Rodrigo Casagrande é professor de pós-graduação do ISAE/FGV e sócio-diretor da Armatta Desenvolvimento Humano e Organizacional / Crédito: Divulgação |
O excelente livro Foco, de Daniel Goleman, traz uma situação vivenciada por Larry David, criador das séries de sucesso Seinfeld e Curb your enthusiasm, a qual me parece bem apropriada para abordar um ponto- chave para o sucesso dos líderes: gerar esperança.
Goleman nos conta que David é do Brooklin, mas viveu a maior parte da sua vida em Los Angeles. Numa rara estada em Manhattan, para filmar episódios de Curb – série na qual ele interpreta a si mesmo –, foi a um jogo no Yankee Stadium. Eis que, quando houve uma pausa no jogo, as câmeras exibiram a sua imagem nos telões. O estádio, em peso, levantou para aplaudi-lo. Estamos falando de quase 50 mil pessoas. Isso é que é ser ovacionado.
Porém, quando Larry David estava indo embora, ainda no estacionamento do estádio, alguém colocou o corpo para fora de um carro que passava e bradou a plenos pulmões: ¨Larry, você é um imbecil!¨. No caminho para casa, David ficou obcecado com aquele único encontro: ¨Quem é aquele cara? O que foi aquilo? Quem faria isso? Por que dizer uma coisa daquelas?¨. Foi como se os milhares de fãs carinhosos com os quais tivera contato naquela noite não existissem, apenas aquela única pessoa.
Considero esse relato impressionante, pois desnuda uma característica presente em grande parte das pessoas: a suscetibilidade à negatividade, beirando o autoflagelo. Isso pode ser muito perigoso. Goleman discorre que focar as coisas negativas ou positivas funciona como uma alavanca para determinarmos como o nosso cérebro opera, e isso tem relação direta com a sensação de bem-estar ou com o caminho para uma depressão.
O fato é que, parafraseando Eça de Queirós, ¨para criticar somos implacáveis¨, e isso vale para a autocrítica. Além disso, tenho a sensação de que as pessoas estão cada vez mais carentes, o que pode gerar fragilidades e incapacidade para administração dos momentos de frustração.
Penso que essa abordagem é muito significativa para enaltecermos a importância dos líderes ressonantes, aqueles que geram um prisma positivo nas equipes – e nas empresas. Isso porque um dos papéis fundamentais do líder é gerar esperança, e a esperança causa mudanças positivas em nosso cérebro e libera hormônios geradores da sensação de bem-estar, nos diz Richard Boyatzis, professor da escola de administração da Case Western.
O fato é que o líder é o termostato emocional da sua equipe. A dois quilômetros de distância, a equipe já consegue perceber qual é o estado emocional do líder.
Por conta disso, é preciso que ele tenha consciência da importância do amparo emocional que precisa prover. Ao gerar esperança, o líder vai propiciar uma boa atmosfera de trabalho. Por outro lado, é preciso também reconhecer o efeito devastador que suas críticas poderão causar no comportamento das pessoas, dependendo da sua forma e conteúdo.