Fórum Melhor RH

O novo RH será digital e humano

Realizar a transformação digital com estímulos às habilidades socioemocionais é o rumo dos RHs

O ano de 2020 mostrou que a tecnologia pode ser uma aliada de peso para as empresas que conseguirem utilizá-la de forma adequada. Transformações digitais tornaram-se ainda mais necessárias diante da pandemia do novo coronavírus, que acelerou processos pelos quais muitas organizações já vinham passando e que obrigou outras a se adaptarem sob pena de ficarem para trás em seus respectivos setores e áreas de atuação.

Uma ferramenta que tem sido mais utilizada pelas empresas durante o surto de coronavírus é a telemedicina. Segundo Hamilton Cardomingo, superintendente de Operações Saúde na Porto Seguro, ela possui vantagens como a redução do risco de exposição à doenças, a agilização do atendimento e o amplo acesso, além da redução de custos. “Quando olhamos para nosso canal de pronto atendimento, temos tido um grau de resolutividade de 75% dos atendimentos realizados pela telemedicina, um número que demonstra que esta é uma ferramenta muito poderosa”.

“A telemedicina encurta o espaço, melhora a proximidade e alavanca a atenção primária de forma mais eficiente, principalmente para nós que temos mais de três mil quilômetros de rodovias, inúmeras estações de metrô e aeroportos. Nossos colaboradores estão muito dispersos e precisamos ter uma capilaridade muito grande”, afirma José Antonio Coelho Júnior, especialista em Benefícios e Saúde Corporativa da CCR. Para 2021, ele diz que a companhia pretende dobrar o número de atendimentos feitos pela modalidade, atingindo dez mil consultas.

Uma questão importante que Cardomingo enfatiza é a necessidade de ter parcerias com os RHs das empresas para que os atendimentos possam funcionar da melhor forma possível. “Sem essa parceria, é muito difícil para nós chegarmos até os nossos segurados, que são os colaboradores das empresas. É preciso nós respeitarmos a cultura de cada organização”.

O Dialog, plataforma de comunicação interna para empresas, é uma amostra de como a tecnologia e o RH deverão andar juntos. Segundo André Franco, CEO da empresa, estudo realizado pela Porter Novelli, agência de comunicação corporativa global, identificou que a principal demanda dos seus 25 principais clientes é melhorar a comunicação interna entre empresas e funcionários, engajando os colaboradores.

A plataforma, que atualmente tem 22 clientes em diferentes setores, oferece serviços como 2ª via do holerite, ponto digital, crédito consignado e psicólogos online. Ela possibilita também a realização do onboarding das organizações de forma totalmente virtual e promove quizzes para saber se as pessoas estão entendendo os conteúdos exposto na plataforma.

“Usamos um sistema de gamificação que estimula os empregados a usarem a plataforma. Quanto maior a interação deles com ela, mais pontos eles possuem para trocar por algo de acordo com cada empresa”, pontua. Por meio da análise dos dados coletados pela plataforma, o Dialog também permite predizer quais são as chances do empregado sair de uma empresa.

Um exemplo de transformação digital foi o que ocorreu no Grupo Fleury com a implantação de um projeto de ensino à distância por meio da universidade corporativa da organização, que oferece cursos e treinamentos aos seus colaboradores e médicos. Em 2018, 4% dos conteúdos produzidos pela instituição eram digitais e 96% presenciais. Em 2020, o digital chegou a 100%.

Leandro Ortigoza Martins, Gerente Sênior de Educação do Grupo Fleury, menciona que foi necessário enfrentar algumas barreiras para a utilização do ensino a distância (EAD). “De cara vimos que existia um preconceito muito grande em relação ao EAD, principalmente em relação ao aspecto da qualidade. Outro ponto é que as pessoas gostavam de se encontrar pessoalmente, faz parte da nossa cultura”, diz. 

Ele destaca, entretanto, que para superar esses obstáculos, faz-se necessário enfatizar os aspectos positivos do EAD, que são a flexibilidade de horários, a otimização de tempo e custos e a inclusão, já que o formato permite alcançar populações e regiões que antes não teriam acesso ao conhecimento.

Entre as lições aprendidas está a percepção de como a existência de uma infraestrutura prévia pode ajudar, pois a companhia já havia iniciado em 2018, ainda que de forma incipiente, a produção de aulas online.

“Independentemente da sua área de atuação, invista em infraestrutura de produção de conteúdo digital. Eu gosto de dizer que a edição de vídeo é o novo Excel. Comece com pílulas de conhecimento, produzindo coisas simples. É possível com um bom smartphone produzir conteúdos, mas se quiser investir, o retorno do investimento ocorre em menos de seis meses”, fala Martins sobre outro aprendizado.

Olhar para fora da empresa para buscar conhecimentos e para compartilhar a própria produção com a sociedade é outra dica que o executivo dá. Por fim, ele ressalta que o presencial e o digital não são excludentes.

Habilidades socioemocionais

Embora os avanços tecnológicos sejam essenciais no atual contexto empresarial, as habilidades socioemocionais ou “soft skills” desempenharão um papel fundamental de forma crescente nas organizações.

“Há muito tempo se fala no mundo VUCA e nesse período de quarentena veio circulando nas redes a ideia de mundo BANI (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível). Ou seja, um mundo em constante transformação e o RH virou protagonista desse cenário”, afirma Salim Khouri, Head de Talento e Diversidade América do Sul da Ford Motors.

Para o gestor, nesse contexto é preciso desenvolver novas competências. “As habilidades socioemocionais são compreendidas, de forma geral, como a capacidade de olhar para dentro, de trabalhar o autoconhecimento. Ter consciência das suas próprias características e trabalhar a falta de autoestima, a ansiedade, administrar as frustrações e buscar uma estabilidade emocional”.

Segundo Khouri, é muito comum os setores de R&S contratarem profissionais pelo aspecto técnico e demitirem pelo comportamento. “A gente acreditou durante muito tempo que o ser humano só se desenvolvia a partir do ensino técnico, formal. Porém, hoje tudo mudou e a gente tem consciência de que nós aprendemos também com os nossos sentimentos”.

Ele destaca algumas ações praticadas pela Ford nos últimos anos. “Todo programa de liderança da empresa começa pelo autoconhecimento dos líderes. Nos últimos três anos, resolvemos fazer um trabalho de inteligência emocional e mindfulness com todas as equipes de analistas para cima”.

“A principal característica para o novo século nesse mundo BANI é a adaptabilidade”, defende ErikaZoeller, gerente de Diversidade e Cultura da Engie Brasil. Ela também ressalta a importância do papel do autoconhecimento. “Como serei uma boa gestora se eu não conhecer as minhas falhas, meus preconceitos?”.

Por fim, ela enumera quatro qualidades de uma gestão inclusiva:

– Empoderamento: lideranças que capacitam seus grupos a se superarem cada vez mais.

– Responsabilidade: dar as equipes a responsabilidade sobre si mesmos.

– Humildade: reconhecer erros e aprender junto com a equipe.

– Coragem: defender aquilo que acredita mesmo que isso signifique correr riscos.

Essas discussões aconteceram durante o segundo dia do Fórum Melhor RH Tech, realizado pela plataforma Melhor RH nos dias 14 e 15 de dezembro. O evento, totalmente digital e gratuito, reuniu em seus painéis e trendings gestores de RH e executivos de empresas para debater sobre os principais desafios e tendências do setor.

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