Vamos combinar: depois do home office, ninguém em sã consciência sente saudade das horas perdidas no trânsito, do café requentado ou da reunião que poderia ter sido um e-mail. Ainda hoje, muita gente faz bico quando ouve da chefia o convite para “retornar ao escritório”. Mas o RH está reinventando esse script com o presencial 2.0, um modelo que mistura liberdade, propósito e um toque de bom senso. No lugar da velha rotina, entra em cena uma gestão de pessoas mais inovadora, capaz de transformar o ambiente de trabalho em território de boas conversas, trocas espontâneas e ideias frescas. A presença, aí sim, deixa de ser um protocolo corporativo para se tornar uma experiência coletiva, devolvendo sentido ao “estar junto”.
Mas transformar o retorno em reencontro não é tão simples, embora essa tarefa tenha na sua essência elementos muito humanos, como colaboração, pertencimento e confiança. Então, vem a pergunta: como fazer do escritório um lugar onde as pessoas queiram realmente estar? É aqui que o RH assume um novo protagonismo ao redesenhar espaços, rituais e as próprias relações entre os times, turbinando o modelo presencial 2.0.
Redesenhando o jeito de trabalhar
Para entender como o RH vem conduzindo essa transformação e de que forma a cultura de inovação pode impulsionar o presencial 2.0, ouvimos três especialistas que estão redesenhando o jeito de trabalhar. Raissa Mendes, head de People Brasil na WeWork, enxerga o escritório como palco de conexões genuínas e experiências que fortalecem a cultura. Patrícia Campos, diretora de Gente e Gestão da MAG Seguros, por sua vez, vê o ambiente físico como uma ferramenta viva de colaboração e pertencimento.
Já Priscila Damiani, diretora de RH da Biogen, defende que a arquitetura organizacional é parte estratégica da gestão de pessoas, capaz de traduzir valores e inspirar inovação. Três olhares diferentes, mas complementares, com um ponto em comum: a compreensão de que são as pessoas que movem o trabalho.
Contradição no escritório
Pare um momento e pense comigo: como é que um modelo tão tradicional e, em alguns casos, até engessado, pode se tornar o palco ideal para a inovação? À primeira vista, parece improvável. Mas quando o escritório vira espaço de experimentação, tudo muda. Para Raissa, da WeWork, rede global que oferece espaços para todas as formas de trabalho, o modelo presencial não é a solução para todos os males, mas o palco onde essas soluções ganham vida. “Essa aparente contradição desaparece quando o RH reposiciona o escritório não como um local de controle, mas como um hub de experiências intencionais”, explica.

da WeWork
Na prática, ela enxerga o escritório como um catalisador cultural, onde as relações ganham densidade à medida que as trocas acontecem e novas formas de colaboração surgem. Praticamente um laboratório vivo, de gente falando com gente. Entretanto, isso tudo só faz sentido quando o RH realmente prioriza a experiência do colaborador. “Não se trata apenas de vir para o escritório, mas de vir para quê”, provoca.
E é justamente esse “para quê” que, quando bem azeitado pelo RH, redefine o presencial 2.0, tornando-o mais intencional ao valorizar encontros, rituais de cultura e experiências coletivas. “Essa é a essência de incentivar o encontro presencial com propósito, um convite para que as pessoas se encontrem, conversem e troquem ideias durante o almoço, algo que gera uma conexão valiosa”, avalia.
Presença com propósito
Não por acaso, Patrícia Campos, diretora de Gente e Gestão da MAG Seguros, referência em vida e previdência, encara o presencial como parte do futuro do trabalho. Pessoas sempre irão colaborar entre si, estejam lado a lado ou conectadas à distância. Mas, se é para “estar” em algum lugar, que seja com propósito. Por isso, ela acredita que o grande desafio do RH não está em justificar a presença física, e sim em dar significado a ela. “Quando o escritório é redesenhado com intencionalidade, ele deixa de ser um artefato do controle hierárquico e se transforma em infraestrutura social de colaboração”, explica.
