Como o modelo de trabalho será impactado e quais oportunidades vão nascer após o coronavírus? Para responder essas perguntas, o diretor-executivo da Infobase e coordenador do MBA em marketing e inteligência de negócios digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Miceli, desenvolveu o estudo Tendências de marketing e tecnologia 2020: Humanidade redefinida e os novos negócios.
Segundo Miceli, o home office deve crescer 30% após a crise do coronavírus e é fundamental que os líderes de negócios pensem, testem e compreendam que a tecnologia é, cada vez mais, um ativo humano. O especialista cita como exemplos, o e-commerce e o ensino a distância que, em geral, devem crescer 30% e 100%, respectivamente.
“Diante desse novo cenário, torna-se necessário entender que o passado não é mais um guia para o futuro. O primeiro passo para navegar em um ambiente de mudança é elaborar uma estratégia de crise para resolver prioridades, depois preparar uma estratégia de recuperação e esboçar uma estratégia pós-crise”, explica o especialista.
Miceli ressalta que a adoção emergencial do home office foi a principal delas e com isso as culturas organizacionais e estruturais tendem a mudar. Para ele, a modalidade é um caminho sem volta. “O home office já se mostrou efetivo. Aliado a isso, você tira carros da rua, você desafoga o transporte público, você mobiliza a economia de outra forma. E você faz com que as pessoas tenham mais tempo para cuidar da saúde delas e que elas possam usufruir de coisas que lhe dão prazer. Sem que você tenha uma redução das entregas e do faturamento”, ressalta o professor da FGV.
Outra pesquisa mostra que o número de funcionários de corporações que adotaram esse modelo nos EUA deu um salto de 22% somente entre 2018 e 2019
Ser flexível
Hilmar Becker, country manager da F5 Networks Brasil, concorda com a avaliação de Miceli: “Empresas do Brasil e de todo o mundo que colocaram milhões de funcionários para trabalhar remotamente estão percebendo as vantagens desse modelo. O principal ganho é que o processo produtivo segue em frente e a economia, também. Isso significa empregos preservados. Após a tempestade, parte dos funcionários que aderiram ao trabalho remoto seguirão atuando neste modelo”, diz.
Becker afirma que os dados sobre a adoção do teletrabalho são de antes da covid-19, mas apontam claramente para essa tendência. “Um estudo produzido no início deste ano pela empresa de análise de mercado Global Workplace Analytics mostra que o teletrabalho nos EUA cresceu 140% desde 2005 – somente entre 2018 e 2019, aconteceu um salto de 22% no número de funcionários de corporações que adotaram esse modelo. Outro estudo, desta vez produzido pela empresa de colocação de profissionais FlexJobs, aponta que, em 2019, havia 4,7 milhões de profissionais norte-americanos trabalho remotamente.” Para Becker, essas estatísticas não chegam perto da adesão maciça e mundial a que estamos assistindo. “A gravidade da crise está acelerando o ritmo da transformação das relações de trabalho”, diz.
Nesse sentido, Miceli reforça que, em um momento de instabilidade, como o da pandemia, é preciso ser flexível com estruturas e modelos corporativos para prosperar. Portanto, a comunicação, de acordo com ele, deve ser centralizada em canais específicos para que instruções claras sobre procedimentos continuem na rotina dos clientes, consumidores e colaboradores.
“A adoção de metodologias ágeis também permite uma resposta mais rápida aos novos desafios do dia a dia. O processo de análise, reorganização e tomada de decisão precisa acompanhar o ritmo das mudanças”, destacao professor da FGV.
Mudanças a reboque
E a mundança nas relações de e no trabalho também mudam nestes tempos de home office intenso. Para evitar que o distanciamento social seja algo psicologicamente pesado para muitas pessoas que passaram a trabalhar (e a se isolar) em casa, algumas empresas passaram a usar ferramentas de videoconferência para promover inciativas diferenciadas de confraternização durante a quarentena, como é o caso da NetSecurity, empresa especializada em serviços gerenciados de segurança da informação. Apelidado de Happy hour virtual, a companhia reuniu seus colaboradores para algumas horas de descontração sem sair de casa.
Segundo a gerente de RH da companhia, Bianca Rufatto, foi um momento importante para manter o espírito de equipe. “Esses encontros já são uma prática comum entre os funcionários, seja para comemorar aniversários ou outros eventos. E em razão da nova rotina estabelecida, decidimos manter a prática no mundo virtual, já que a tecnologia permite, e aproveitar o momento para engajar o time e trocar experiências a fim de tentar extrair o melhor nessa fase de isolamento social”, explica.
O encontro aconteceu na última sexta-feira do mês de março e reuniu cerca de 26 colaboradores da empresa, que foram convidados a levarem suas bebidas e petiscos favoritos para a frente do computador e ativar suas câmeras. A dinâmica teve início às 18 horas e foi responsável por quebrar o clima de distanciamento, com direito a muita diversão e playlists musicais durante as três horas de duração do evento online.
“Apesar de ser a nossa primeira tentativa, nós recebemos um feedback muito positivo de todos e já estamos cogitando realizar outras edições. Naquele dia, eu mesmo fui dormir mais contente – realmente tivemos a sensação de terminar aquela semana com a mente mais leve”, comenta Eduardo Castro, analista de RH da NetSecurity.
Para Carlos Barbosa, líder técnico da empresa, o encontro virtual se apresentou como uma resolução muito benéfica para equilibrar a rotina do trabalho remoto. “Quando recebemos o convite, fui um dos primeiros a confirmar a participação. Já estou na empresa há oito anos e sempre tive essa sinergia muito boa com os meus colegas de trabalho. Ter essa oportunidade, durante esse período de pandemia, foi importante para conseguirmos reproduzir aquele ambiente familiar do escritório em nossas casas e tornar essa experiência menos solitária”, relata.
Já para o analista de compras, Ícaro de Almeida, o encontro ajudou a reforçar a ideia que mesmo estando isolados, ninguém da equipe precisava se sentir sozinho. “Especialmente para mim, que faço muita questão de manter o contato pessoal, foi muito importante. Essa iniciativa acabou mostrando uma empresa mais humanizada que se empenha em encontrar maneiras de manter a união de seus colaboradores, mesmo em um período difícil como esse. Foi possível manter a interação com aquelas pessoas que eu estava acostumado a ver todos os dias”, declara o analista.