Quem nunca ouviu a frase “Quem não se comunica, se trumbica”? Se você já passou dos 40 anos deve ter ouvido diretamente da boca de seu criador, o apresentador de TV Chacrinha, o Velho Guerreiro que reinava na TV nas tardes de sábado. Se faz parte da geração Millennials, já viu essa figura em matérias, documentários e também no cinema. A máxima daquele que é considerado um dos maiores e mais irreverentes comunicadores brasileiros permanece muito atual.
Em tempo de informação em real time e a um clique de acesso, a comunicação – ou melhor, a falta dela – continua sendo um problema em muitas corporações. Isso é o que revela a pesquisa Comunicação interna em 2017, realizada pela pesquisadora Cristina Pannella, consultora associada sênior da BMI Blue Management Institute, que ouviu executivos de 94 empresas de diferentes setores e segmentos econômicos do país.
Quando o setor é comparado a outros departamentos de acordo com o seu desempenho, apenas 28% dos executivos o classificam como bom. A grande maioria não está nem um pouco satisfeita com as ações e atividades de comunicação com os colaboradores.
Isso ocorre, de acordo com os gestores, porque a área costuma exercer uma função meramente operacional. Atividades que são direcionadas apenas para a produção de materiais ou ferramentas. “A comunicação interna tem de alinhar-se aos propósitos e objetivos do negócio, antes de mais nada. Seu planejamento deve estar em consonância com as metas da empresa. Além disso, a comunicação interna tem um papel relevante na criação e manutenção da comunidade que reúne os colaboradores, propiciando, também, condições para a atração e retenção dos talentos”, explica Cristina, que também é antropóloga e doutora em sociologia.
A pesquisadora ressalta que a falta de envolvimento ou destaque ao papel das lideranças no processo comunicativo, assim como iniciativas para engajar os funcionários são alguns dos fatores que levam a essa avaliação pouco favorável. “A pesquisa reflete a opinião dos líderes: muitos ainda consideram a comunicação como uma função acessória. A comunicação nas empresas, na verdade, tem de ser entendida em sua função estratégica em direção aos públicos externos e internos – para além das necessidades do RH. Nesse sentido, ocupa um lugar central no relacionamento com os stakeholders”, avalia.
De acordo com 40% dos entrevistados, há uma forte tendência de que a comunicação interna se envolva cada vez mais nas estratégias da companhia. No entanto, para 53% dos gestores ainda há resistências nesse processo, com dificuldades em conciliar as necessidades de ambas as áreas. Uma das possíveis causas para essa dificuldade de integração pode estar na fase em que se encontra a comunicação interna nas empresas. Apenas 20% dos entrevistados consideram como bastante desenvolvidas as atuais competências e habilidades do setor; 58% acreditam que as habilidades estão em desenvolvimento e 20% pouco desenvolvidas.
Além da já citada necessidade de alinhamento com a estratégia empresarial, apontada por 18% dos entrevistados, a adoção de ferramentas de mídias digitais e do papel do líder como influenciador interno são as principais tendências para o setor, de acordo com a pesquisa.
As mídias digitais ganham papel de destaque e aparecem como importante canal de comunicação para o público externo e também como forma de aproximar as organizações dos colaboradores. Esse canal se destaca entre os principais investimentos indicados como primeira opção para o setor. O estudo ainda traz informações sobre a importância do monitoramento da internet e intranet e mensuração das ações no ambiente digital.
Cristina revela que o alto índice de insatisfação dos executivos em relação à comunicação interna não a surpreendeu, pois em sua atividade de consultoria já ouviu muitas queixas. “Considero que essa situação tem origem nos líderes empresariais que não dedicam verba ou tempo ao desenvolvimento da área. Quando tudo vai bem, os executivos raramente dão atenção à comunicação, cujos profissionais são muitas vezes percebidos
como aqueles que fazem o ‘jornalzinho’ ou promovem comemorações. É só em momentos de crise que a comunicação passa a ser considerada como artífice e aliada. Mas a área, repito, tem de estar, seja qual for o momento posicionada estrategicamente e ser empoderada pela liderança. Há necessidade de um duplo esforço para que essa situação evolua: por um lado, maior percepção das lideranças sobre a necessidade de aproximar a comunicação da estratégia das empresas; por outro, um esforço do profissionais de comunicação em formar-se nas disciplinas que orientam a gestão das empresas. A meu ver, esse duplo movimento contribuirá para a formação de líderes e comunicadores plenos”, garante a pesquisadora, indicando o caminho para que o resultado da próxima pesquisa sobre o tema traga números mais positivos.
Como melhorar a comunicação interna nas empresas? Pensando nisso, a equipe dos Nexialistas preparou algumas dicas para você melhorar a comunicação na sua empresa:
1 – O responsável pelos processos de comunicação precisa conhecer
profundamente não apenas as atividades, produtos e serviços da empresa. É preciso estar alinhado à estratégica da companhia em cada material produzido;
2 – Seja fiel aos canais internos de comunicação. Seja um boletim digital enviado por e-mail, um jornal mural ou um podcast, não importa. É preciso que a frequência seja respeitada;
3 – Não é porque se trata de uma comunicação empresarial que ela precisa ser chata! Faça desse canal um ponto de encontro prazeroso entre empresa e colaborador. É possível transmitir a informação de uma forma simples e interessante sem perder a profundidade;
4 – Inove o tempo todo. Crie novas mídias, mude a forma, tenha bom-senso, mas não deixe de ousar sempre;
5 – Provoque a interação entre o seu público e o meio. As pessoas gostam de se ver. Faça comunicações vivas, com fotos atuais das pessoas!;
6 – Esqueça banco de imagem. Essa prática afasta os colaboradores das comunicações pois eles não se sentem representados. A equipe precisa se ver em todos os materiais;
7 – Não tenha medo de perguntar o que você não entendeu! Se você não entendeu, imagine o colaborador! Coloque-se no papel de “tradutor”. A comunicação não aceita nada além da clareza e da objetividade. Para ser simples e direto, é preciso ter informações e entendimento verdadeiro do cenário.
8 – Como eu contaria isto para a minha mãe? Faça esse exercício sempre que tiver algo complexo para comunicar. Tente explicar de um jeito que sua mãe entenderia;
9 – Evite o uso de palavras complicadas, siglas ou expressões que não são comuns para todos. Se for muito prolixo, você perde a conexão com seu público;
10 – Valorize seu trabalho e ele será mais valorizado pelo grupo. Lembre-se de que os maiores problemas das empresas estão relacionados à falta de comunicação. A solução está em suas mãos… Faça acontecer!
*Conteúdo publicado na edição de outubro/2018, da Revista Melhor RH