as barreiras entre internas e externas das organizações e cria formas de geração de valor social e econômico.
Estudo publicado pela Universidade Federal de Goiás, aponta que 26 universidades corporativas já estendem cursos para fornecedores, clientes e comunidade (ver quadro abaixo).
Como resume a especialista em aprendizagem corporativa Rosa Argolo, “o conhecimento não tem mais centro, porque todos ensinam e todos aprendem em rede.”
Segundo ela, essa transformação redefine o papel das universidades corporativas e exige das empresas novas competências de curadoria, design instrucional e integração de saberes.
Aprender com o mercado e não apenas dentro dele

Para Rosa Argolo, que pesquisa modelos emergentes de aprendizagem, o segredo está em conectar empresa, sociedade e inovação contínua. “As organizações perceberam que a educação ocorre em um ecossistema vivo, que se retroalimenta e se desenvolve por interdependência”, explica.
Segundo ela, compartilhar conhecimento fortalece a cultura e amplia o valor do negócio, pois “quanto mais se distribui, mais se gera riqueza coletiva.”
O aprendizado aberto, portanto, deixa de ser tendência e se torna imperativo estratégico para empresas que desejam evoluir de forma sustentável. “Conhecimento compartilhado gera propósito e sustentabilidade”, afirma Rosa, “pois propósito social e resultado são lados da mesma moeda.”
Aprendizado que conecta colaboradores e clientes

Na MV, multinacional do setor de tecnologia para a saúde, a UniMV nasceu de uma necessidade técnica e tornou-se plataforma estratégica de aprendizagem. “A universidade corporativa começou com foco em implantações de sistemas, mas evoluiu para uma estrutura multidisciplinar e robusta”, explica Elaine Monteiro, diretora corporativa de Gente e Gestão da MV.
Hoje, a UniMV desenvolve trilhas de conhecimento para colaboradores e clientes, atuando na mitigação de gaps e disseminação de boas práticas. “Acreditamos que a educação é o motor da nossa cultura de aprendizado contínuo, tanto dentro quanto fora da empresa”, destaca a executiva.
De acordo com Elaine, a universidade mede o impacto com dados precisos, como redução de chamados de suporte, aceleração de implantações e aumento de autonomia dos usuários.
Dados e inteligência para impulsionar a aprendizagem
O uso de inteligência artificial e people analytics reforça o papel estratégico da UniMV como catalisador de inovação. “Usamos IA para otimizar conteúdos e dados para orientar decisões”, afirma a diretora de Gente e Gestão.
Painéis executivos permitem acompanhar engajamento, metas e retorno sobre investimento de cada trilha de capacitação.
Segundo Elaine, essa gestão baseada em evidências garante consistência e transforma o aprendizado em um pilar de produtividade e inovação. “O resultado é um modelo de aprendizagem que combina tecnologia, humanização e impacto mensurável para o negócio e para o cliente.”
Educação que forma colaboradores e comunidade

No Grupo Pereira, a Universidade Corporativa Grupo Pereira (UGP) traduz o aprendizado como ferramenta de transformação pessoal e social. “Acreditamos que o investimento em educação precisa extrapolar o ambiente corporativo”, afirma Paulo Nogueira, diretor de RH do grupo varejista.
A UGP inclui filhos de colaboradores e moradores das comunidades vizinhas, oferecendo cursos e formações voltadas ao varejo e serviços.
Segundo Nogueira, “essa abertura amplia as oportunidades de inserção no mercado e fortalece o vínculo entre empresa, famílias e território.”
Mais de quatro mil colaboradores já foram promovidos após participarem de trilhas internas, reflexo direto da cultura de desenvolvimento contínuo.
Integração entre performance e propósito social
Segundo Nogueira, a UGP conecta performance empresarial e compromisso social por meio de programas práticos e inclusivos.
A Escola de Varejo, em parceria com o Senac, oferece formação híbrida e um hackathon final para resolver desafios reais do grupo. “Queremos revelar novos talentos, aumentar a empregabilidade e transformar vidas por meio do conhecimento”, ressalta Nogueira.
O grupo varejista mantém também escolas de logística, finanças, turismo e atendimento, integradas em uma mesma plataforma de aprendizagem. “A UGP é um laboratório vivo de transformação que conecta resultados de negócio à geração de valor social”, resume o executivo.
Trilhas de aprendizado com tecnologia e propósito

Na Sabesp, a UniSabesp passou por uma profunda reinvenção após o processo de privatização da empresa. “Criamos um grande guarda-chuva no qual todas as ações de desenvolvimento se concentram na universidade”, explica Sabina Augras, diretora de Cultura, Atração e Desenvolvimento.
O novo modelo centraliza trilhas técnicas, gerenciais e corporativas com o apoio de inteligência artificial e plataforma interativa estilo Netflix. “Hoje, qualquer colaborador pode acessar conhecimento personalizado, trilhas por afinidade e comunidades de troca de experiências”, detalha Sabina.
A tecnologia garante retenção, personalização e protagonismo, aproximando o aprendizado da rotina real dos profissionais. Além disso, de acordo com a executiva, o modelo consolida a UniSabesp como referência em inovação e inteligência educacional aplicada ao desenvolvimento de pessoas e negócios.
Do aprendizado interno ao impacto social
Mais do que formar equipes técnicas, a UniSabesp começa a se abrir às comunidades do entorno e a fornecedores regionais. “Já aprovamos um projeto voltado à capacitação de comunidades carentes próximas às nossas operações”, revela Sabina, “focado em empregabilidade.”
A iniciativa prevê parcerias com Senai e Senac, aproveitando os polos físicos da empresa para cursos híbridos e formações técnicas. “A responsabilidade social está intrínseca à nossa estratégia de desenvolvimento humano e inovação”, completa a executiva.
O objetivo é transformar conhecimento técnico em oportunidades reais de trabalho e fortalecimento das economias locais.
O papel da cultura e da curadoria no novo modelo
Para Rosa Argolo, essa abertura representa uma evolução cultural e metodológica nas empresas brasileiras. “As universidades corporativas viram gestoras de comunidades e redes de sentido”, afirma.
Segundo ela, os gestores precisam dominar design de experiências, facilitação de aprendizagem e diagnóstico de ecossistemas complexos.
A curadoria torna-se mais importante que o controle de conteúdo, e a cultura de compartilhamento substitui o ensino unidirecional. “Educação corporativa é sobre criar liberdade e autonomia para aprender em qualquer tempo e lugar”, sintetiza a especialista.
Universidades corporativas abrem as portas para público externo

Fonte: Universidade Federal de Goiás
