No cenário corporativo contemporâneo, a gestão de Recursos Humanos transpôs seu papel tradicional de lidar apenas com questões burocráticas e administrativas. Hoje, o RH desempenha um papel estratégico numa empresa, porque além de contratar, definir salários e até mesmo desligamentos, precisa buscar o equilíbrio entre bem-estar, satisfação e produtividade dos empregados.
No entanto, essa tarefa está longe de ser fácil, especialmente diante das complexidades trazidas pela era digital e pelas mudanças rápidas no ambiente de trabalho. E é o RH que deve perceber o que os funcionários esperam da empresa.
O RH entendeu que as estratégias de benefícios para atrair e reter talentos mudou após a pandemia da COVID-19, assim como a preocupação com o bem-estar emocional dos empregados. Antes da pandemia, os benefícios mais procurados se concentravam, geralmente, em aspectos tradicionais de compensação e desenvolvimento. Após, houve uma mudança significativa nas prioridades dos empregados, refletindo as novas necessidades e desafios trazidos pelo trabalho remoto e pelas preocupações de saúde.
Se até 2019, o funcionário pensava em salários mais altos, planos de saúde médico e odontológico estendido para a família, vale alimentação, vale refeição, vale transporte, licença maternidade/paternidade estendida, férias remuneradas, bônus e outros benefícios, hoje, ele avalia a qualidade. O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, opções de trabalho remoto ou híbrido, horários flexíveis, programas de assistência financeira e planejamento, acesso a serviços de apoio psicológico, programas de saúde mental e de redução de estresse e benefícios financeiros personalizados são muito mais importantes do que apenas o salário mais alto. Essa mudança nas prioridades reflete a adaptação às novas circunstâncias e a crescente importância de um ambiente de trabalho que suporte não apenas as necessidades profissionais, mas também o bem-estar geral dos empregados.
E quando se fala em bem-estar, o emocional não é mais o principal – para os funcionários. Enquanto as empresas ainda priorizam o bem-estar emocional dos empregados, eles esperam ter mais suporte para melhorar o aspecto financeiro. De acordo com a pesquisa Diagnóstico do bem-estar 2023 da WTW, 58% dos empregados querem mais apoio para melhorar o bem-estar financeiro, porém apenas 15% das empresas se preocupam com esse tópico. Ou seja, empresas e empregados têm percepções bem divergentes em relação a esse pilar.
Isso não quer dizer que o bem-estar emocional deva ser deixado de lado, porque junto dele, a estabilidade financeira dos colaboradores é igualmente importante. A incerteza econômica, o endividamento e a falta de educação financeira podem impactar negativamente a produtividade e a motivação no trabalho. Os problemas financeiros desencadeiam uma série de problemas físicos e mentais no funcionário, aumentando a probabilidade de ansiedade ou depressão, de faltas, de não conseguir guardar dinheiro para o futuro, fazendo com que ele se sinta menos engajado e saia em busca de um novo emprego.
Portanto, o RH estratégico enfrenta o desafio de desenvolver iniciativas que capacitem os colaboradores a gerirem, de forma eficaz, suas finanças e alcançarem um equilíbrio saudável entre suas necessidades financeiras e profissionais. Isso pode incluir programas de educação financeira, que atendam às diversas necessidades dos funcionários e políticas de remuneração justas e transparentes. Além disso, oferecer suporte para planejamento de aposentadoria e acesso a recursos de aconselhamento financeiro pode ajudar os colaboradores a construírem uma base sólida para o seu futuro financeiro.
E, apesar de reconhecerem os esforços das empresas para melhorar suas finanças, os empregados esperam ter mais apoio e orientação sobre poupança e investimentos, suporte em questões financeiras emergenciais e melhor conhecimento dos seus benefícios. Eles também acreditam que há espaço para fazer mais: 52% dos entrevistados dizem que a empresa pode obter melhores acordos em produtos financeiros do que o empregado diretamente na instituição financeira, e 53% dos empregados confiam mais nos produtos financeiros oferecidos pela empresa do que os contratados por conta própria.
Equilibrar a saúde emocional e financeira dos colaboradores é um desafio complexo, mas urgente e importante para o RH. Ao enfrentar esses cenários com uma abordagem holística e estratégica, as organizações podem não apenas promover o bem-estar dos funcionários, mas também impulsionar o desempenho e a inovação. Portanto, investir na saúde emocional e financeira dos colaboradores não é apenas uma responsabilidade ética, mas também uma estratégia inteligente para o sucesso organizacional a longo prazo.