Miguel Ángel Bermejo é diretor de RH para América do Sul do Hyatt Hotels and Resorts e integrante do comitê de criação do CONARH 2015 |
É curioso falar de desafios em um momento tão crítico para o Brasil de hoje. A palavra vem do latim disfidare e tem a ver com afastar-se da fé e da confiança. Hoje, como gestores de pessoas, somos instigados a realizar ações que vão além das nossas competências e habilidades e nos obrigam a nos distanciarmos de paradigmas que têm regido o nosso mundo empresarial.
A sociedade pede que sejamos capazes de fazer coisas vencendo o ultrapassado… Sim, pede que deixemos de lado as práticas tradicionais. Como cultivar, nutrir e desenvolver uma cultura empreendedora dentro de uma organização que ainda vive estruturada nos moldes do passado? Correr riscos em uma sociedade que só foca em resultados? Conseguir resultados em uma sociedade incapaz de construir um contrato coletivo aliado a um propósito maior? Ter organizações capazes de atrair os corações e as mentes daqueles que não querem ser enjaulados ou rotulados, perdendo sua individualidade dentro das empresas? E como atingir a produtividade sem levar em consideração a alma do negócio? Os desafios são muitos e a gestão de pessoas deve ser novamente reinventada, voltando a uma gestão artesanal, porém altamente tecnológica.
Devemos articular a convivência em um ambiente que encoraje a diversidade de pensamento. Parece que a única resposta está em incorporar diferentes pontos de vista, ideias, intuições e até espiritualidades para solucionar nossos problemas mais profundos.
O RH costuma ser a coluna vertebral dessa articulação dentro da sociedade por meio das empresas privadas e públicas, trazendo um olhar que permita ao CEO contar com um RH dos sonhos, aquele capaz de ser um transformador vital, não só para fazer a organização mais produtiva e rentável, como para ajudar na verdadeira e efetiva transformação de uma sociedade mais justa e melhor.
Dentro da perspectiva que temos hoje, o principal desafio das organizações consiste em adaptarem-se às mudanças que o ambiente externo impõe, construindo um contexto que passe a se preocupar com a valorização do coletivo e não apenas com o indivíduo.
Esse processo exige um novo olhar, no qual precisamos incorporar alguns elementos que não costumam estar presentes no dia a dia do mundo corporativo: a arte, a emoção e o amor.
Provavelmente, a questão não é se o RH está destinado a desaparecer como fala Ram Charam, mas, sim, se conseguirá colocar na mesa de discussão elementos que transcendem um olhar puramente economicista, que não nos permite construir organizações participativas e verdadeiramente responsáveis com a sociedade, com o ser humano e com o ambiente como um todo.
A complexidade está em afastar-se das crenças estabelecidas, aquelas que falam que o amor e a arte não têm lugar nas organizações e também são responsáveis pela lógica de que a empresa não pode ser um local onde as pessoas dão o melhor de si acreditando no que se faz no dia a dia.
Pode ser que uma nova cultura organizacional, que se preocupe com a valorização da comunidade, e não só do indivíduo, responda a uma forma de pensar divergente e nos leve a um novo tipo de empresa, na qual as novas gerações possam desenvolver seus talentos e capacidades.