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O fermento

de Eugenio Mussak em 25 de janeiro de 2014

Eu era um calouro de medicina na Universidade Federal do Paraná em 1971 quando nosso campus foi palco do 23º congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. E lá fui eu, com minha curiosidade juvenil e a inabalável certeza de que ainda seria um grande cientista. Entretanto, a excitação não demorou em se transformar em frustração, pois eu estava tendo dificuldade para acompanhar as discussões. Natural – hoje sei -, pois eu ainda tinha pouco preparo.

Foi quando encontrei o professor que mais tinha recomendado o evento. Ele me sorriu e perguntou se estava gostando. Quando eu lhe respondi que não muito, pois pouco tinha entendido e me sentia mal com isso, ele deu uma resposta que me marcou para sempre: “É normal, você está apenas começando, mas não esqueça que o grande valor de um congresso é o de colocar fermento na farinha de tua inteligência.”

Uau! Como ele tinha razão. Um congresso é diferente de um curso universitário regular, em que professores se esforçam para criar a condição mínima para a formação de jovens profissionais por meio de conteúdos programáticos sequenciais. Um congresso é um encontro de experiências, em que os palestrantes foram escolhidos por terem trajetórias excepcionais em suas áreas de atuação e estão lá para compartilhar suas histórias.

Não há obrigação legal de participar de um congresso. O objetivo não é um diploma. É o crescimento pessoal. Os congressistas estão lá porque percebem a importância do desenvolvimento contínuo, sabem que o conhecimento estagnado perde valor, entendem que a reciclagem é fundamental, gostam de criar networking e, acima de tudo, colocam-se como protagonistas do progresso.

No ano seguinte, o congresso da SBPC foi realizado na USP, e marcou minha primeira vinda a São Paulo. O fermento agora estava aqui. Esse foi o começo de minha história de eterno aprendiz. À parte de todos os cursos que fiz e livros que li, reconheço a importância que eventos assim tiveram em minha formação profissional. Foram muitos os momentos em que, nitidamente, percebia minha inteligência crescendo pelo estimulo da inteligência de outras pessoas, palestrantes ou companheiros congressistas.

Atualmente, como profissional de recursos humanos, aguardo o mês de agosto com certa ansiedade, e conto os dias para participar do CONARH, um dos mais importantes congressos do mundo nesta área. Não sou mais aquele garoto ingênuo, não tenho mais a expectativa de vir a ser um grande cientista, mas conservo, felizmente, a mesma curiosidade.  E sei que a farinha de minha inteligência continua precisando de fermento para crescer.

 

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