Resiliência é a capacidade de superar obstáculos, resgatar um estado saudável com maior maturidade. Crédito da foto: @corbis |
Fazia já algumas semanas que o rapaz percebia que não iria fechar sua cota. Por diversas vezes, já havia escutado uma indireta de seu gerente, com a mensagem de que cabeças iriam ser cortadas. E, poucos meses antes do casamento, isso seria um desastre. A pergunta que mais temos pesquisado na área de RH é: como orientar uma pessoa na situação de elevada e forte tensão que gera insegurança, quando temos o enfoque da resiliência?
Resiliência é a capacidade de superar obstáculos, resgatar um estado saudável com maior maturidade. Mas a que tipo de obstáculo a resiliência se refere? De antemão, podemos dizer que ela não se refere às situações de estresse normais que temos no cotidiano da vida, como um emprego de que não gostamos, e desejamos buscar outro, ou uma separação conjugal amigável ou mesmo a morte esperada de uma pessoa querida. Nesses casos, uma boa dose de inteligência emocional dá conta da situação.
Os obstáculos a que a resiliência se refere vão além. Ocorrem, por exemplo, quando um profissional, por questão de sobrevivência, tem como desafio manter-se no emprego. Outro exemplo é quando a separação consome a saúde e coloca em perigo a estabilidade do emprego e dos filhos. Ou quando a morte chega com alto sofrimento ou acontece cheia de imprevistos e surpresas. Nesses momentos fortes e tensos, não estamos falando de estresse simplesmente, mas de sobrevivência – e, então, de resiliência.
É por essas razões que é possível afirmar que resiliência se refere às fortes e tensas circunstâncias que nos acontecem. Aquelas que ultrapassam os limites do estresse da rotina de vida, ainda que seja a necessidade de desenvolver uma tarefa em nosso trabalho. Se essa situação implicar a sobrevivência do trabalho ou da vida profissional, estamos nos referindo à resiliência.
E como desenvolvê-la?
A partir de 2009, na revalidação da escala de resiliência para adultos, oito áreas foram contempladas: o autocontrole; a autoconfiança; a análise do contexto; a empatia; a leitura corporal; o ato de conquistar e manter pessoas na vida; o otimismo; e o sentido de vida.
A partir dessas áreas, diversas práticas estão indicadas na literatura científica sobre resiliência. Nas organizações, as pessoas que se propõem a estudar tais práticas necessitam levar em consideração o referencial teórico que dá sustentação a essas práticas. Por vezes, uma prática nem sempre se alinha com a teoria que está sendo abraçada para falar sobre resiliência, e, nesses casos, os efeitos são contrários ao bom desenvolvimento. No conceito da “abordagem resiliente”, estruturado a partir da revisão geral da literatura científica em 2009, cinco práticas são tidas como essenciais para o incremento da resiliência nas oito áreas vitais.
A primeira delas é a ressignificação das crenças, que se tornou um método validado para enfrentar situações de desestruturação emocional e comportamental. Essa prática, em tais circunstâncias, é traço essencial para desenvolver a resiliência. É reestruturar as crenças restritivas e limitantes, para transformá-las em crenças que despertam e alavancam os recursos internos pessoais, e que nos fortalecem para enfrentar os obstáculos e desafios.
A segunda prática é a disciplina diária. Manter um estilo de vida disciplinado está intimamente relacionado com a permanência de uma adequada resiliência. Quando uma pessoa mantém o hábito de ter disciplina em sua rotina diária, em geral, ela obtém melhores resultados em seu desempenho. Isso é muito válido tanto na vida profissional quanto na vida estudantil, como na prática de atletas.
A terceira prática está na capacidade de fazer o talento virar habilidades. Muito se discutiu se os resilientes eram pessoas invulneráveis por possuírem talentos excepcionais. Estudiosos debatem essa questão demonstrando que o ponto-chave não era ser talentoso o bastante para ser invulnerável, mas ser uma pessoa vulnerável com excelentes habilidades em áreas essenciais da vida. Essas habilidades trazem em seu interior a curiosidade saudável para atingir o objetivo desejado. Pessoas com elevado grau de resiliência em uma das áreas vitais apresentam desejo intenso de saber mais sobre a situação ou o objeto em que estão envolvidas.
#L# Uma quarta prática se refere ao que os teóricos da inovação chamam de prática deliberada. A conduta que se guia por ela pode ser descrita como “abraçar o assunto” para alcançar algo ou alguma coisa com a deliberada intenção de obter conhecimento e experiência.
E, por fim, o chamado caldo cultural propício. Trata-se de uma educação que resulta em uma herança cultural capaz de se manifestar como gene cultural que se perpetua por décadas na pessoa ou na organização. Podemos citar empresas japonesas ou alemãs como um exemplo típico dessa prática. O caldo cultural proporciona um ambiente de apoio à sobrevivência por favorecer o efeito multiplicador das cinco práticas citadas em determinada pessoa ou equipe.
Em resumo, pode-se dizer que é a geração de crenças favoráveis e não limitantes, que são criadas por uma disciplina em oito áreas da vida, o que favorece que os talentos sejam desenvolvidos como habilidades e não como “dons” especiais, que são vivenciados em uma prática comportamental consistente e, por fim, vivenciados em consonância com a cultura da organização. A concomitância de tais práticas resulta em significativo aumento dos índices de resiliência. Agora imagine os resultados possíveis, se o gestor tiver todos os integrantes de uma equipe assimilando e exercitando tais práticas.