Comunicação interna

O tempero da comunicação interna na aquisição da Hemmer pela Kraft Heinz

Ao se comunicar com transparência e proximidade com seus colaboradores, multinacional adicionou sabor e sinergia à integração entre as duas empresas

de Priscila Perez em 7 de julho de 2023
Foto: Reprodução/Gerd Altmann/Pixabay

Cisão, verticalização, fusão. Essas são algumas das manobras que movimentam e definem o futuro dos grandes players do mercado global. Quando empresas se separam, elas buscam especialização e maior visibilidade em suas áreas de atuação. Já ao se unirem, almejam sinergias e uma posição mais fortalecida no mercado. Foi o que aconteceu com a multinacional de alimentos Kraft Heinz, sócia majoritária da BR Spices e dona das marcas Heinz e Quero, que conta atualmente com três mil funcionários no país. Em 2021, ao anunciar a aquisição da brasileira Hemmer, com sede em Blumenau (SC), a companhia sublinhou que estava em busca de novos produtos e públicos dentro do território brasileiro.

Caroline Dias, da Kraft Heinz

Entretanto, a fusão veio acompanhada de um desafio ainda maior do que o próprio negócio em si. Além de unificar os processos e a gestão das empresas, seria necessário consolidar e estabelecer uma nova cultura, o que já não é simples, em uma empresa centenária, fundada em 1915, que empregava 700 pessoas na época e era administrada pela quinta geração da família de Heinrich Hemmer. São momentos assim, de metamorfose, que amplificam a atuação da comunicação interna como um elemento engajador, capaz de estabelecer e sustentar as conexões com antigos e novos colaboradores, dentro de um ecossistema em evolução. E na Kraft Heinz, que já havia encarado uma situação semelhante seis anos antes, durante a fusão do grupo (Kraft e Heinz) que resultou na criação da quinta maior companhia do mundo no setor alimentício, essa dinâmica não foi diferente. Mais uma vez, a equipe de comunicação interna fez toda a diferença ao fornecer uma narrativa coesa para os colaboradores do grupo, guiando-os através dos desafios que viriam com a integração das empresas.

Comunicação que acolhe

Transformações desse tipo, se encaradas apenas como movimentos estratégicos, podem comprometer o funcionamento dos negócios e prejudicar o clima organizacional do grupo, colocando em jogo tudo o que foi construído, sobretudo do lado humano. A receita da Kraft Heinz para ressignificar o sempre delicado processo de transição foi dialogar com transparência e proximidade com os colaboradores. Com o tempero da comunicação interna, não houve amargor na relação, e sim acolhimento. Caroline Dias, diretora de People na Kraft Heinz Brasil, conta que, para vencer o medo e a insegurança, dois sentimentos intrínsecos àquele momento, foi necessário estabelecer uma comunicação clara e direta com os funcionários, esclarecendo dúvidas e explicando o objetivo de expandir os negócios.

Essa abordagem empática permitiu que a equipe da Hemmer se sentisse acolhida e entendesse o propósito por trás da mudança de gestão. “O maior desafio do período de transição era tranquilizar as pessoas de que não haveria demissão em massa por conta disso. Então, mantivemos um processo de transparência desde o primeiro dia, assegurando que as pessoas tivessem conhecimento do que estava acontecendo em cada fase e mitigando os ruídos sobre uma demissão em massa que não existiu”, relata a executiva. Segundo ela, por conta dessa estratégia, a retenção do quadro de colaboradores foi de 80%. “Hoje, o nosso DNA flui como um só, fazendo com que as pessoas se sintam parte da companhia”, completa.

Foto: Reprodução/Freepik

Alinhamento cultural na Heinz

Do ponto de vista burocrático, a aquisição e todos os seus trâmites, como unificação de folha de pagamento, benefícios e afins, foi concluída em janeiro deste ano. No entanto, o processo de alinhamento e consolidação cultural deve demandar ainda mais tempo, especialmente por envolver uma empresa familiar de tradição centenária como a Hemmer. Empresas assim têm um sistema próprio de gestão, onde as relações são mais próximas e pessoais. Não à toa, a integração exigiu sensibilidade e respeito aos valores já estabelecidos na fábrica de Blumenau, como bem conta a diretora de People na Kraft Heinz Brasil. “A consolidação cultural em casos como esse pode levar meses ou até anos. Foi justamente por saber disso que trabalhamos fortemente em comunicações claras e diretas. Durante cinco meses, organizamos mais de 50 encontros na Hemmer para entender quais eram as expectativas e as dúvidas dos funcionários.” Durante todo esse período, o foco foi possibilitar que a transição ocorresse sem sobressaltos e com muita transparência, o que motivou a realização de encontros com o CEO. Segundo Carolina, tudo passou e ainda passa pela comunicação interna, que forneceu o suporte necessário para garantir que a informação correta chegasse a todos, da liderança até a operação, com a agilidade e credibilidade que o momento demandava.

