Eugenio Mussak |
Esta é a época em que fazemos propósitos para o ano que entra. Todos queremos algo novo ou melhor em nossas vidas pessoais e em nossas carreiras. Foi pensando nisso, e em obter mais do trabalho, do estudo, das relações, dos esportes, que lembrei da história abaixo:
“Piemonte, Itália, 1796. O exército francês acampava, em direção à conquista da Áustria. O soldado Jean Michel estava fazendo vigia e, para afastar o tédio e o medo, divagava sobre as árvores que via, como elas perdiam as folhas no frio e se transformavam em figuras trágicas. Então percebeu que ele mesmo estava perdendo suas folhas. O cansaço de suas pernas só não era mais desesperador do que seus pés congelados, e o peso do fuzil parecia ter se multiplicado. Felizmente já tinha amanhecido e logo seria substituído. E foi exatamente nisso que Jean Michel pensou quando percebeu um movimento atrás de si. Virou-se esperando o soldado que o renderia, mas a pessoa que ele viu fez com que o frio de seus pés passasse para seu coração. Napoleão Bonaparte em pessoa caminhava em sua direção com passos firmes.
Ainda que a surpresa o confundisse, pôde analisar aquele homem especial que ele havia visto em raras oportunidades, e sempre de longe. De perto era menor do que parecia, mas trazia o semblante sereno e os olhos firmes. E o general conversou com ele, perguntando sobre como havia sido a noite, se algo diferente havia acontecido; perguntas do cotidiano de uma campanha militar que ele esperaria de um sargento, ou no máximo de um capitão, jamais do comandante supremo do poderoso exercito francês que estava mudando a fisionomia da Europa. Ele não sabia que Napoleão se contentava com poucas horas de sono e, muito cedo, costumava caminhar pelo acampamento, às vezes surpreendendo seus oficiais.
Mas foi no final da visita do chefe que Jean Michel – que agora tremia de emoção e não mais de frio – teve um momento de coragem maior do que a necessária para enfrentar o inimigo, e atreveu-se a dirigir a palavra a Napoleão:
– Meu general, posso lhe fazer uma pergunta?
Napoleão, entre surpreso e satisfeito, assentiu com a cabeça.
#L# – Desculpe minha insolência, mas tenho forte desejo de saber uma coisa: que qualidade eu preciso desenvolver para me transformar em um grande general algum dia?
O comandante supremo tardou um instante para assimilar a pergunta, depois sorriu levemente e então disse:
– Se você me pede que eu indique apenas uma qualidade, aquela que poderá algum dia transformá-lo, não só em um grande general, mas em um grande homem, então eu vou lhe dizer, meu jovem, você precisa desenvolver apenas uma, porque a partir dessa qualidade todas as outras virão: você precisa ser disciplinado. Só assim você usará bem o tempo a seu favor. Pode ser que, no futuro, eu perca uma batalha, mas jamais perderei um minuto”.