Alguns temas relacionados à gestão de pessoas parecem ficar no tempo, escondidos debaixo de uma camada de poeira na mente de gestores e de consultores. Outros reaparecem alinhados a novas modas, mas só mudam na aparência. É a história da roupa nova. Quando comecei minha vida como consultor, os programas de gestão do tempo dominavam o mercado. Hoje, a sensação que temos é que eles ficaram no tempo…
Como sabemos, os modismos contam muito na hora da contratação de eventos. Vocês se lembram da administração por objetivos ou do laboratório de sensibilidade? Pois bem, cabe agora fazer algumas perguntas. Será que esses temas sumiram porque as empresas e seus colaboradores não precisam mais dessas competências? Ou porque temos “consciência” de que sabemos tudo sobre esses assuntos? Será que a “culpa” é dos consultores que fazem sempre a mesma coisa, dando ao produto um ar poeirento? Será por causa das abordagens mecanicistas? Poderíamos ficar horas nos perguntando, sem chegar a qualquer unanimidade.
O caminho da ressurreição de programas como esses passa por algumas estratégias e ações quando da decisão pelo seu desenvolvimento e implantação. O estado de penúria e a falta de credibilidade a que chegam os programas de gestão do tempo, por exemplo, têm origem na ausência de envolvimento das pessoas que condicionam o uso do tempo pelo futuro participante. Não adianta trabalhar efeitos sem tratar antes as causas. A par disso, é bom lembrar que a solução de um problema depende de nossa consciência sobre esse problema, e de seu tamanho (já dizia Freud). Quanto maiores os problemas, mais rápidas as medidas para a solução. Um cuidado especial deve ser tomado ao desenhar o programa; nada de muita tecnologia, informação ou comportamento. O equilíbrio é sempre bemvindo. A dimensão cumplicidade é uma facilitadora das mudanças: quanto mais gente envolvida menor a resistência. O gradualismo é outra dimensão interessante, no que diz respeito à fluidez no processo. Uma alternativa é começar pelo princípio de Pareto, focando os 20% das ações que produzem 80% dos resultados.
As pessoas não adotam comportamentos inovadores com a mesma flexibilidade. Respeite o timing dos outros. “Programar” o tempo do cliente ou do fornecedor costuma ser uma atitude inovadora, não só porque envolve a cadeia de valor, mas pelo fato de ultrapassar os limites da empresa. Para isso, basta definir, de comum acordo, uma agenda prévia.
Tirar os programas de gestão do tempo da síndrome do “primo pobre” a que foram relegados não é tarefa fácil – embora estejamos assistindo a uma luta cada vez maior, nas empresas e fora delas, por espaços nas agendas. A nós, consultores, cabe o papel de “esclarecer” os clientes sobre os erros mais comuns no processo de seleção de quem vai ministrar esses programas, e os aspectos estratégicos e operacionais de seu desenvolvimento. Lembro-me que minha finada mãe ia semanalmente à farmácia. Será que adivinham qual a pergunta que ela fazia ao farmacêutico? “Quais são as novidades?” Moral da história: precisar ela não precisava, mas se houvesse algo novo ela comprava. Agora pense, qual foi a última vez que alguém falou sobre novidades em gestão do tempo?
Luiz Augusto Costacurta Junqueira é CEO do Instituto MVC e diretor do IBCO