Em alguns casos, os funcionários em home office recebem outras ajudas por meio da empresa. O grupo Red Ventures, que conta com as marcas Azulis, iq e Capital Research no Brasil, tem investido em atividades que visam os cuidados com a saúde física e mental dos colaboradores durante a quarentena, iniciadas proativamente pela companhia em 13 de março.
Para que os colaboradores possam administrar a ansiedade que normalmente ocorre em momentos de crise e incertezas, o grupo apostou em um cronograma de atividades, que vão desde treinos de cardio, o HIIT (Treino Intervalado de Alta Intensidade) a ioga e meditação (mindfulness).
Visando uma maior integração e adesão dos funcionários, os exercícios ocorrem simultaneamente para todos os países em que a Red Ventures está presente (Brasil, EUA e Reino Unido). São aproximadamente quatro mil colaboradores globais, sendo 120 destes alocados no Brasil.
“O bem-estar, a saúde, e até mesmo o lazer dos colaboradores sempre foram de grande importância e são quesitos muito incentivados. Em um momento como este que estamos enfrentando, em que o distanciamento físico e a rotina repetitiva em um mesmo ambiente podem trazer desmotivação, é fundamental que as lideranças das empresas proporcionem maneiras criativas de engajar os colaboradores em atividades saudáveis, com pausas no trabalho para focarem os cuidados com o corpo e a mente”, afirma Fernando Iódice, sócio da Red Ventures.
As pausas sugeridas são de 30 minutos, de segunda a sexta-feira. Os colaboradores podem se conectar online e acompanhar os instrutores por meio de uma live, em horários previamente estipulados.
“Acreditamos que equipes unidas e engajadas trabalham melhor, o que é essencial para que, juntos, passemos por esta fase difícil para o país e para o mundo”, ressalta Iódice.
A atividade física sempre esteve presente na cultura da Red Ventures. “Esse é um ponto muito apreciado por nossos colaboradores e incentivado pela liderança, tanto no Brasil quanto fora dele. Por aqui, por exemplo, já tivemos corridas, campeonatos de caminhada, treinos regulares de futebol e até pequenas ‘copas do mundo’ entre os países do grupo”, lembra.
Em função disso, houve uma preocupação muito grande em oferecer uma rotina de atividades. “Nossos colaboradores no Brasil estão engajados e criaram até um grupo no WhatsApp para se incentivarem a participar das atividades. Está dando bastante certo”, garante.
A empresa, globalmente, não possui a cultura de home office. Por essa razão, tem enfrentado o desafio de ajudar e guiar os mais de quatro mil funcionários que estão trabalhando remotamente, todos juntos, pela primeira vez.
“Antes mesmo da pandemia, já contávamos com boas ferramentas de troca de mensagens e conferências; então, a adaptação foi rápida por boa parte do time. Está sendo bem interessante ver esse ‘novo normal’ na nossa rotina, como estamos chamando”, comenta.
Para manter o pessoal engajado, a Red Ventures está intensificando ainda mais a comunicação e reforçando que o time converse também por vídeo, e não só por troca de mensagens, o que, segundo Iódice, dá um caráter mais humano para a comunicação.
“E, além das atividades físicas, estamos também propondo happy hours e salas de conversas gerais, todas via vídeo. Isso ajuda não só o time a se manter unido e engajado, como também oferece um apoio para aqueles que estão enfrentando mais dificuldades por conta do distanciamento social, principalmente quem está morando sozinho.”
O executivo destaca o papel da liderança, que tem como um dos focos entender como está cada um dos colaboradores. “Sabemos que são muitas mudanças de uma vez e que vão além do dia a dia do trabalho, o que, naturalmente, pode aumentar os níveis de ansiedade e de preocupação. Agora, nosso foco é criar uma rede de apoio, para que todos os colaboradores consigam passar por essa situação da melhor forma possível”, diz.
Papos com o RH
Para ajudar os funcionários em home office a também vencerem questões ligadas ao distanciamento, a Sankhya criou um guia de práticas, orientando ações como tirar o pijama para trabalhar, a importância de criar uma rotina de almoço, lanche, ações da empresa etc., e de fazer exercícios e procurar atividades pessoais, como hobbies, ioga etc. Além disso, a empresa está preparando um e-book específico sobre saúde mental, que será disponibilizado aos colaboradores, com dicas de melhores práticas.
“Também estamos preparando uma campanha baseada em três pilares: sessões em grupo com líderes e um parceiro de coaching, para orientar e tornar o ambiente do home office menos isolador; sessões entre os funcionários, também para diminuir a sensação de isolamento, sem os líderes, para o ambiente ficar menos formal; e sessões individuais com os profissionais de RH que possuem conhecimento psicológico e certificações de coaching, para escutar os funcionários, debater questões de saúde etc.”, diz Mariá Menezes, diretora de pessoas e cultura na Sankhya.