Foto: Reprodução/Freepik

Por consequência, os encontros presenciais realizados na sede da Hemmer foram fundamentais para desfazer possíveis ruídos e estreitar os laços entre as duas empresas. Devido à fusão, estabelecer uma conexão verdadeira e engajadora poderia se configurar em um desafio de difícil resolução para a Kraft Heinz, tendo em vista o choque de gestão e mindset. Mas, na prática, ao valorizar a história da marca brasileira, o grupo conseguiu estabelecer um equilíbrio entre a herança histórica da Hemmer e a cultura da multinacional.

Caroline Dias, diretora de People na Kraft Heinz Brasil, ressalta que, em razão da pandemia de Covid-19, as reuniões sobre o tema aconteciam, a princípio, de forma online. Porém, com o passar do tempo e a implementação do esquema híbrido de trabalho, os encontros passaram a ser também presenciais. Esse trabalho “olho no olho” deu mais segurança aos colaboradores e fortaleceu a cultura empresarial como um todo. Para ela, causaria estranheza falar de integração à distância. “Damos preferência por ter o olho no olho, o aperto de mão e, o mais importante, a possibilidade de as pessoas questionarem para sanar as dúvidas. Os momentos de troca ao vivo fizeram a diferença, trouxeram as pessoas para perto e criaram entre nós um laço de confiança muito maior”, destaca a diretora de People da companhia.

Novo horizonte para o colaborador na Heinz

Qualquer transformação cultural como a vivenciada pelos colaboradores do grupo requer paciência e esforços mútuos, mas é uma mudança possível, segundo Carolina. “Ela leva tempo, mas pode ser facilitada com uma comunicação clara e direta. Juntos nós trabalhamos para que todos compreendessem que o objetivo sempre foi gerar crescimento para os negócios, com oportunidade de expandir a excelência da Hemmer em todo o Brasil em alinhamento com a expertise da Kraft Heinz”, conta.

Foto: Reprodução/Freepik

A diretora de People da empresa conta que, apesar dos obstáculos iniciais, ficou claro aos colaboradores que esse processo de fusão poderia significar um salto de oportunidades para todos no campo profissional, além de uma bem-vinda integração de experiências. “O horizonte de possibilidades se expande mais e mais”, complementa. Segundo ela, superados os desafios, a integração hoje é tão sólida que há colaboradores de outras unidades atuando em Blumenau, assim como pessoas que eram de Blumenau e agora estão em São Paulo. “Na nossa gestão não existem mais os funcionários da Hemmer. São todos colaboradores da Kraft Heinz na planta de Blumenau.” Essa mesma unicidade também se aplica aos setores de RH e comunicação interna, que na companhia são chamados de “People” e atendem ao grupo todo. A escolha pelo termo “People”, conta Carolina, diz muito sobre a visão da Kraft Heinz em relação aos seus colaboradores, que são os verdadeiros protagonistas dessa história. “Pode parecer a mesma coisa, mas não é: nós cuidamos de pessoas, e pessoas são muito mais do que recursos”, crava. Esse cuidado, nas palavras da diretora, é a melhor ferramenta de integração. Ao reconhecer a importância do colaborador e valorizar o potencial da comunicação, a companhia estabelece uma base sólida para uma cultura de colaboração e engajamento. Um exemplo disso é o programa de mentoria promovido pelo time de comunicação que coloca os funcionários em contato com a alta liderança do grupo e colegas de outras fábricas. Carolina resume a empreitada como uma das mais relevantes da Kraft Heinz por criar uma rede de apoio efetiva dentro da companhia, com conexões mais informais entre as pessoas. A iniciativa que hoje valoriza seus talentos internos começou em 2019 como uma interação entre jovens de comunidades do Rio de Janeiro e de São Paulo e os líderes do grupo. “Nós expandimos esse programa, valorizando o autoconhecimento e as trocas pessoais atreladas às necessidades individuais”, finaliza Carolina.

O resultado de ações engajadoras como essa, que estimulam as trocas pessoais, é a transformação do ambiente de trabalho em um espaço mais acolhedor, onde as pessoas se sentem motivadas a se desenvolverem – o que, aos olhos da diretora de People, fortalece ainda mais a cultura corporativa. Se fosse possível resumir a receita da Kraft Heinz para um clima organizacional positivo, bastaria dizer que a comunicação interna é o verdadeiro tempero que dá sabor e fortalece as conexões com seus colaboradores.

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