BlogaRH

O picadeiro corporativo: lições do circo para a comunicação que conecta

Neste artigo exclusivo, Guilherme Almeida mostra como a leveza, o humor e a autenticidade do universo circense podem inspirar uma comunicação corporativa mais humana e corajosa

de Guilherme Almeida em 26 de junho de 2025

Senhoras e senhores, entrem no picadeiro da comunicação. Aqui, as mensagens tentam se equilibrar, os ruídos fazem malabarismo, um medo enorme de levar tomatada e a performance, muitas vezes, some no meio do truque de serrar. Truque que existe há mais de 100 anos no circo e no ambiente corporativo, mas deixando a audiência no fim das prioridades neste último. Por si só, ou por influências internas, a comunicação acaba engessada, e o pior: pesada.          

Tudo precisa de tudo e de tanto?

Recentemente, visitei a imperdível exposição “O Circo no Brasil” no Farol Santander. Diana Malzoni, curadora da exposição, traz: O circo nunca para. Sempre em movimento, ele é uma arte que pulsa entre o novo e o tradicional, entre o popular e o erudito. Sua linguagem é híbrida, viva, e carrega das marcas do tempo e das paisagens culturais por onde passa”. Enquanto via a história dos palhaços Arrelia, Torremo, Piolin e Picolino, um abre desta sala já dizia:

“Ser palhaço não é só encenação – é parte de quem você é. Ao criar um palhaço, você dá vida a uma versão de si mesmo, aproveitando traços da própria personalidade para construir os seus números e fazer rir. O palhaço tropeça, erra provoca, fala verdade e, no fim, também ri de si mesmo. É preciso muita coragem para ser palhaço e se entregar ao risco. Mas pode ser uma inspiração de leveza para quanto insistimos em querer fazer tudo perfeito o tempo todo”.

Lembrei na hora do Wellington Nogueira, fundador da organização Doutores da Alegria e empreendedor social. Tive o privilégio de assistir a uma palestra dele no Congresso Nacional de Gestão de Pessoas (CONARH) há muitos anos sobre o conceito Play to Flow, um método que utiliza brincar, humor e leveza como caminho para o estado mental em que as pessoas estão imersas, focadas, produtivas e criativas (com satisfação), conhecido como flow.

Não é mágica. É ciência

O “pai” do conceito flow é o psicólogo húngaro-americano Mihaly Csikszentmihalyi. Em uma pesquisa que conduziu, os resultados mostraram que pessoas em estado de flow experimentaram:

  • 200% de aumento na capacidade de aprendizagem;
  • 430% de aumento na criatividade;
  • 490 % de melhoria na capacidade de resolver problemas complexos.

Mas, então, como alcançar este flow em um mundo em que apenas 21% dos profissionais estão engajados, de acordo com o relatório State of the Global Workplace da Gallup? O poder do ‘play’.

Voltemos aos palhaços e o que eles podem nos ensinar

  • Comunicação autêntica e que abrace sua própria vulnerabilidade, mostrando suas imperfeições também. Palhaços não escondem tropeços e fazem disso a piada e a conexão.     
  • Pratique a escuta ativa com sua audiência e com seus clientes internos: Um palhaço só existe na interação com o outro.    
  • Mais humor e mais leveza intencionalmente para quebrar a formalidade da comunicação sem perder a seriedade. Mais humana, mais próxima!             
  • Gere conexão emocional com seu público. Não é só informar. É tocar.  
  • Transforme erros em aprendizados. No circo, o tombo vira riso. Na comunicação, pode ser um ativo para a confiança mútua.

É fácil? É um desafio. Outra exposição que fui dentro do Farol Santander era sobre Alfredo Volpi, um dos mais importantes pintores brasileiros do século XX, conhecido por sua transição da figuração para a abstração geométrica e por sua icônica série de “fachadas” e “bandeirinhas”. O nome: “Viva Volpi – Arte para brincar”. Maitê Leite, VP Executiva Institucional do Santander, tem o abre da exposição e diz que ele “nunca se prendeu a rótulos. Sua linguagem era essencial: linha, forma e cor”.

comunicação
Foto tirada de obras da exposição “Viva Volpi no Farol Santander”

E é onde quero chegar: sabemos que marcas possuem guides e empresas possuem políticas. Mas se Volpi fez história em formas, muitas vezes, geométricas, este que vos escreve acredita que a comunicação precisa abraçar mais a leveza e a autenticidade – mesmo em contextos formais – se inspirando na arte circense e em artistas como Volpi.

Vamos continuar com medo da tomatada ou vamos, enfim, entrar no picadeiro com coragem de provocar, errar e tocar o outro de verdade?

Compartilhe nas redes sociais!

Enviar por e-mail


Guilherme Almeida

Guilherme Almeida trabalha com comunicação corporativa há quase 20 anos. Publicitário, pós-graduado em Relações Públicas e Comunicação Organizacional e com MBA em Gestão Empresarial, é jurado do Prêmio Empresas que Melhor se Comunicam com Colaboradores, membro do Comitê de Comunicação Interna da Melhor RH e um dos Executivos de PR mais Admirados pela pesquisa da Scopen.