A empresa também está intensificando o uso de um aplicativo interno, que todos os funcionários possuem no celular, para enviar avisos programados, para pausas no trabalho, alongamento e até para comerem frutas.
“Os colaboradores terão, ainda, reuniões remotas com os líderes das áreas em que atuam, para ponto de controle, diárias ou no mínimo semanais, para aproximar as equipes”, conta Mariá.
Tendência para ficar
Na sede da DMCard, em São José dos Campos (SP), metade dos colaboradores passaram a exercer suas funções em home office. Para viabilizar a continuidade das atividades nesse formato sem nenhum impacto na qualidade do trabalho e no atendimento prestado às redes do varejo supermercadista parceiras e seus consumidores, a empresa realizou vários investimentos em software e hardware.
Hoje, a empresa já conseguiria ter 100% da equipe trabalhando de casa, inclusive os profissionais da central de atendimento, mas alguns colaboradores ainda precisam de disponibilidade de equipamento e internet de qualidade nas suas casas.
“Quando começamos a nos preparar para o pior cenário desta pandemia, seguindo as recomendações globais de saúde, já estávamos conscientes da necessidade de cuidar da saúde de todos. Demos início ao processo com os funcionários que faziam parte dos grupos de risco e que tinham filhos pequenos, enquanto fazíamos todos os investimentos e liberações necessários para que o cuidado fosse estendido a 100% dos colaboradores”, explica Sandra Castello, diretora de marketing e pessoas da empresa.
Entre os investimentos realizados está a aquisição de equipamentos e programas que permitem o trabalho por meio de conexão remota pela internet, incluindo nesse grupo todos os atendentes do call center, seja do serviço de atendimento ao cliente (SAC) ou da análise de crédito. Nesse processo, a empresa adotou uma comunicação para orientar o trabalho em home office, que recebeu o nome de Boas práticas para o trabalho em casa, e que foi publicada no Workplace, a ferramenta que é usada para comunicação interna.
“Explicamos o que esperávamos de cada um dos colaboradores e demos orientações para conseguirem manter a rotina sem deixar de lado a segurança da informação e a qualidade de vida de cada um deles”, diz a executiva.
Durante o período em que os colaboradores estão em casa, a empresa vem mantendo atividades que já faziam parte da rotina, como a ginástica laboral (com vídeos de uma fisioterapeuta) e o estímulo à prática de atividades físicas (também por meio de vídeos diários de uma professora especialista que coordena o grupo de corrida da companhia). Além disso, foi disponibilizado um guia de cuidados com a saúde mental, com recomendações sobre como aproveitar o tempo livre em casa e lidar com a frustração.
“Também aproveitamos o relacionamento com os atletas apoiados no Dedica mais, nosso programa de incentivo ao esporte, para disponibilizar aos colaboradores entrevistas com médicos para tirar dúvidas sobre a covid-19, com psicólogos para reforçar a importância de manter a saúde mental e com nutricionistas para dar dicas sobre alimentação saudável. Por último, trabalhamos com parceiros distintos para recomendação de filmes, bem como atividades para os filhos dos colaboradores, que também estão em casa”, enumera Sandra.
A executiva lembra que a liderança comprou a ideia do home office imediatamente. “Todos foram extremamente empáticos quando passamos a recomendação da nova modalidade de trabalho em curto espaço de tempo e trabalharam duro para que todas as equipes pudessem continuar executando suas atividades de forma segura, em casa. Duas semanas depois, consultei cada um dos gerentes de áreas e todos disseram que as atividades não foram prejudicadas, com exceção de eventuais problemas técnicos com a internet, que fogem ao nosso controle”, lembra. “Para manter as equipes engajadas, pensamos em soluções criativas que vão de chá da tarde a happy hour à fantasia, cada participante na segurança de sua casa”, diz.
Para ela, o home office é o futuro do mercado de trabalho e será uma das grandes revoluções causada por esta pandemia.
“Todas as pessoas precisaram se adaptar a esta nova realidade de forma abrupta, gostando ou não da ideia. Muitos ainda gostam de ter o controle das pessoas ou mesmo apenas de estarem perto. Por isso, para o perfil de alguns profissionais, o escritório ainda será a melhor opção”, diz Sandra.
Contudo, ela acredita que coisas como andar quilômetros para uma reunião de duas horas deixarão de acontecer, priorizando os encontros online, por exemplo. “Na DMCard não será diferente. Ainda é cedo para grandes conclusões, mas vejo um horizonte com mais gente em casa no dia a dia, indo à sede apenas para necessidades pontuais. Para muitos, isso significa qualidade de vida e, se é bom para o colaborador, é bom para a gente também”, finaliza. [Gumae Carvalho]