Um levantamento do site de vagas Catho registrou, nos últimos dois meses, em um universo essencialmente masculino – o setor de tecnologia – um aumento de 2,1 pontos percentuais na presença de mulheres, em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre janeiro e fevereiro de 2021, a representatividade feminina era baixa – 21,5%, – contra 78,5% de homens. Nos dois primeiros meses de 2022, um avanço mudou discretamente esse quadro, garantindo presença feminina em 23,6% nos postos de trabalho do setor, contra 76,4% de ocupação masculina.
A alteração de salários também ocorreu para cargos de gestão na área, passando de uma média de R$7.950,16 no ano passado para R$8.339,90 entre as mulheres, em 2022, contra a média salarial masculina de R$9.267,82. Para outros cargos em tecnologia, no entanto, a média salarial para mulheres caiu em cerca de R$300,00, enquanto salários masculinos aumentaram praticamente esse montante, em média.
“As profissionais estão conquistando cada vez mais espaço nesse setor e isso tende a aumentar cada vez mais, com as ações e programas para apoiar esse movimento”, declara Patricia Suzuki, CHRO da Catho, certa de que ações afirmativas contribuem para melhorias em todos os segmentos. A própria empresa, por sua vez, é premiada por suas políticas de RH em prol do desenvolvimento de suas profissionais e da igualdade gênero na organização, além de ser signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs), estabelecidos pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global para o tema.
Motivadas para liderar
Com exceção de algumas carreiras, como na área da saúde, por exemplo, dominada por mulheres, os diferentes setores econômicos apresentam disparidades entre gêneros em diversos itens – presença, salário, ocupação de cargos de liderança, entre outros. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 93ª posição no ranking de igualdade de gênero e fica em 25º na América Latina, entre 26 países da região que participam do levantamento global sobre o tema na instituição. Contudo, enquanto a entidade estima mais de meio século para que a igualdade seja atingida, estudo da Deloitte registrou a presença de grupos de afinidade para endereçar questões de diversidade em mais de 80% das empresas brasileiras, sinalizando mudança de paradigma no tratamento da questão. Dados do Ipea (2019), por sua vez, projetam um prazo mais otimista, ao menos para a presença feminina no mercado de trabalho, atualmente em 20%. Até 2030, a entidade prevê a inserção de mulheres no trabalho em 64,3%.
A ausência feminina nos mais altos cargos e mais polpudas folhas de pagamento é um dos problemas a serem abordados, sob políticas de conscientização da sociedade e práticas maciças de inclusão norteadas pelos RHs. O que a pesquisa “Perspectivas sobre os Desafios do Pipeline de Liderança”, realizada pela Robert Half e pelo Insper, já descobriu, no entanto, é que não se trata de qualquer distinção entre homens e mulheres em sua motivação de ascender ou liderar.
Um dos mitos derrubados pela pesquisa é o de que a discrepância na participação de mulheres e homens em cargos de liderança esteja associada ao fato de que as mulheres possuem maiores preocupações em relação ao equilíbrio vida pessoal-trabalho, enfrentando, assim, dificuldades em liderar ou almejar posições de liderança. “Nosso estudo alerta para a existência de estereótipos de gênero, como o de que mulheres são menos confiantes em sua capacidade de liderar ou priorizam mais família à carreira. Isso é um equívoco”, ressalta Tatiana Iwai, do Insper, uma das responsáveis pelo estudo, junto com Gustavo Tavares.
De acordo com a pesquisa, preocupações sobre competência (medo de falhar e não possuir as competências necessárias para o próximo nível) e preocupações sobre o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho são as mesmas entre homens e mulheres. E essas preocupações diminuem à medida que o(a) profissional avança na hierarquia. Os receios em relação ao balanço vida pessoal-trabalho, por outro lado, são latentes ao longo de toda a trajetória profissional, sem distinção de gênero.
“Quando não vemos mulheres em posições de liderança, isso não está associado à falta de capacidade ou motivação, o que foi reforçado na pesquisa. Muitas vezes, o que realmente falta é a criação de um ambiente acolhedor dentro das empresas”, conclui Maria Sartori, Diretora Associada da Robert Half.
Trabalho híbrido para crescer
Levantamento realizado com 500 mulheres em fevereiro deste ano pelo IWG — especializado em espaços de trabalho flexíveis – mostra preferência das mulheres pelo trabalho híbrido. Mais da metade das respondentes (56%) acredita que a modalidade influenciou direta e positivamente seu crescimento na carreira. Entre 75% das participantes a percepção é a de que esse formato possibilitou um aumento da produtividade, enquanto 76% notaram um equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Uma melhora da saúde mental foi notada por 38% das participantes e 56% registraram que houve uma maior distribuição de tarefas domésticas e de cuidado com os filhos.
Houve também uma ênfase no viés financeiro, trazido pela adoção do trabalho híbrido. Dois terços das entrevistadas observaram que foram capazes de economizar tempo (68%) e dinheiro (66%) ao evitar os deslocamentos diários para o escritório. Segundo elas, esses foram os principais benefícios desse formato. Além disso, 17% dessas trabalhadoras afirmaram que conseguiram poupar mais dinheiro para ajudar com gastos domésticos.
Ao avaliarem os pontos positivos trazidos pelo modelo flexível, 49% das entrevistadas disseram que considerariam deixar o emprego se tivessem que voltar a trabalhar no escritório cinco dias por semana; demonstrando, assim, o papel essencial que o trabalho híbrido está desempenhando em suas vidas.
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