Nunca se falou tanto sobre produtividade e nunca foi tão difícil manter verdadeiramente o engajamento das pessoas. Entre metas, reuniões e prazos, cresce um vazio que nem sempre é visível: o de quem faz muito, mas já não sente o porquê. E aí surge a pergunta que toda liderança deveria se fazer: o que, de fato, ainda motiva alguém a dar o seu melhor?
Motivação e engajamento se tornaram dois lados de um mesmo desafio. As empresas estão cada vez mais conscientes de que manter as pessoas conectadas ao propósito exige mais do que incentivos: pede escuta, coerência e cuidado. A nova edição do “Índice de Felicidade e Engajamento dos Trabalhadores”, realizada pela Pluxee em parceria com o The Happiness Index, mostra que o engajamento dos brasileiros cresceu 4,2% de 2024 para 2025, mas o País ainda está 5,1% abaixo da média global. As maiores lacunas seguem nas dimensões de crescimento pessoal, propósito e reconhecimento — justamente os pilares que sustentam a motivação.
Índice alto de desmotivação
A pesquisa “Desistência Silenciosa”, também conduzida pela Pluxee, reforça: 20% dos profissionais desmotivados dizem não se identificar com os valores da empresa, e 53% afirmam que raramente são reconhecidos pelo que fazem. São pessoas que permanecem, mas já não pertencem. Esse é um desafio em escala global. Segundo a Gallup 2024, apenas 23% dos trabalhadores no mundo estão engajados, enquanto 62% demonstram desligamento emocional desligados e 15% com desmotivação ativa.
Quando olhamos com atenção para estes fatores, o impacto é direto: empresas com altos níveis de engajamento apresentam 21% mais rentabilidade e 59% menos rotatividade. Engajar, portanto, não é apenas sobre bem-estar. É uma estratégia de competitividade e longevidade. Cuidar das pessoas é o que garante o crescimento sustentável das organizações.
Tendências apontam caminhos para reconstruir a motivação no ambiente de trabalho:
1. Propósito que se vive e se compartilha: as pessoas querem trabalhar em lugares que façam sentido, principalmente as novas gerações. Eles não querem apenas aderir a um propósito definido pela liderança, mas participar da sua construção. Quando há espaço para que cada um contribua com seus valores e perceba o impacto do que faz, o propósito deixa de ser um discurso e se torna uma força coletiva.
2. Crescimento pessoal é o novo benefício: o desenvolvimento é hoje o principal combustível de motivação e engajamento. Mais do que promoções, os profissionais anseiam oportunidades reais de aprendizado e evolução, seja por meio de capacitação, feedbacks ou desafios que os façam sair da zona de conforto. Valorizar o crescimento individual é fortalecer o coletivo: quando as pessoas se sentem em movimento, a confiança e o comprometimento crescem junto.
3. Reconhecimento é o elo invisível do engajamento: reconhecer precisa ser um dos maiores pontos de atenção nas empresas. Paradoxalmente, é um dos gestos mais simples e poderosos para inspirar. Celebrar conquistas, reconhecer esforços e dar visibilidade ao que é bem feito, cria vínculo emocional. Profissionais que se sentem vistos e valorizados tendem a permanecer e entregar mais, porque enxergam sentido no impacto que geram.
4. Segurança emocional e liberdade para ser quem se é: a motivação floresce da confiança. Ambientes onde é possível errar, aprender, propor ideias e ser autêntico reduzem o medo e ampliam a criatividade. O engajamento cresce quando as pessoas podem ser quem são, sem precisar se proteger o tempo todo, tendo suas diferenças e vulnerabilidades respeitadas.
5. Comunicação transparente e liderança próxima: nada mina mais a motivação do que a falta de clareza. Em um cenário de transformações constantes, as pessoas esperam líderes que saibam comunicar o “porquê” das decisões, que escutem com empatia e que compartilhem informações com transparência. A confiança nasce do diálogo, e é nesse espaço de escuta e coerência que o engajamento se fortalece.
6. Pertencimento e diversidade vivida: a diversidade é um valor, mas o pertencimento é a sua tradução no dia a dia. Os trabalhadores querem estar em ambientes onde possam se expressar livremente, ser respeitados e enxergar oportunidades reais de crescimento, independentemente de gênero, idade, origem ou estilo de vida. O sentimento de inclusão genuína desperta motivação e engajamento, porque quem se sente parte de um todo se envolve de forma autêntica e constrói com mais propósito.
7. Bem-estar integral como estratégia, não modismo: o bem-estar precisa ser entendido como algo integral – físico, emocional, financeiro e social. Empresas que olham para esse equilíbrio reduzem o estresse, aumentam a produtividade e fortalecem vínculos de longo prazo. Em um cenário de sobrecarga e hiperconexão, promover bem-estar é um gesto de responsabilidade e, também, uma estratégia de sustentabilidade humana.
Percepção de valor no trabalho
Então, em resposta à pergunta que abre esta reflexão: o que leva alguém a dar o seu melhor não está nas metas, nos benefícios ou nos bônus, mas na experiência diária de pertencimento. É perceber que o que se faz tem valor, que há espaço para crescer, ser ouvido e reconhecido, e que o trabalho contribui para algo maior. Motivação e engajamento se alimentam mutuamente: um desperta, o outro sustenta, e ambos florescem em culturas que valorizam crescimento, liberdade, diversidade, diálogo e cuidado genuíno.
Em um mundo cada vez mais digital, veloz e impessoal, construir motivação é um ato de humanidade. É lembrar que, por trás de cada meta, há histórias, talentos e emoções. Pessoas conectadas, valorizadas e comprometidas transformam qualquer organização em algo maior do que um CNPJ: um espaço vivo de crescimento coletivo.
