Gripe “A”, “gripe suína” ou “nova gripe”: qualquer que seja o nome escolhido para designar a infecção transmitida pelo vírus influenza A H1N1, o fato é que ela se tornou rapidamente uma preocupação prioritária para os gestores de recursos humanos de muitas organizações. E quem ainda não pensou no assunto deve se preparar com urgência. Não é o caso de entrar em pânico nem alarmar os colaboradores (afinal, a letalidade é a mesma da gripe comum), mas a pandemia já mostrou que pode prejudicar seriamente a operação das empresas, aumentando o número de faltas ao trabalho e restringindo a atividade de equipes inteiras, além de elevar os gastos com a saúde dos funcionários.
A opinião pública percebeu isso claramente em junho, quando a Vale anunciou uma quarentena para cerca de 90 pessoas, entre funcionários e prestadores de serviço, que trabalham na sede da companhia, no Rio de Janeiro. A medida foi adotada depois que um consultor da mineradora voltou da Argentina com o vírus. O exemplo logo foi seguido pela Natura e pela Serasa, ambas em São Paulo, após detectarem a doença em alguns funcionários.
Uma empresa de comunicação de São Paulo mandou desinfetar diariamente, com álcool, os teclados dos microcomputadores e os aparelhos de telefone. Cada um desses equipamentos é compartilhado por vários funcionários. Também determinou que as janelas da redação fiquem abertas algumas horas por dia, no período da manhã. Por fim, elaborou um plano de contingência, para o caso de o vírus se alastrar pela empresa.
Quando o vírus ainda não circulava no Brasil, a preocupação era com os colaboradores que tinham de viajar para os países onde o contágio já havia se disseminado: EUA, México e Argentina. A Totvs logo tratou de verificar quem havia voltado recentemente do México e recomendar que esses funcionários ficassem em casa por pelo menos uma semana. Agora que o H1N1 transita pelo território nacional, o risco é os empregados passarem a segregar qualquer colega que apareça espirrando.
Prejuízo
A situação não precisa chegar a esse ponto, mas empresas e funcionários têm razões para se preocupar – e se prevenir. A firma britânica FirstCare, que presta serviços de “gerenciamento de ausências”, calculou em 8,6 bilhões de libras esterlinas (cerca de 14,5 bilhões de dólares) o prejuízo que a gripe suína pode trazer para as companhias do Reino Unido só em faltas ao trabalho. Segundo a FirstCare, os empregados infectados com o vírus se ausentam, em média, 4,3 dias, podendo chegar a 8 dias com os pedidos de licença para cuidar de parentes contaminados e a necessidade de afastar por algum tempo o funcionário que teve contato com doentes.
No Brasil, as operadoras de planos de saúde já fazem as contas para estimar o impacto da nova gripe em seus balanços – e em seus próprios funcionários. Temendo o aumento do número de internações graves, preveem o repasse dos custos para o consumidor, o que deve se refletir nas renegociações de contratos do ano que vem. “Cada internação com assistência respiratória integral 24 horas custa entre 10 mil reais e 12 mil reais por dia”, declarou Antonio Jorge Kropf, diretor técnico da Amil, numa entrevista ao jornal Valor Econômico . Os cuidados com a saúde da equipe médica são outra fonte de preocupação, pois estes trabalhadores formam a categoria profissional mais suscetível ao contágio. Pensando nisso, a Unimed Paulistana até preparou um treinamento especial, dado pelos infectologistas.
As empresas dos demais setores também podem adotar medidas específicas para enfrentar a pandemia e proteger suas equipes, dizem os especialistas. “A primeira providência é informar”, afirma Celso Granato, assessor em infectologia do Grupo Fleury Medicina e Saúde. Outra recomendação é orientar os colaboradores a lavar constantemente as mãos e algumas empresas colocaram à disposição o álcool gel – um recurso importante, mas não indispensável, de acordo com os médicos. A lavagem com água e sabão já evita a contaminação. Granato acrescenta que é importante manter os ambientes internos bem arejados, com ar natural pelo maior tempo possível, evitando-se a tendência ao uso indiscriminado dos aparelhos de ar condicionado.