Para Patrícia, a presença física amplia a confiança, fortalece a identidade coletiva e cria terreno fértil para a inovação. Mas, para que isso tudo funcione, cabe ao RH ativar rituais de cultura, aprendizado e coautoria, reposicionando o presencial como um território de alto valor relacional. “Não se trata de voltar ao passado, mas de projetar novas experiências de trabalho, onde a presença gera sentido, pertencimento e resultado”, reforça. Nesse sentido, Priscila Damiani, da Biogen, referência global em biotecnologia, vê o presencial 2.0 como uma oportunidade de o RH transformar a gestão pessoas em algo mais experimental. “O modelo presencial representa proximidade, cocriação e pertencimento”, destaca
O espaço também comunica
Ao promover o que Priscila chama de “presença com propósito”, o RH cria ambientes que estimulam conexões espontâneas e até decisões mais ágeis, onde cada encontro é projetado para fortalecer vínculos e inspirar ideias novas. Mas redesenhar o espaço físico não envolve apenas a arquitetura do espaço, mas a gestão propriamente dita. Já reparou como o seu ambiente de trabalho é desenhado? Se projetamos nossas casas conforme nossos gostos e sonhos, imagine o que as paredes do escritório revelam sobre a cultura de uma empresa. Como bem lembram Patrícia Campos e Priscila Damiani, “todo espaço comunica algo” e muito disso tem a ver com o que a organização valoriza, incentiva e prioriza.
Para elas, ergonomia, diversidade de ambientes e inclusão espacial não são meros detalhes de projeto, mas ferramentas de cuidado. Segundo Priscila, “cada decisão traduz o quanto a empresa entende e respeita as diferentes formas de trabalhar e interagir”. Na prática, quando o espaço respeita os diferentes ritmos de trabalho e estilos de pensamento, ele potencializa elementos essenciais ao bem-estar e à inovação, como autonomia, segurança psicológica, criatividade, senso de pertencimento e inclusão. “Vai além de um projeto de infraestrutura”, complementa a diretora de RH da Biogen.

da Biogen
Muitos jeitos de trabalhar
Em outras palavras, o ambiente precisa acolher as diferenças, de cognição, de ritmo e até de conforto, para gerar resultados reais. E se todo detalhe importa, o espaço físico precisa ser encarado pelas organizações como um item fundamental na estratégia de pessoas. Quem faz o apontamento éRaissa Mendes, da WeWork. “Trata-se de um investimento direto no capital humano e na cultura da empresa”, observa.
Diante da multiplicidade de vozes que compõem as organizações, ouvi-las atentamente deixou de ser gentileza para se tornar questão de sobrevivência. O RH precisa compreender essas necessidades para redesenhar o presencial 2.0 de forma que ele seja mais humano do que engessado. E não há luxo algum em repensar como os espaços podem se tornar mais acolhedores. “Um colaborador com dor ou desconforto não performa bem e, pior, sente que não é prioridade”, argumenta Raissa.
Diversidade geracional é complementar
A mesma lógica vale para colaboradores neurodivergentes, que podem precisar de cabines de concentração por causa de ruídos, luzes fortes ou excesso de estímulos. Ter lounges para conversas informais e áreas de descompressão também faz parte dessa abordagem. “Isso é inclusão na prática. “Quando o espaço respeita essas singularidades, ele não só acolhe, mas potencializa o talento”, pontua.
De fato, são muitos jeitos de trabalhar confinados em um ambiente que, além de diverso, é intergeracional. E é aí que surgem novas camadas de complexidade: enquanto profissionais mais experientes tendem a preferir espaços tradicionais, as novas gerações buscam dinamicidade, tecnologia e propósito. O desafio está em (re)desenhar um ambiente plural que permita que todos performem em sua melhor versão, independentemente de suas visões de mundo, crenças ou histórias de vida. E é exatamente nesse ponto que o presencial 2.0 se destaca ao colocar o RH no centro desse caldeirão, convidando-o a atuar de forma cada vez mais estratégica, empática e atenta às diferentes formas de estar e de colaborar.
O RH é o arquiteto das conexões
Na visão de Raissa Mendes, da WeWork, o verdadeiro arquiteto dessas conexões é a área de gestão de pessoas – e nem poderia ser diferente. “Promover uma cultura de respeito e aprendizado mútuo é essencial para transformar diferenças em inovação”, afirma. Programas de mentoria reversa, por exemplo, mostram como o encontro entre gerações pode ser produtivo: os mais jovens compartilham domínio digital, enquanto os mais experientes trazem repertório e visão de negócio. “É nesse fluxo bidirecional de conhecimento que a inovação acontece”, destaca.
Mas nem tudo é só sobre gestão – o espaço também conta. Ambientes pensados para o encontro, com cafés e áreas de convivência, ajudam a dissolver hierarquias. “O objetivo é criar um ambiente onde a experiência de um Baby Boomer se combine com a agilidade de um Millennial e a visão digital de um Gen Z, gerando uma sinergia poderosa.”
