Apesar da população LGBTQIAPN+ representar 12% da população brasileira segundo o IBGE, a pesquisa “Percepções sobre a comunidade LGBTQIA+”, realizada pela iO Diversidade e pelo Instituto Locomotiva, mostra que parte significativa da população desconhece o que é uma pessoa transgênero ou não olha com empatia para esse público.
O percentual exato de pessoas que ignoram o que seja um indivíduo trans é de 45% da população, enquanto 1/5 dela (20%) ainda acredita que a homossexualidade é doença. Entre estes últimos, 40% acreditam que a homossexualidade pode ser curada. Isso muito embora 6 em cada 10 brasileiros afirmem ter um amigo(a) ou parente homossexual, e 1/3 relatem ter um amigo(a) ou parente transgênero. O estudo ouviu 1.574 pessoas entre maio e junho de 2023.
“Triste constatação do quanto o nosso país ainda é muito preconceituoso e violento com a comunidade LGBTQIA+ que sofre em diversas esferas da vida social, no trabalho, no local de estudo, na família e na rua”, explica Rachel Rua, diretora executiva da iO Diversidade.
No mundo empresarial, porém, as estatísticas melhoraram, apesar do longo caminho a ser trilhado pelas organizações, o que reflete o distanciamento e o desconhecimento apontados pela iO Diversidade e pelo Instituto Locomotiva.
Segundo outra pesquisa, da Blend Edu, o número de organizações que têm um setor dedicado à gestão da diversidade aumentou de 64% em 2020 para 71% em 2022, o que impacta o crescimento do pilar LGBTQIAPN+ nas iniciativas de inclusão entre as empresas brasileiras. Isso resulta em 86% das companhias abordando ativamente questões relacionadas à diversidade sexual e de gênero, em comparação com os 68% registrados em estudo anterior.
Outro levantamento, este do site de currículos e soluções de recrutamento Vagas.com, mostra que as oportunidades de emprego com foco em diversidade e grupos como negros, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTQIAPN+ cresceram 33% no ano passado.
Vagas abertas, inclusão distante, contudo: o levantamento “Demitindo Preconceitos” realizado pela Santo Caos em 14 estados brasileiros, em 2022, mostrou que 38% das empresas ainda mostram restrições na contratação de homossexuais.
Não é de se espantar que a Associação Brasileira de Recursos Humanos, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, o Center for Talent Innovation e a Consultoria Santo Caos tenham constatado que 61% dos profissionais LGBTQIAPN+ ainda não se sentem seguros para assumir a sua orientação sexual ou identidade de gênero no seu ambiente de trabalho.
Empresas colaboram
“Aos poucos a gente percebe uma mudança na mentalidade de empresários, recrutadores e da sociedade civil em relação a tantos preconceitos, e são neles que habitam os vieses inconscientes, as interpretações prévias sobre o indivíduo quando é informado gênero, raça, cor, etnia, orientação sexual, entre outras características mais pessoais.”, defende Cammila Yochabell, CEO da Jobecam, plataforma de recrutamento fundada em 2016, com recursos para aumentar em cerca de 70% a diversidade nas e contratações.
“Acredito que contar com um time diverso agrega em todos os aspectos do trabalho, desde criatividade até o crescimento profissional e pessoal, vejo essa inclusão como pilar essencial para um profissional de liderança” diz, por sua vez, Daniel Poli, Gerente de Sustentabilidade, Diversidade e Responsabilidade Social na Cielo.
Alguns exemplos das iniciativas internas da companhia são: o Canal de Ética, que existe desde 2021 e permite que denúncias relacionadas à diversidade e inclusão sejam classificadas por Discriminação ou Práticas abusivas. A implementação de uma Cláusula de Diversidade nos contratos de fornecedores, que começou a ser aplicada em 2022 para homologá-los segundo os princípios ESG da empresa.
“Buscamos unir grandes marcas que desejam investir em impacto social com a comunidade. Entre os nossos principais pilares com certeza estão a diversidade e inclusão, não apenas pensando em igualdade de gênero, mas na representatividade trans, bissexual, lésbica, queer, e todos os outros, dentro desse ambiente de negócios”, explica Dani Junco, CEO e Fundadora da socialtech B2Mammy, focada em conectar mais de 100 mil mães e mulheres em comunidade para torná-las líderes e livres economicamente por meio de educação, empregabilidade e pertencimento.