Máscaras
Um cuidado especial deve ser tomado com a tosse e o espirro, tendo sempre à mão lenços de papel ou rolos de papel higiênico para cobrir a boca e o nariz. Além disso, ao tossir ou espirrar a pessoa deve manter uma certa distância de quem estiver à sua volta e evitar movimentos exagerados, lembra Jacyr Pasternak, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “O raio de contaminação é de um metro e meio em torno da pessoa”, explica Pasternak.
O uso de máscaras é um hábito comum em países asiáticos, mas reflete mais a preocupação em não contaminar os outros do que em não se contaminar, esclarece Granato. “Deveríamos incorporar esse costume”, afirma. No entanto, quando se lida com o atendimento ao público, o uso da máscara pode assustar os clientes, lembra Pasternak. Já para o pessoal da área de saúde, a máscara é imprescindível.
Ao orientar os funcionários, as empresas já estarão dando um grande passo para se distanciar do vírus influenza A H1N1. Mas, caso alguém seja infectado, empresa e empregado não devem hesitar diante da necessidade de afastamento. “Muita gente tem medo de se afastar e perder o emprego”, diz o Pasternak. As consequências de se manter em atividade podem ser bem piores, para o doente e para seus colegas. Cada doente da gripe suína tem potencial para transmitir o vírus a duas ou três pessoas, esclarece Granato, do Grupo Fleury. Essa é uma diferença importante em relação à gripe comum, que tem potencial de contaminação de uma ou duas pessoas para cada doente. Com a disseminação mais acelerada, a nova gripe causa danos mais sérios à integridade do quadro de pessoal. Prevenir ainda sai bem mais barato do que remediar.
Passos fundamentais |
Empresa cria manual para auxiliar outras organizações a não deixar que o vírus também contamine os negócios O surto de gripe provocado pelo vírus influenza A H1N1 desperta atenção especial entre as empresas para a necessidade de um planejamento que impeça a disseminação da doença em suas dependências e, ao mesmo tempo, garanta o pleno funcionamento das atividades da companhia. Ciente dessa necessidade, a Ticket Seg, consultoria em gestão integrada de riscos e benefícios corporativos na área de RH, desenvolveu para seus clientes um manual com plano de contingência preventivo, distribuído gratuitamente. A cartilha se aplica a qualquer situação em que o funcionamento da empresa e a saúde dos colaboradores são colocados em risco. O manual descreve as medidas que a empresa deve tomar para assegurar a continuidade de seus processos essenciais de negócio no caso de afastamento de colaboradores ou mesmo interdição do local de trabalho. Seu objetivo é minimizar as condições de propagação da gripe e manter as atividades essenciais em funcionamento, definir uma estrutura de decisão e coordenação na aplicação do plano de contingência e preparar o restabelecimento normal das atividades tão rápido e seguro quanto possível. Marcos Yoshida , diretor-executivo da Ticket Seg, lista, abaixo, cinco dos passos principais na hora de montar um plano de contingência: Nomear uma equipe Identificar/avaliar os processos de cada departamento Identificar riscos e definir cenários possíveis de falha Definir ações necessárias para operacionalização das medidas Critérios de ativação do plano |
Ações da empresa |
> Cuidar para que o ambiente de trabalho seja limpo. No caso de equipamentos que são compartilhados por vários funcionários (telefone, teclado de computador), a limpeza desses materiais deve ser mais frequente; > Ventilar o ambiente, se possível, abrindo as janelas em alguns períodos do dia; > Evitar o uso indiscriminado de ar condicionado; > Incentivar o uso de lenços descartáveis; |
Como se prevenir |
> Ao tossir ou espirrar, cubra boca e nariz com lenço de papel; > Evite contato com pessoas infectadas e objetos de uso pessoal dos doentes; > Evite grandes aglomerações e lugares mal arejados; > Procure um médico ao sentir os primeiros sintomas de gripe, sem se importar se é a gripe suína ou a comum. |