
A consolidação das práticas ESG nas empresas passa por um ponto central: a confiabilidade dos dados. Sem métricas precisas, comparáveis e rastreáveis, nenhuma estratégia de sustentabilidade se sustenta por muito tempo. É o que defende Ana Paula Maniá da Matta, gerente de Sustentabilidade do Grupo HDI, ao destacar que a governança da informação é hoje um dos maiores diferenciais competitivos do mercado. “Não há ESG verdadeiro sem governança da informação. O dado precisa ser auditável, transparente e representativo da realidade da companhia”, afirma.
Segundo ela, a maturidade das empresas ainda é desigual, mas o avanço é visível. “Muitas organizações já compreenderam que sustentabilidade é um ativo de reputação e de mitigação de riscos. O desafio agora é garantir que as informações usadas em relatórios e metas sejam confiáveis, verificáveis e consistentes. Isso exige estrutura, processos e responsabilidade compartilhada entre todas as áreas do negócio.”
Gestão de riscos e rastreabilidade ESG
Na HDI, o processo de governança é conduzido com o mesmo rigor aplicado ao setor financeiro. “Trabalhamos com auditorias internas e externas, padronização de indicadores e rastreabilidade dos resultados. Cada dado precisa ter origem, contexto e evidência de veracidade”, explica Ana Paula. Esse controle técnico, segundo ela, cria uma camada de proteção que evita distorções e garante credibilidade aos relatórios de sustentabilidade.
A executiva observa que o avanço da regulação vem forçando empresas a revisarem suas práticas. “Hoje, prestar contas é parte do negócio. A gestão de riscos precisa incluir o monitoramento ESG, assim como o acompanhamento dos indicadores financeiros. As empresas que não fizerem isso, inevitavelmente, perderão competitividade e confiança no mercado.”
Tecnologia e validação de dados ESG

Para Sergio Amad, CEO da fiter, o desafio vai além da coleta. “O problema não é só gerar dados, é validá-los”, ressalta. Segundo ele, muitas companhias ainda dependem de planilhas manuais e controles descentralizados, o que aumenta a margem de erro e compromete a precisão. “A confiabilidade vem da tecnologia. Plataformas integradas, com inteligência preditiva e rastreabilidade em tempo real, eliminam ruídos e trazem segurança para a governança ESG.”
Amad explica que a fiter desenvolve soluções que combinam automação e ciência de dados para simplificar processos e reduzir custos. “Usamos machine learning para identificar inconsistências e padronizar indicadores ambientais, sociais e de governança. Isso reduz o tempo de auditoria, melhora a qualidade das decisões e fortalece a transparência das informações. A tecnologia dá velocidade, mas também traz responsabilidade.”
Integração entre dados, pessoas e processos
Apesar do avanço das ferramentas digitais, Amad reforça que o sucesso depende de uma mudança de mentalidade. “Governança de dados não é responsabilidade apenas da área de sustentabilidade. É uma tarefa transversal, que precisa envolver todas as áreas da companhia”. Segundo ele, as empresas que tratam dados ESG como extensão de compliance conseguem construir uma cultura mais sólida e confiável.
Para o executivo, o futuro da governança ESG está na integração entre sistemas e pessoas. “As plataformas são o meio, mas quem dá sentido aos dados são as pessoas. A tecnologia sozinha não gera confiança; ela apenas a viabiliza. O propósito só se sustenta quando os times entendem o impacto do que reportam e assumem responsabilidade pelo que medem.”
Diversidade e dados sociais como governança

