“A verdadeira igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, à medida em que se desigualem.” Há uma certa controvérsia na atribuição ao autor dessa frase: Aristóteles ou Rui Barbosa. Mas não vou investir tempo nessa discussão, quero, aqui, refletir sobre o que realmente isso significa e o quão difícil é colocar algo tão simples em prática.
Vejo uma certa tendência de comoditização e pasteurização de abordagens para lidar com a dimensão mais estratégica das organizações: as pessoas. Um bom exemplo é quando temos de discutir sobre a (já quase “velha”) geração Y. Existe uma espécie de mito de que podemos criar clusters e, neles, ter uma única forma de fazer a gestão desse recurso estratégico. É aí que a frase começa a fazer sentido. Tratamos um grupo talentoso e que possui uma forma distinta de analisar situações e tomar decisões como se essa maneira de agir fosse única entre todos eles. Mas quando o assunto é trabalho, os Ys podem ser divididos em quatro tipos (de acordo com a pesquisa O que os jovens buscam no mercado de trabalho, realizada em 2010 pela professora do Ibmec/RJ Lucia Oliveira): engajados; preocupados; céticos; e desapegados. Desses, os engajados são os mais ambiciosos, desejam status, poder, conhecimento e autorealização. São os que mais aceitam as condições do mercado de trabalho, sem muito questionamento, e confiam plenamente que, com o grau de qualificação que alcançaram, conseguirão conquistar uma posição privilegiada no mercado de trabalho.
Já os preocupados se sentem “preocupados” em relação à sua capacidade de encontrar uma posição condizente com suas expectativas, construídas a partir do momento em que ingressaram em uma boa faculdade. Essa preocupação advém, em grande parte, na percepção de que lhes falta o capital cultural e social exigidos pelo mercado, carência esta potencialmente decorrente de sua origem socioeconômica. Já os céticos e os desapegados são os que menos se preocupam com a carreira. Em comum, têm ainda a predileção por trabalharem em cargos públicos, sendo que, no primeiro caso, também há o desejo de trabalhar em organizações não governamentais.
Aí não resisto e apelo para uma outra frase: “Não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes” (Albert Einstein). Ou seja, seguimos tratando essa geração como se fosse única e queremos não somente que se adaptem aos modelos de gestão instalados, mas também que deem resultados diferentes.
Sabe qual o resultado potencial dessa “insanidade”? Uma grande chance de criarmos um grupo tão grande de céticos e desapegados que a guerra não será mais por talentos, mas sim por pessoas que queiram ser profissionais em uma organização convencional. Ou seja, vai faltar gente que veja nas organizações a chance de ter uma missão nobre, de desenvolvimento integral da sociedade, alicerçado em uma estratégia clara sobre como tratar adequadamente seus recursos e gerar resultados que sejam sustentáveis.
Marcos Nascimento é partner na Manstrategy Consulting, expert em desenvolvimento e alinhamento de top teams