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O valor da inteligência de gênero no universo corporativo

Unir o que cada gênero tem de melhor, entendendo e valorizando as diferenças, aumenta o senso de pertencimento, a produtividade e a rentabilidade das empresas

Muitas empresas prestam homenagens no 8 de março, Dia Internacional da Mulher, oferecendo para as suas colaboradoras chocolates, flores e outros mimos. Proponho uma reflexão mais profunda sobre as mulheres no mercado de trabalho e o valor da inteligência de gênero.

Segundo o estudo “Mulheres no Local de Trabalho”, realizado pela Mckinsey em parceria com a Leanln.Org, que analisou dados de 317 empresas e mais de 40 mil pessoas entre julho e agosto de 2020, a pandemia afetou a rotina profissional das mulheres, que agora sentem que a barreira entre casa e trabalho foi quebrada. Além da preocupação constante com a saúde e as finanças da família, elas foram impactadas de forma ainda mais intensa, pois muitas possuíam uma jornada dupla, com o trabalho os filhos.

Como as escolas e creches fecharam, as mulheres que são mães tiveram que criar soluções para dar conta da rotina de trabalho dentro de casa com os filhos. Por conta dessa mudança brusca que a Covid-19 trouxe, a pesquisa apontou que uma em cada quatro mulheres estão considerando mudar de carreira ou abandonar o mercado de trabalho e as empresas correm o risco de perder mulheres em diversas posições, além de futuras líderes, tornando a caminhada das companhias na busca da diversidade de gênero ainda mais desafiadora.

Por outro lado, se as empresas investirem na criação de uma cultura laboral mais inclusiva e empática, conseguirão reter as colaboradoras. Quando tratamos de equidade de gênero na liderança é comum pensarmos que essa é uma causa apenas das mulheres, porém os homens têm um papel fundamental nesse processo como agentes de transformação. Isso porque é a partir de mudanças fundamentais na alta gestão que conseguiremos transformar o cenário das corporações em ambientes mais diversos e inclusivos.

Um dos pontos críticos a serem trabalhados nesta mudança são as associações mentais referentes as características esperadas de uma pessoa em posição de liderança. Diversas pesquisas científicas apontam que, enquanto os homens são associados a características como competentes, ambiciosos, assertivos, autoconfiantes e racionais, as mulheres são associadas a atributos como  atenciosas, amigáveis, colaborativas, intuitivas, compreensivas e emocionais. Todas essas características são importantes, principalmente quando falamos de liderança inclusiva, mas apenas as masculinas têm sido pontuadas como positivas.

Outro ponto a ser considerado é que os padrões exigidos do sexo feminino no mercado de trabalho são mais elevados do que o dos homens, o que faz com que as mulheres tenham que se esforçar mais para provar a sua competência. É comum que os homens sejam contratados com base no seu potencial futuro, pois já é assumido que eles possuem as características, competências e as habilidades de líderes.

Para construir um novo paradigma, é preciso criar um ambiente inclusivo nas empresas, com relações profissionais saudáveis e baseadas na confiança. Para isso, é importante entender que homens e mulheres pensam, agem,  comunicam-se, resolvem conflitos e lidam com as emoções e com o estresse de maneiras diferentes. Este conhecimento se chama “inteligência de gênero” e ele é fundamental para aumentar o sentimento de pertencimento, a harmonia, a produtividade e a rentabilidade das empresas.

As perguntas são um bom exemplo sobre como homens e mulheres agem de forma diferente no ambiente corporativo e como pode existir uma interpretação equivocada. As mulheres amam fazer perguntas! Do ponto de vista delas, a pergunta é uma forma de gerar engajamento e colaboração, além de dar espaço para novas ideias. Já os homens têm a tendência de considerar as perguntas como um sinal de dúvida e falta de confiança das mulheres.

Outra diferença de gênero importante está na solução de problemas. Uma das principais competências dos líderes está em conseguir resolvê-los de maneira rápida. Os homens têm a vantagem de normalmente focarem nos fatos e conseguirem ser rápidos, mas por outro lado as mulheres tendem a ver os problemas em um contexto maior, com múltiplas soluções.

A inteligência de gênero está justamente em unir o que cada gênero tem de melhor, entendendo e valorizando as diferenças. É preciso um esforço de conscientização para que as diferenças e os pontos cegos entre homens e mulheres se tornem pontos fortes e o caminho para a equidade de gênero seja encurtado e melhor aproveitado, apostando no valor da diversidade como estratégia para que tenhamos empresas – e uma sociedade – mais igualitárias.

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Cris Kerr

CEO da CKZ Diversidade.

É CEO da CKZ Diversidade, mestra em Sustentabilidade e professora de Diversidade da Fundação Dom Cabral.