Lívia Lopes, gerente de Sustentabilidade, Impacto Positivo e integridade do Grupo Pernambucanas, lembra que o ESG também se traduz em dados sociais. “Governança é saber medir o impacto das nossas decisões sobre as pessoas. A diversidade, por exemplo, precisa ter indicadores claros. Quantas mulheres estão em cargos de liderança? Quantas pessoas negras participam dos programas de desenvolvimento?”, questiona.
Segundo ela, a governança responsável depende da transparência desses números. “Não é sobre exibir resultados, e sim sobre criar uma cultura que estimula o progresso contínuo. Os dados devem mostrar evolução, não apenas conquistas pontuais”. A Pernambucanas cruza informações de sustentabilidade, RH e negócios para entender o impacto real das políticas corporativas. “Quando tratamos diversidade e inclusão como métricas, transformamos propósito em resultado tangível, que pode ser acompanhado e aprimorado ao longo do tempo.”
Ética e coerência como pilares da governança

Na Itaúsa, a governança ESG é sustentada por uma cultura de integridade. Claudia Meirelles, head de Pessoas e Cultura, afirma que a coerência é o verdadeiro indicador de sustentabilidade. “A cultura da empresa é o filtro que garante a credibilidade dos dados. Quando há coerência entre discurso e prática, a informação se torna confiável e legítima.”
Ela reforça que o papel da liderança é decisivo. “O exemplo vem de cima. O líder precisa ser guardião da ética e da consistência. A governança não é um departamento, é um comportamento organizacional. E esse comportamento só se mantém quando há clareza de valores e responsabilidade compartilhada entre todos.”
Claudia explica que a Itaúsa mantém comitês dedicados à integridade e à governança, nos quais executivos de diferentes áreas discutem dilemas éticos e analisam riscos reputacionais. “Esses fóruns nos ajudam a antecipar problemas e tomar decisões equilibradas. A ética corporativa não se limita a códigos e políticas, mas ao diálogo constante sobre o que é certo. A coerência precisa ser uma prática diária, sustentada pela coragem de questionar, revisar e aprender continuamente.”
Transparência e credibilidade como valor de marca
As empresas que se destacam em governança ESG são aquelas que tratam a transparência como valor estratégico, e não como obrigação. “As companhias que expõem seus indicadores, seus erros e suas correções fortalecem a reputação e atraem investidores mais conscientes”, afirma Ana Paula. Para ela, a transparência cria confiança e dá legitimidade à narrativa corporativa.
Sergio Amad complementa que a confiança se tornou diferencial competitivo. “O mercado vai começar a premiar as empresas que comprovarem o que dizem. ESG não é mais narrativa, é dado validado. É a tradução numérica da credibilidade”. Essa visão vem moldando o comportamento de empresas que entendem que reputação não se declara, se comprova.
O futuro da governança ESG
O avanço da inteligência artificial, da automação e das métricas globais aponta para uma governança cada vez mais técnica e integrada. Lívia Lopes acredita que a próxima fronteira será a unificação dos indicadores. “Hoje, cada empresa mede o que considera relevante. O futuro exigirá padrões universais e sistemas que permitam comparações reais entre organizações e setores.”
Já para Claudia Meirelles, a governança do futuro depende de uma liderança cada vez mais humana. “Não existe dado confiável sem pessoas confiáveis. A integridade começa no comportamento diário, na forma como tomamos decisões, comunicamos e corrigimos desvios. A tecnologia deve apoiar a ética, nunca substituí-la.”
Dados que sustentam a confiança
O caminho para uma governança ESG sólida combina tecnologia, ética e transparência. A construção dessa base requer investimento, integração e, principalmente, comprometimento coletivo. “Não basta medir. É preciso garantir que o dado represente o que realmente está acontecendo dentro das organizações”, conclui Ana Paula.
A soma das práticas de HDI, fiter, Pernambucanas e Itaúsa demonstra que a confiabilidade da informação é o verdadeiro alicerce do ESG moderno. Quando a governança é robusta, e o dado é confiável, o propósito ganha legitimidade e o impacto social se torna mensurável. Empresas que entendem isso estão, de fato, construindo o futuro com base em evidências e valores.
Os temas abordados nesta reportagem também foram debatidos no 4º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação, que reuniu executivos e especialistas para discutir como a governança e a confiabilidade dos dados estão redefinindo o futuro da sustentabilidade corporativa e a credibilidade das organizações no Brasil.
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