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Que tal transformar celebrações em prol das mulheres em ações de mudança?

No atual ritmo de promoção de equidade, serão necessários 131 anos para reduzir as desigualdades de gênero no mercado de trabalho

de Fabiano Rangel em 11 de março de 2024
Gpointstudio/ Freepik.com

Em março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, uma data especial repleta de simbolismos, conquistas e desafios. Um marco reconhecido e valorizado por milhares de pessoas, mais ainda alvo de muitas críticas por tantas outras. Essa disparidade de reações evidencia a extensão e complexidade do problema que enfrentamos, reforçando paradoxalmente a importância deste dia especial.

Neste mês, convido líderes e profissionais de RH a uma reflexão conjunta menos emocional e mais fundamentada em dados sobre a importância de promover mais equidade de gênero e avançar nas pautas de diversidade e inclusão nas empresas.

Historicamente, as mulheres desempenharam papéis fundamentais no desenvolvimento econômico e social, contribuindo significativamente para o progresso da sociedade, apesar das barreiras do pensamento patriarcal, desde sempre, mostrando, entre tantas de suas habilidades, força e resiliência. No entanto, ainda hoje, enfrentam disparidades, como evidenciam inúmeros estudos e dados produzidos no Brasil e no mundo.

A pesquisadora e professora de Harvard Claudia Goldin foi reconhecida pelo Nobel de Economia em 2023, justamente, por demonstrar em seu trabalho a importância das mulheres para e economia e como elas, ainda hoje, enfrentam disparidades no mercado de trabalho. Na mesma linha, o Fórum Económico Mundial (WEF) revela que aproximadamente 606 milhões de mulheres em idade ativa, estão fora do mercado por concorrência direta com atividades domésticas não remuneradas. Para os homens, a estimativa é de 40 milhões. Nessa perspectiva, o WEF aponta, ainda, que no atual ritmo, serão necessários 131 anos para reduzir as desigualdades de gênero no mercado de trabalho.

No Brasil, apesar de representarem mais da metade da população (52%), segundo o IBGE, as mulheres, em sua maioria, estão fora do mercado de trabalho, seja por se dedicarem mais às atividades não remuneradas ou porque são quem mais enfrenta obstáculos na evolução da carreira, como o acesso a cargos de liderança. A violência emocional e os assédios em diferentes contextos, ainda são desafios enfrentados cotidianamente pelas mulheres, tanto nos ambientes públicos quanto no local de trabalho.

No Brasil, cerca de 175 milhões de pessoas estão em idade economicamente ativa (PIA), destas, pouco mais de 60% estão de fato economicamente ativas (PEA) e deste recorte, os homens são maioria com 66% e 46% de mulheres, sendo que aproximadamente 35% desta população feminina (cerca de 16 milhões) estão no mercado informal de trabalho, segundo dados do IBGE.

Nos campos da educação e da qualificação, apesar de as mulheres terem, em média, dois anos a mais de estudo que os homens e serem maioria em formações universitárias, elas ainda enfrentam disparidades salariais e de representatividade em cargos de liderança. A análise dos números se soma a outros e confirma as desigualdades estruturais que precisam ser enfrentadas. 

Nas áreas mais técnicas, como engenharia e tecnologia, infelizmente, no Brasil, nossos desafios são maiores. Segundo o CREA, as mulheres representam cerca de 20% da base de profissionais registradas e quando se observa o grupo de formações CTEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), os dados da 3ª Edição de Estatísticas de Gênero do IBGE (2023) demonstram que as mulheres representavam 23% em 2021 e em 2023, passaram para 22%. A conclusão é de que estamos estagnados nesse contexto, o que revela, ainda, que em certas áreas o ambiente é pouco inclusivo e exclui muitas mulheres de exercer e contribuir com o melhor do seu potencial. 

Nos campos da remuneração e da carreira a disparidade salarial segue persistente, com as mulheres ganhando, em média, 20% a menos que os homens, mesmo em posições equivalentes. Quando olhamos para carreira, elas representam apenas 39% das posições de liderança no mercado formal e, quando se avalia a participação nas diretorias estatutárias e conselhos, o teto é ainda mais estreito. Como exemplo, entre as 218 empresas listadas na B3 no Novo Mercado ou Nível 2, reconhecidas por adotarem práticas diferenciadas de governança, apenas 52% têm alguma mulher nessas posições. Essas disparidades se acentuam ainda mais, quando são feitos recortes que componham os critérios de raça/cor e de deficiência.

Apesar das evidências, infelizmente não é raro encontramos vozes que negam a existência de um viés discriminatório. Independentemente de ser intencional, estrutural ou por alienação, as desigualdades persistem e por mais que se tente, olhando atentamente para os números, não há justificativas plausíveis. Parafraseando o bom dito popular, “contra dados, não há argumentos”. 

Entendendo esse panorama, bastante simplificado, reforço que é fundamental que as empresas adotem políticas e práticas de diversidade e inclusão. Porque os efeitos e impactos positivos são múltiplos, seja para as mulheres, seja para a economia, seja para o próprio negócio. Por essas e por outras, que para além da celebração é imperativo que as organizações façam mais que comunicações e posicionamentos e: 

  • Revisitem suas políticas e processos sobre o nível de paridade salarial e atuem sobre as diferenças.
  • Tenham políticas claras contra discriminações, assédios no local de trabalho e outras em razão do gênero. Ser contra discriminação não é ser contra vagas afirmativas, que visem corrigir distorções decorrentes da discriminação. 
  • Revisão contínua das estruturas, processos de gestão de desempenho, promoções e sucessões, com foco na eliminação de vieses e evolução da presença de liderança feminina. 
  • Fomente programas de mentoria com foco em gênero
  • Avaliem e revejam seus pacotes de benefícios, como licença-maternidade, parentalidade, auxílio creche, modelos flexíveis de trabalho entre outros.

Se o seu propósito é realmente gerar valor para seus colaboradores, clientes e consumidores, se conecte verdadeiramente e além de celebrar o Dia Internacional das Mulheres, transforme essa celebração em ações efetivas para promover a equidade de gênero e construir um futuro mais justo e próspero para todas e todos.

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Fabiano Rangel

Profissional com larga experiência em consultoria e vida executiva contribuindo em organizações multinacionais e nacionais como: Fundação BankBoston; Banco ABN AMRO Real; CPFL Energia e Leão Alimentos e Bebidas (joint venture do Sistema Coca-Cola Brasil), em áreas de RH, D&I, ESG, Governança, Relações Institucionais e Governamentais, Ética & Compliance, Direitos Humanos, Gestão de mudanças e transformação organizacional; Jurídico; Ética & Compliance e Tecnologia e informação, incluindo os processos de transformação digital; Gestão de Riscos Corporativos, Q+EHS (Qualidade, Saúde e Segurança Ocupacional e Meio Ambiente). Formado em direito, pós-graduado em Meio Ambiente e Sociedade, Especialista em Gestão de Mudanças e Transformação Digital e com MBA em Marketing e Inovação.