Por isso, na visão da diretora de RH da Biogen, Priscila Damiani, o erro mais comum e perigoso é tratar a diversidade geracional como um problema a ser administrado – quando, na verdade, ele é uma fonte riquíssima de aprendizado. “Resistir a esse encontro de visões é desperdiçar capital humano valioso”, afirma. Para ela, o caminho está em integrar, em vez de separar. “Empresas que prosperam são aquelas que aprendem a conectar diferenças em uma cultura comum, que unem, em vez de fragmentar, e que aprendem, em vez de estigmatizar.”
Motor de inovação
Não à toa, vantagem competitiva só existe quando as relações são bem construídas – daí sim a diversidade vira motor de inovação contínua. “Choque geracional existe onde falta propósito na convivência”, comenta Patrícia Campos, diretora de Gente e Gestão na MAG Seguros. Segundo ela, “não se trata de administrar conflitos, mas de orquestrar complementaridades”. E o que isso significa, na prática? Que cada um tem seu jeito e tudo bem.

da MAG Seguros
Se o profissional sênior preza pela disciplina e carrega uma valiosa memória organizacional, os mais jovens chegam questionando, experimentando e conectando tudo à tecnologia. São ritmos diferentes, mas que se completam. “Quando há espaço para trocas intencionais, gerações deixam de competir e passam a cocriar”, reforça Patrícia.
Como medir o que não cabe numa planilha
Contudo, de nada adianta encher o escritório se o ar ali dentro não exala propósito. No presencial 2.0, o que importa não é quantas pessoas estão fisicamente no ambiente, mas o que acontece quando elas estão juntas, o que demanda um olhar mais analítico e humano do RH. “Presença sem propósito e entrega é custo; mas presença com intencionalidade e resultados é investimento”, resume a diretora de Gente e Gestão da MAG Seguros.
Nesse sentido, Patrícia defende que o impacto do presencial deve ser mensurado de forma relacional e estratégica – pela aceleração de decisões, as ideias que emergem de encontros colaborativos e pelo aumento de confiança entre as áreas. “Não se trata de medir presença, mas de mensurar valor social e impacto organizacional”, pontua.
Entre números e narrativas
Do lado da Biogen, a diretora de RH Priscila Damiani reforça que o foco deve estar no efeito, e não na frequência. “A presença precisa ser avaliada pelo impacto que gera”, afirma. Para ela, vale combinar dados e percepções, envolvendo satisfação com as interações, projetos nascidos a partir dos encontros, evolução nos índices de engajamento e até insights gerados em dinâmicas presenciais. É esse olhar misto – de números e narrativas – que mostra se o presencial realmente impulsiona a inovação, em vez de apenas preencher agenda.
Já Raissa Mendes, da WeWork, vai direto ao ponto: “Não queremos que o escritório seja um ponto facultativo disfarçado – ele precisa fazer sentido.” Na visão dela, as métricas devem capturar o que se move no invisível dessas relações, como sentimentos, energia e confiança. Pesquisas de engajamento, feedbacks estruturados e observações diretas ajudam o RH a entender se os encontros estão mesmo fortalecendo vínculos, estimulando ideias e dissolvendo silos. “O segredo é focar nos resultados, não na atividade. O escritório deve ser o catalisador, e as métricas nos ajudam a ajustar a estratégia continuamente”, finaliza.

O que será, será?
Se o escritório do passado foi desenhado para controlar e o do presente tenta acolher, o do futuro precisa inspirar. Para Raissa, além de um destino intencional, ele será um hub de cultura e, como tal, um ativo estratégico para a gestão de pessoas. “Ele não será apenas um lugar para ‘bater ponto’, mas um espaço que oferece algo que o trabalho remoto não pode: a energia da colaboração espontânea, a riqueza das interações face a face, o senso de comunidade e pertencimento”, analisa.
Na visão de Priscila Damiani, da Biogen, esse futuro será um ecossistema vivo, onde tecnologia, bem-estar e propósito caminham juntos. “A nova métrica de sucesso não será a ocupação de mesas, mas o nível de conexão humana e de troca significativa que o espaço é capaz de promover”, pontua. Segundo ela, o escritório deixa de ser endereço e passa a ser experiência. Patrícia Campos, da MAG Seguros, complementa a reflexão destacando que o escritório do futuro será um ecossistema de relações, e não de rotinas. “Mais do que mesas, terá rituais. Mais do que layout, propósito”, define. Relevante, e não obrigatório, ele existirá para ativar cultura, fortalecer confiança e acelerar a inovação.
No fim, o RH tem muito a contribuir para que o presencial 2.0 retome seu verdadeiro sentido: o de estar junto para criar o novo.
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